A importância — e a delícia! — de cultivar relações de afeto intergeracionais. ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏
Desde crianças, nos acostumamos a conviver com pessoas da nossa idade, sobretudo por causa da escola. E, muitas vezes, seguimos nesse piloto automático. Um estudo feito pelo Snapchat, por exemplo, determinou que a idade média em que conhecemos nossos melhores amigos é de 21 anos — quando normalmente ainda estamos nos dedicando aos estudos. Após essa fase, trabalho, relacionamentos amorosos e, em muitos casos, filhos vão ocupando a agenda numa proporção cada vez maior, fazendo com que o tempo pra construir amizades novas fique escasso e os relacionamentos existentes sejam priorizados. Toda essa estrutura costuma fazer com que a gente deixe de aproveitar as oportunidades que surgem, ao longo da vida, de interagir e criar afetos com pessoas de outras gerações fora da nossa família — o que é uma pena.
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Em uma pesquisa da Associação Americana de Aposentados dos EUA (AARP, na sigla em inglês) feita com pessoas de diferentes faixas etárias, 37% disseram ter um amigo próximo que é pelo menos 15 anos mais novo ou mais velho do que elas. Dessas, mais de 90% afirmaram que esses relacionamentos proporcionavam benefícios e conexões que suas amizades da mesma idade não conseguiam oferecer. Um dos grandes pilares de uma amizade próxima e duradoura é a troca de experiências. Quando falamos de relações entre pessoas de faixas etárias diferentes, ambos os lados podem desenvolver novos olhares sobre o mundo e ter outras perspectivas dos acontecimentos do cotidiano. Aqui, listamos outros motivos pelos quais amizades intergeracionais são tão importantes:
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De acordo com o IBGE, 11,8 milhões de pessoas vivem sozinhas no Brasil, das quais 41,8% são idosas (60 anos ou mais). Isso não significa, obviamente, que todos os idosos que moram sozinhos o fazem por falta de opção ou desamparo. No entanto, é inegável que, à medida que envelhecemos, a vida social tende a se restringir e o isolamento se torna a realidade para muitos. Uma pesquisa recentemente divulgada pela Unicamp revelou que um terço dos idosos brasileiros apresenta sintomas depressivos e 16% sentem-se solitários. Nos EUA, em um estudo de 2021 do Survey Center on American Life, quase um terço dos idosos afirmou não ter feito novas amizades nos últimos cinco anos. As relações intergeracionais funcionam como um antídoto contra o isolamento involuntário. Quem sabe você não tem algum vizinho ou conhecido que passa a maior parte do tempo sozinho e que gostaria de tomar um café ou ter uma conversa por telefone?
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Segundo estudos recentes da Universidade de Stanford, na Califórnia, idosos podem dar aos jovens um tipo de atenção e orientação que eles, muitas vezes, não tiveram em casa, especialmente entre as populações mais vulneráveis. Ao mesmo tempo, as pessoas mais velhas podem se beneficiar aprendendo sobre novas tecnologias ou experimentando a sensação de ver o mundo através de uma perspectiva mais jovem.
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Muitas vezes, nem percebemos que estamos propagando o etarismo — o preconceito relacionado à idade. Isso porque ele pode se manifestar de maneiras sutis. Exemplos? Duvidar das capacidades de pessoas idosas ou tratá-las de forma infantilizada. Ao convivermos com pessoas de faixas etárias mais avançadas, podemos entender como esse tipo de atitude impacta em suas vidas, a maneira como elas desejam ser tratadas e quais mudanças devemos buscar pra construir uma sociedade com menos preconceito e mais respeito.
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Outras pesquisas da Universidade de Stanford revelaram que, à medida que as pessoas envelhecem, seus cérebros se aprimoram em diversos aspectos. Bons exemplos disso são a capacidade de resolver problemas complexos e a habilidade de lidar com questões emocionais. Portanto, não há ninguém melhor para aconselhar um jovem com a mente repleta de confusões e conflitos. Muitas mães também se sentem acolhidas ao conversar com outras mulheres que já experienciaram as diversas fases da maternidade."
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Um relatório de 2021 da Generations United, uma ONG que promove políticas pra conectar gerações nos EUA, indica que os adultos mais velhos que participam de programas intergeracionais podem experimentar uma redução nas quedas e na sensação de fragilidade, visto que percebem um aumento na força e no equilíbrio.
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Na correria do dia a dia, pode ser difícil passar tempo de qualidade e dar atenção aos amigos — ou seja, conversar sem ficar olhando as mensagens de trabalho que chegam no celular ou ouvir os áudios do WhatsApp na velocidade normal. No entanto, isso costuma acontecer menos com pessoas mais velhas, que não estão tão imersas na tecnologia e muitas vezes possuem rotinas mais calmas. Além de fazer você se sentir mais ouvido e valorizado, essas relações ajudam a lembrar de desacelerar e reservar tempo pra viver momentos especiais com as pessoas amadas.
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Mas não se trata apenas de uma relação de troca de benefícios. Amizades entre pessoas de gerações diferentes são extremamente divertidas, além de uma ótima oportunidade pra sair da mesmice dos assuntos de sempre. Também podem ser um canal pra conhecer livros, músicas e filmes de outros tempos e entender o que está acontecendo no mundo fora da sua bolha. Rola também de encontrar alguém que tem tudo a ver com você, exceto a idade. Pra trazer uma história pessoal, em 2019 conheci a Lúcia. Aos 65 anos, ela fazia natação na raia ao lado. Entre uma braçada e outra, começamos a conversar e eu levei aquela chacoalhada da vida: Lúcia tinha muito mais a ver comigo do que com a minha minha mãe — como eu, preconceituosamente, julguei. Na época, eu era vegetariana. Ela tinha sido por mais de dez anos. Igual a mim, Lúcia adorava ir a exposições e ao Sesc. Igual a ela, eu gostava de ler clássicos brasileiros e meditar. Trocamos números e ficamos amigas. A pandemia veio, paramos a natação e Lúcia foi morar um pouco mais longe. Mesmo assim, ela é uma das únicas pessoas com quem converso toda semana, e uma das amizades que mais me faz enxergar a vida de forma solar.
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Segundo a pesquisa da AARP citada anteriormente, as maneiras mais comuns de conhecer pessoas de outras idades são no trabalho, na vizinhança e em encontros religiosos. No entanto, o que verdadeiramente importa é estar aberto e se dedicar. Afinal, construir uma nova amizade envolve criar intimidade, e isso leva tempo. Se você tem filhos, pode ser legal, desde a infância, mostrar que é possível fazer amizades com pessoas de diferentes idades. Explicar que seus amigos também podem ser amigos deles, e não apenas "tios" legais que estão ali somente para cuidar, por exemplo. Para os adultos, ter amizades com crianças e adolescentes também pode ser incrível: os mais novos costumam nos lembrar de levar a vida com mais leveza e criatividade, sem se preocupar tanto com o julgamento alheio.
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Pra ver 👀 • Parte do acervo do desenhista, chargista, tradutor, escritor e dramaturgo Millôr Fernandes está agora disponível no site do Instituto Moreira Salles. Pra ler 📖 • A edição ampliada e atualizada de Primavera nos Dentes: a História do Secos e Molhados, biografia do grupo que se tornou um marco da MPB. Pra ouvir 🎧 • A histórica e mais abrangente entrevista com Clarice Lispector, que resgata o lado falante e descontraído da escritora. • O PCDPOD, podcast “onde as deficiências se encontram para normalizar a vida e o convívio na sociedade”. Apresentado por Benedita Casé e Pedro Henrique França. Pra seguir 📲 • Em seu perfil no Instagram, o produtor musical Jarred Jermaine revela a origem de samples que você provavelmente nem sabia que eram samples. Quer mais dicas culturais? Entre para o TSH Club, nossa comunidade no WhatsApp.
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