Fácil não é, mas encarar o problema de frente pode ser um bom começo. ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏
Você aí, já sentiu sua dose de culpa hoje? Por trabalhar de mais ou de menos. Por estar bem enquanto o mundo está mal. Por estar mal sendo que tem gente pior. Por chegar tarde ou por viver correndo. Por não ser uma mãe perfeita. Por ser uma filha desatenta. Às vezes rola até uma "meta-culpa" — ou seja, quando nos sentimos culpados por sentir culpa. Por mais sutil que seja, a culpa é uma emoção penetrante que muitos de nós experimentamos diariamente. De forma simplificada, ela é o sentimento de angústia que nos dá aquele abraço de urso quando achamos que fizemos alguma coisa errada ou que não estamos à altura das nossas próprias expectativas e do que os outros esperam de nós. Mas será que dá pra lidar de forma mais saudável com esse sentimento?
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A culpa pode não ser um sentimento agradável, mas é fundamental pra que a gente consiga viver em sociedade. Segundo o Dr. Willard Gaylin, psiquiatra e pesquisador que é um dos pioneiros da bioética (ciência que trata de questões morais relacionadas à vida), a culpa funciona como uma bússola moral funcional, que impõe limites e impede a repetição de atos considerados negativos — uma “guardiã da nossa bondade”. Essa emoção também empurra as pessoas a se manterem conectadas com seus semelhantes, aguçando a empatia e a solidariedade. Não à toa, a incapacidade de sentir culpa é uma das características elementares do psicopata.
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Inclusive, grande parte dos pesquisadores afirma que a culpa é um sentimento exclusivamente humano. De acordo com um estudo feito pela cientista cognitiva Alexandra Horowitz, da Barnard College, da Universidade de Columbia, EUA, quando os animais de estimação colocam o rabo entre as pernas e lançam aquele olhar de dó, por exemplo, eles estão sentindo medo, e não culpa. Por isso, quando a ameaça de alguma punição desaparece, o sentimento vai junto.
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Por outro lado, a culpa pode se tornar uma emoção difusa e não construtiva, que surge do além nos momentos mais aleatórios. Se não for gerenciada, ela nos paralisa e faz com que desperdicemos uma energia valiosa, resultando inclusive em uma série de manifestações físicas, como ansiedade e insônia. Essa culpa exagerada costuma surgir de uma mistura entre imposições pessoais — que têm como base uma busca pelo perfeccionismo — e julgamentos sociais. É por isso que essa “roleta-russa” costuma atingir em cheio as mulheres, especialmente as que são mães. Afinal, conciliar todas as tarefas diárias com os cuidados de alguém que depende de você pra sobreviver, é MUITO difícil. Adicione a essa mistura as pessoas, que se sentem livres pra julgar a cada decisão: se volta a trabalhar, se para de trabalhar, se cuida de si mesma, se deixa a vaidade de lado, e por aí vai.
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É preciso pontuar, também, que algumas pessoas, mesmo inconscientemente, preferem prolongar a culpa, ao invés de eliminá-la de vez com atitudes. Por isso, vale sempre ponderar a situação que você está vivendo, com sinceridade.
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Na sociedade capitalista, a culpa por não estar produzindo tanto quanto “deveríamos” é epidêmica. Ao ouvir lemas como “trabalhem enquanto eles dormem” e “foguete não dá ré”, concluímos que nossos sucessos ou fracassos se devem totalmente às nossas próprias ações — ou à falta delas. As redes sociais ainda turbinam essa realidade, aumentando a comparação com as pessoas à nossa volta. Com essa mentalidade, mesmo sabendo que não há problema em descansar e não fazer nada de vez em quando — inclusive, isso nos trás inúmeros benefícios físicos e psicológicos —, chegamos ao absurdo de sentir remorso por tirar uma licença médica, por sair de férias ou por ir embora do trabalho na hora combinada. Mas não para por aí. Ao mesmo tempo que nos cobramos muito no âmbito profissional, queremos ter sucesso em outras frentes da vida: social, familiar, saúde, aparência. Ou seja, se as conquistas no trabalho estão a todo vapor, nos sentimos culpados por não estarmos muito em casa com os filhos — ou até com nossos bichos de estimação. O fim de semana é curto, então dificilmente vai dar pra descansar, passar tempo de qualidade com a família, se exercitar e arrumar a casa. Ah, e os amigos! Quem nunca sentiu aquela culpa de deixar um tanto de gente querida no vácuo no WhatsApp?
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A real é que a sua culpa não ajuda ninguém — apenas acrescenta mais uma camada de sofrimento à situação e ao mundo. Sem esse “peso”, podemos ser mais produtivos e proativos na tentativa de aliviar o sofrimento dos outros. Por isso, quando a culpa vier, investigue sua origem. Se ela fizer sentido, tente resolver a situação que o aflige, seja pedindo desculpas, seja tomando medidas pra que ela não aconteça novamente. Agora, se você perceber que esse sentimento é crônico, buscar entender o porquê de sentir tanta culpa é fundamental pra sanar o problema — uma terapia vai muito bem nessa hora! Em um artigo pra Harvard Business Review, Marijn Wiersma, Chantal Korteweg, Lidewij Wiersma e Tessel Van Willigen, quatro mulheres com carreiras incríveis em diferentes áreas profissionais, dão dicas bem legais de como lidar de forma mais saudável com a culpa:
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No mais, é importante tentar criar pessoas menos cronicamente culpadas. Mostrar que é inevitável cometer erros — o importante é a forma que você lida com eles —; não incentivar a perfeição a todo custo, especialmente para as mulheres; e naturalizar a vulnerabilidade são bons começos.
Lembre-se: descansar e não fazer nada é essencial. Sem essa culpa que paralisa, a gente vai mais longe.
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Pra ouvir 🎧 • mãeana canta JG, projeto onde a cantora mistura os repertórios de João Gomes e João Gilberto. Já são quatro faixas disponíveis. Pra ver 👀 • A terceira e última temporada de How To With John Wilson, série onde o documentarista anda pelas ruas de Nova York refletindo sobre assuntos banais e ao mesmo tempo profundos.
• No site Web Design Museum, é possível acompanhar a evolução digital do Google, Twitter, McDonalds e outras inúmeras marcas ao longo dos anos.
Pra ler 📖 • As Pequenas Doenças da Eternidade: Contos, livro onde Mia Couto fala dos grandes males que assombram a sociedade, indo da finitude às guerras. Pra seguir 📲 • No perfil @nicoleo_, você encontra registros belíssimos e sensíveis da vida sob o sol italiano. Quer mais dicas culturais? Entre para o TSH Club, nossa comunidade no WhatsApp.
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