A sociedade nos empurra a sermos mais ricos, mais sarados, mais bem sucedidos... O que há de mal em estar na média? ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏
Ninguém é perfeito. Todo mundo já repetiu essa frase pelo menos uma vez. Mas isso não impede de, no dia-a-dia, tentarmos buscar um ideal inalcançável de perfeição em vários âmbitos da nossa vida: profissional, amorosa, física, financeira. Querer brilhar e se esforçar pra isso não tem nada de errado, claro. Porém, o esforço constante de superação pode trazer frustração e, em casos extremos, surtir o efeito contrário, paralisante — ex: deixar de empreender por nunca achar que sua ideia é suficientemente boa.
Segundo escreveu o psicanalista, escritor e professor da Universidade de Londres Josh Cohen em matéria para a The Economist, o perfeccionismo é um elemento persistente e profundamente enraizado da condição humana – aparecendo inclusive em várias religiões. No entanto, nos últimos anos, vários fatores fizeram com que a busca por um padrão inalcançável tomasse uma parte ainda maior da nossa vida.
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Em um artigo de 2017, os psicólogos britânicos Thomas Curran e Andrew Hill atribuíram o aumento exponencial do perfeccionismo entre a geração mais jovem aos “parâmetros sociais e econômicos cada vez mais exigentes”. De fato, em um mercado de trabalho superlotado como o atual, existe a sensação de que é preciso cada vez mais esforço pra se destacar entre os outros “competidores” e, assim, conseguir uma boa carreira profissional, um lugar pra viver e outras metas básicas ou não — normalmente repetidas pelos pais a vida inteira e que se tornam uma autocobrança dura e rotineira.
Indo de encontro com a ideia de Curran e Andrew, no livro A Tirania do Mérito, o filósofo Michael J. Sandel argumenta que o capitalismo meritocrático — sociedade na qual se acredita que o critério para a distribuição de recursos é a aptidão individual — criou um estado permanente de competição que corrói a solidariedade e a noção de bem comum. Esse sistema sustenta uma ordem de vencedores e perdedores, gerando arrogância e autocongratulação entre os primeiros e uma autoestima cronicamente baixa entre os demais.
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Feed perfeito, vida perfeita
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As redes sociais, ambiente em que a maioria das pessoas se sentem pressionadas a construir uma imagem pública perfeita, também são grandes potencializadoras desse perfeccionismo excessivo e sentimento de insatisfação com o que se tem e o que se é. A promoção que aquele amigo da faculdade conseguiu recentemente, o apartamento que o primo comprou, o corpo perfeito daquela influencer. Acompanhamos de “perto” essas conquistas que facilmente se tornam parâmetros e, se não são atingidos, trazem sentimentos de inveja, inadequação e vergonha.
Além disso, quando se atinge milhares de curtidas ou reposts, é comum ser inundado por um sentimento repentino de alegria e realização por ser visto e ouvido. “Décadas atrás, o perfeccionista estava sob pressão pra se parecer com todo mundo. Os perfeccionistas de hoje, ao contrário, sentem-se na obrigação de se destacar por meio de seu estilo idiossincrático e sagacidade pra ganhar uma posição segura na economia da atenção”, diz Cohen em seu artigo para The Economist.
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Clinicamente, o perfeccionismo é escorregadio e se adapta muito bem. Dependendo da pessoa e de suas vulnerabilidades, o esforço excessivo pra atingir a perfeição pode desembocar em vários sintomas: depressão e ansiedade, perturbações obsessivas, narcisismo do tipo “pele fina” (quando uma grandiosidade projetada esconde uma fragilidade intensa), doença psicossomática, pensamentos suicidas, dismorfia corporal e perturbações alimentares. Talvez por isso nunca tenha sido classificado como um transtorno mental, e sim como um traço de personalidade associado a comportamentos compulsivos.
Também existe a discussão se o perfeccionismo pode não ser patológico e, consequentemente, usado de forma positiva. Em 1978, D. E. Hamachek, um psicólogo americano, separou o perfeccionismo entre normal e neurótico. Pra ele, o primeiro poderia estabelecer altos padrões a si mesmo sem cair na autocrítica punitiva. No entanto, a maioria dos pesquisadores questionam a distinção, argumentando que o desejo intenso de ser perfeito nunca pode ser “normal”, já que é impossível de ser atingido.
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Talvez o grande desafio seja como tentar ser uma pessoa e um profissional melhor deixando pra trás a meta irreal de que, um dia, o pedestal mais alto será alcançado. Afinal, como disse a psicoterapeuta Moya Sarner, “se você está sempre tentando fazer da sua vida o que você quer que seja, não está realmente vivendo a vida que tem”.
Ao invés de fazer várias horas extras tentando mostrar pro seu chefe que você almeja a perfeição, que tal sair no horário, dar uma volta, começar a praticar um esporte novo ou aproveitar esse tempo com quem você ama? E se, ao invés de ficar pensando, pensando e pensando naquele projeto, você colocasse ele em prática, mesmo que ainda não pareça 100% pronto?
O perfeccionismo pode até parecer uma ferramenta eficiente pra obter o sucesso. No entanto, é um impulso que pode vir atrelado à convicção de que você é um fracassado quando desiste de se tornar “a melhor versão de si mesmo”. Em muitos casos, no entanto, o caminho pra uma vida mais solar pode estar justamente aí.
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