É fácil notar que as pessoas hoje em dia preferem cores neutras. Uma vez que as cores podem dar um boost no nosso humor, por que não virar esse jogo? ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏
Andando pelas ruas de grandes metrópoles pelo mundo, é fácil notar que a maioria das pessoas prefere usar cores neutras. Os carros seguem o mesmo padrão: pretos, brancos e cinzentos dominam. E o que dizer das casas das pessoas? Qual foi a última vez que você entrou em um banheiro de azulejos cor de rosa ou verde-abacate? Nos anos 1950, acredite, isso era comum. Uma vez que as cores podem dar um boost no nosso humor e tornar o mundo mais diverso e interessante, por que não virar esse jogo?
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As cores estão mesmo perdendo espaço. Um estudo feito pelo britânico Science Museum Group analisou mais de 7000 objetos, entre móveis, relógios, objetos de decoração e muitos outros, e observou que tudo está ficando mais cinza, principalmente nos últimos 50 anos. Nos gráficos do estudo, dá para ver como, na medida em que o cinza foi ganhando espaço, tons amarronzados, avermelhados e amarelados foram entrando em declínio. E o principal motivo pra isso é a padronização mercadológica. Em escala industrial, fica mais complicado trabalhar com muitas cores diferentes. O lançamento dos smartphones, em 2007, ajudou a reforçar essa tendência. Apostando nas cores neutras, como cinza e preto, os celulares ditaram a tendência não só na indústria tecnológica, mas em toda a área do design
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E é só observar a natureza pra entender que o nosso “natural” é colorido, e que um mundo mais pálido pode indicar menos vitalidade. Uma pesquisa de 2015 da University of Rochester, em Nova York, aliás, mostrou que quem está muito triste pode ter a percepção alterada e ver menos cores ao redor. Nos animais, a presença de cores pode ser sinal de bem-estar: a intensidade das cores e dos ornamentos da plumagem dos pássaros estão relacionadas com a qualidade das condições do ambiente em que vivem. Não é de se impressionar, então, que as mudanças climáticas estejam fazendo alguns pássaros perderem as cores. “Se as cores ajudam a contar histórias, as vibrantes ajudam a representar efervescência e diferenciação. Não é à toa que uma das tendências de moda mais marcantes surgidas no pós-pandemia foi o ‘dopamine dressing’, que parte da ideia de vestir cores intensas pra auxiliar na sensação de bem-estar”, escreveu o consultor de sustentabilidade André Carvalhal.
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Não há consenso científico sobre o efeito exato de cada cor na psique humana, mas a relação delas com nossos humores, sensações e reações é estudada há centenas de anos e já foi explorada por psicólogos, filósofos, artistas, arquitetos, estilistas e publicitários. Um estudo bem abrangente de 2020 feito por uma universidade alemã com pessoas de 30 países revelou um consenso global significativo na relação das cores com as emoções. Apesar disso, também houve peculiaridades culturais e até geográficas: na China, o branco foi mais associado à tristeza, possivelmente porque a cor é comumente usada em funerais no país. E o amarelo tendeu a estar mais ligado à alegria em países que veem menos luz solar. “Há exceções, mas é muito raro, por exemplo, alguém dizer que laranja traz desânimo — ela é normalmente associada a senso de humor, motivação — ou remeter azul a tensão — é uma cor que costuma trazer aconchego, paz, afeto” explica a arteterapeuta Myrian Romero, que trabalha há 30 anos com o tema, em entrevista à Gama Revista. As associações feitas a partir das cores também variam de acordo com a forma com que elas estão combinadas entre si e com a intensidade e o tom.
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No livro Psicologia das Cores: Como as Cores Afetam a Razão e a Emoção, a alemã Eva Heller, tida como referência no tema, aponta o cinza majoritariamente como a cor das emoções sombrias, ligada ao que é inerte, vazio, solitário e hostil, e faz relações diversas com isso — o carnaval que termina na quarta-feira de cinzas, as cinzas que sobram da morte, o humor triste geralmente associado a dias cinzas. Isso corrobora com teorias de profissionais de áreas como a neuroarquitetura (que estuda como o ambiente impacta o cérebro), de que o cinza, que tem sido cada vez mais presente na vida dos seres humanos urbanos, é uma cor “baixo-astral”. Será, aliás, que estamos mais tristes porque estamos usando mais cinza ou estamos mais tristes e, por isso, usando mais cinza? E será que isso também não tem a ver com a degradação ambiental e a nossa separação cada vez maior de ambientes naturais? De qualquer jeito, fica aí um campo aberto pra experimentar e ver o que acontece ao injetar mais cores em casa, no guarda-roupa, no prato e na vida no geral.
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Pra saber mais e se inspirar:
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