Em uma vida cada vez mais digital, o que temos no mundo físico ganha um status especial. ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏
À medida que novos recursos tecnológicos digitais passaram a fazer parte de nossa vida, o fim de vários objetos físicos foi sendo previsto e anunciado: livros de papel, revistas impressas, fotos reveladas, agendas, discos, rádios… Alguns desses mercados realmente perderam força. Mas a maioria não está nem perto de desaparecer e outros voltaram com tudo entre as novas gerações, assumindo status de itens cool, a exemplos dos vinis e das câmeras analógicas. Aqui, a gente reflete sobre o prazer — e o poder — das coisas palpáveis.
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É comum que, no início, a gente fique com um pé atrás ou torça o nariz pra algumas modernidades trazidas pela tecnologia — como está rolando agora com a inteligência artificial. Essa resistência ao novo costuma se intensificar quando, a essa mistura, é adicionado o poder do hábito: pegar toda manhã o jornal de papel pra ler enquanto toma uma xícara de café, escrever o que precisa fazer diariamente no caderninho que fica no escritório etc. Mas esse está longe de ser o único motivo pelo qual ainda abraçamos os objetos. Dado que uma série de coisas já podem ser substituídas por bytes em alguma nuvem, o que decidimos manter fisicamente na nossa casa — especialmente se ela for um apartamento de 20 e poucos metros quadrados ou um motorhome — se torna ainda mais especial. Esses objetos passam a dizer muito sobre quem somos e servem, também, pra serem compartilhados, estreitar laços e trocar ideias. Professor de psicologia na Claremont Graduate University, na Califórnia, EUA, Mihaly Csikszentmihalyi explica ao The Atlantic que existem dois tipos de materialismo: o materialismo terminal, superficial e vazio, ligado à ostentação e ao acúmulo de coisas; e o que ele chama de materialismo instrumental, no qual um objeto se torna importante pelo seu significado.
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Segundo a psicologia, valorizamos as coisas que possuímos, em grande parte, porque as vemos como uma extensão de nós mesmos, e pelo senso de propriedade que exercemos sobre elas. Ambos os sentimentos afloram de forma mais natural com bens físicos do que digitais. Um artigo publicado no Journal of Consumer Research reuniu vários estudos que vão ao encontro dessas ideias. Um deles apontou que as pessoas estão dispostas a pagar mais caro por coisas físicas, como livros e fotos impressas, não porque acham que o custo de produção é mais alto, mas porque sentem que são mais “seus”. Estudos posteriores também comprovaram que a vontade de ter algo em sua forma física está diretamente ligada à intensidade da conexão pessoal com determinado assunto. Por exemplo: alguém que venera a Beyoncé vai valorizar muito mais ter os DVDs dos shows da cantora do que quem curte suas músicas, mas não tem uma relação tão intensa. Pro fã raiz, ver os vídeos no YouTube não basta.
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Meus livros, meu refúgio
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Apesar do mercado editorial ainda ser predominantemente sustentado por livros impressos — 77,4%, segundo dados da Pesquisa Global de Entretenimento e Mídia 2022-2026 —, muito mais gente vem consumindo livros on-line e descobrindo seus benefícios: preço mais em conta, praticidade na hora da compra, não sair por aí carregando tanto peso. Em contrapartida, pesquisas e especialistas também defendem a importância dos livros físicos. O hábito da leitura offline descansa os olhos de tanta tela e favorece a concentração. A própria ritualística em torno do livro de papel — e em certos tipos de e-readers — dita um outro ritmo. Podemos anotar, grifar. Ao virar uma página, temos um momento pra respirar e processar informações. Além disso, em tempos de hiperconexão, ler um livro físico ganha quase a conotação de escapada: nos lembra da delícia de focar em uma coisa só, em silêncio. Segundo a pesquisadora Maryanne Wolf, autora do livro O cérebro no mundo digital: Os desafios da leitura na nossa era, o hábito de ler superficialmente múltiplos textos e postagens on-line também pode estar dilapidando nossa capacidade de entender argumentos complexos, de fazer uma análise crítica do que lemos e até mesmo de criar empatia por pontos de vista diferentes do nosso.
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Níveis de intensidade a mais
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Muitas coisas físicas se tornaram mais significativas com o surgimento de suas versões digitais. Um bom exemplo são as cartas e bilhetes — aliás, você se lembra da última vez que escreveu algo à mão pra alguém? Massacrada pelo e-mail e, depois, pelos apps de mensagens, essa forma de comunicação hoje em dia tem peso e densidade. Expressar o que você sente por alguém através do papel e da caneta vale por 24 horas de áudios de WhatsApp. As fotos impressas seguem a mesma linha. Pra quem nasceu antes da fotografia digital, os bons momentos eram resumidos em 12, 24 ou 36 cliques. E era isso. Hoje em dia, entre os 200 milhões de imagens que vagam pelas nuvens digitais, escolher uma pra imprimir é embarcar na saga de responder: o que importa pra você?
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A volta dos que nunca foram
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Muitos objetos físicos também voltam — principalmente entre os jovens — como algo cool. Talvez o principal exemplo seja o vinil, que em 2022 teve aumento nas vendas pelo 16º ano consecutivo. O chiado da agulha, a “bolacha”, a ordem na qual as músicas foram pensadas pra serem ouvidas: tudo isso ganha uma aura mágica na era do streaming. As câmeras analógicas são outro case. Em uma época de imediatismo e fotos cheias de filtros, um clique único e que demora dias pra revelar seu resultado tem muito valor. Ou seja, em ambos os casos, o que mais vale é a experiência. Recentemente, a Gen Z também trouxe de volta tendências que marcaram os anos 2000, e junto vieram vários objetos: flip phones, câmeras digitais e até iPods. Uma explicação pra essa retomada é a nostalgia dos novos adultos, que viveram momentos felizes com esses itens na infância e na adolescência, e buscam agora doses de conforto emocional.
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Mas e a galera que não viveu o auge desses objetos, e hoje curte? Nesse caso, a principal explicação é a tentativa de fuga da hiperconectividade. Pra uma geração que nasceu imersa no ambiente digital, ouvir música, ler ou tirar fotos sem outros milhares de estímulos, pode ser um sonho. Uma saudade do que não viveram.
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Pra ver 👀 • A série Gotas Divinas, da Apple TV+. Adaptação do mangá The Drops of God, mistura o requintado mundo dos vinhos com uma disputa familiar digna de Succession. Pra ler 📖 • As pequenas chances, livro onde Natalia Timerman ficcionaliza a morte do pai e cria um retrato tanto poderoso quanto belíssimo do luto e do amor. A matéria Como o Hip-Hop conquistou o mundo, feita em homenagem aos 50 anos do gênero musical mais ouvido no planeta. (Em inglês) Pra ouvir 🎧 • O novo álbum do FBC O Amor, o Perdão e a Tecnologia Irão nos Levar para Outro Planeta, onde o rapper mineiro se joga na disco music. Pra seguir 📲 • Os vídeos da russa radicada em Portugal Valeriya Gogunskaya misturam dança, longboard e paisagens incríveis. Quer mais dicas culturais? Entre para o TSH Club, nossa comunidade no WhatsApp.
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