Além de fazer mal pra saúde, novas pesquisas mostram que alimentos ultraprocessados podem ter poder aditivo. ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏
Tem sempre aquele dia — pra alguns com mais, outros com menos frequência — que bate aquela vontade de comer uma batatinha frita, uma pizza ou o hambúrguer do fast food favorito. E é bem possível que quanto mais você coma, mais sinta vontade. Mas já reparou que a mesma coisa não acontece — ou acontece muito raramente — com tomates? Ou com couve-flor?
Novos estudos mostram que, além de baratos, convenientes, tentadores e promovidos à exaustão pela indústria, os alimentos ultraprocessados podem ser viciantes. Ou seja, a tendência é que você coma cada vez mais, e em maior frequência, esses produtos, que já foram comprovadamente associados a doenças cardíacas, diabetes tipo 2, obesidade e vários outros problemas de saúde.
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O termo ultraprocessado foi criado em 2009 aqui em solo brasileiro, por cientistas do Núcleo de Pesquisas em Nutrição e Saúde da USP. Antes da NOVA — como ficou conhecida essa forma de classificação –, os alimentos eram separados com base em seu conteúdo nutricional e não interessava a maneira como eram produzidos. Um filé de frango e uma salsicha, por exemplo, entravam no mesmo nicho: o de proteína.
Basicamente, um alimento ultraprocessado é uma comida industrializada que combina grandes quantidades de açúcar, sal, óleos e gorduras, um isolado proteico (normalmente a soja) e aditivos cosméticos que melhoram cor, aroma e sabor. Uma equação calculada pra deixar esses produtos praticamente irresistíveis. “Os alimentos ultraprocessados são muito mais uma formulação de ingredientes, a maioria de uso industrial, do que propriamente um alimento”, disse o doutor Carlos Augusto Monteiro, coordenador do núcleo de pesquisas que cunhou o termo, ao podcast Prato Cheio.
É importante pontuar que os ultraprocessados foram criados na Segunda Guerra Mundial, com o intuito de saciar a fome dos soldados e fornecer uma quantidade de energia suficiente pra que eles cumprissem suas funções. No entanto, as multinacionais viram nesses produtos uma oportunidade boa pra, gastando pouco com matéria prima, ganhar muita grana.
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Em um estudo com mais de 500 pessoas, pesquisadores da Universidade de Yale descobriram que certos alimentos são especialmente propensos a provocar comportamentos “viciantes”, como desejos intensos, perda de controle e incapacidade de reduzir ou parar, apesar da consciência sobre as consequências nocivas do consumo.
Na escala de adição alimentar desenvolvida em Yale, os campeões são os produtos ultraprocessados que contêm grandes quantidades de gordura e carboidratos refinados, uma combinação potente que não existe na natureza, como pizza, chocolate, batatas fritas, biscoitos e sorvete. “É esse subconjunto de alimentos altamente processados que são projetados de maneira muito semelhante à forma como criamos outras substâncias viciantes”, diz Dr. Gearhardt, diretor do laboratório de Ciência e Tratamento de Alimentos e Vícios da Universidade de Michigan, ao New York Times.
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Pobres em componentes que retardam a absorção pelo organismo — como fibras e proteínas —, os alimentos refinados e processados são rapidamente absorvidos pela corrente sanguínea, aumentando sua capacidade de estimular as regiões do cérebro que regulam o sistema de recompensa. O mesmo processo desencadeado por drogas como o cigarro e a cocaína.
Outro estudo também mostrou que, ao reduzir o consumo de produtos altamente processados, algumas pessoas experimentam sintomas comparáveis à abstinência de drogas, como irritabilidade, fadiga, sentimentos de tristeza e desejos. Além disso, pesquisadores descobriram em estudos de imagens cerebrais que é possível desenvolver uma tolerância às comidas ultraprocessadas ao longo do tempo, o que leva a comer quantidades cada vez maiores pra obter a mesma sensação de prazer.
Apesar das similaridades, o Dr. Gearhardt lembra que além de não causar nenhuma brisa instantânea, os ultraprocessados não têm uma única substância viciante, como a nicotina ou o álcool. O vício fica por conta da mistura química criada pra que esse produtos se tornem agradáveis e pela propagação e comercialização excessiva de milhares de alimentos.
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Se isso é algo importante pra você, não precisa parar de comer aquela batatinha frita de vez em quando, ou nunca mais ir naquele fast-food. Até porque, a gente sabe que dietas restritivas podem facilmente se transformar em transtornos alimentares.
Mas, pra quem quer consumir menos produtos ultraprocessados, um primeiro passo importante é descobrir quais deles você consome frequentemente. Dessa forma, rola pensar em ter alternativas mais saudáveis na geladeira e definir dias específicos pra fazer refeições com um número maior de industrializados. Também vale fazer trocas simples, como comer um hambúrguer artesanal ao invés do fast food, e entender se o consumo exagerado desses alimentos está ligado a algum gatilho emocional, como stress, ansiedade ou tédio.
Outra dica bem prática é o Desrotulando, disponível tanto pra Android quanto pra IOS. Com o app, é possível escanear o código de barras de grande parte dos alimentos encontrados no mercado, tendo acesso não só à sua tabela nutricional, como uma nota de 0 a 100 – que leva em conta o quanto seus ingredientes são saudáveis.
Bora sair do automático na hora de comer?
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