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Feito à mão: quem são os novíssimos artesãos do couro no Brasil

Por
Fabiana Corrêa
Em
21 setembro, 2018

Com o resgate atual de antigos fazeres, uma leva de designers vem produzindo acessórios em couro em estilos bem diferentes

De pão a motocicletas, fazer à mão está na moda. E os acessórios em couro também entram nessa onda. Esses designers, cada um com seu estilo, criam acessórios por meio de processos artesanais, fabricam em pequena escala e vêem sustentabilidade nisso, apesar da onda crescente de consumidores que rejeitam produtos de origem animal. “O couro ainda é o material mais durável que temos no mercado nacional”, diz Julia Sentelha, da marca de bolsas femininas Arteria. Aqui, uma seleção de criadores que vêm fazendo peças que engrossam a onda do feito à mão – e são bonitas de se ver.

Raquel Takamoto em seu ateliê | Foto: Divulgação

Ilhós

Quando terminou seu curso de arquitetura, Raquel Takamoto sentiu que o mercado não estava muito receptivo para recém-formados em sua área. Resolveu, então, se voltar para os trabalhos manuais, algo que sempre curtiu. Nessa, começou os acessórios em couro que hoje levam sua marca, a Ilhós. “Encontrei uma loja que vendia retalhos de couro e resolvi experimentar”, conta. As peças da Ilhós, bolsas, mochilas e carteiras, se destacam por serem levíssimas – e o esquema é totalmente artesanal. É a própria designer quem compra a matéria-prima, corta o couro e monta as bolsas. “Invisto em peças únicas, mesmo porque uso cada sobra de couro e vou inventando o que dá pra fazer com aquilo”, conta. No ano passado, fez uma parceria com a grife de roupas D-Aura Brand e desenhou as peças para o desfile da marca. Dá pra encontrar as coisas da Ilhós na Galeria Nacional e na D.A.M.N. Project.


Gustavo Oliveira, dono da Cutterman | Foto: Divulgação

Cutterman

O publicitário Gustavo Oliveira uniu, ao criar sua marca, algumas vontades antigas. Primeiro, não queria mais gastar energia trabalhando para marcas alheias. Depois, sentia dificuldade em encontrar grifes nacionais que tivessem a ver com seu estilo. Por fim, sempre curtiu coisas feitas à mão. A Cutterman faz peças em couro rústico e se inspira imagens do universo masculino, como as viagens de aventura de moto, hobby do fundador, e por isso cria muita coisa voltada para esse público aventureiro. São carteiras, porta-cartões, mochilas. Da parceria feita com o bar e (e marca de bebidas) Apothek, saiu um alforje para carregar uma pequena garrafa de destilado. “Já colei e costurei muito produto, mas hoje sou muito mais um controlador da qualidade do que um artesão”, diz Gustavo, que optou por tirar um pouco o pé do acelerador e ter mais tempo pra viver bem. Na hora de desenvolver novas peças, no entanto, ele vai para o ateliê fazer os protótipos. “Eu mato a saudade de ralar a barriga nas mesas da fábrica quando estamos desenvolvendo um novo produto”.


Laura Pereira faz todo o processo | Foto: Divulgação

Laura Pereira

Laura estudou na Alemanha durante o ensino médio – e lá aprendeu tudo o que é trabalho manual, de marcenaria a tricô. Essa vivência foi essencial para criar sua marca, alguns anos mais tarde, a Laura Pereira Handcrafted Goods, de Florianópolis (SC), que faz bolsas, estojos e acessórios em couro cru, na maior parte das vezes. De 2008 para cá, quando fundou a grife, muita coisa mudou nos processos, mas ela ainda desenvolve as peças manualmente e faz cada forro de bolsa usando uma técnica de encadernação que aprendeu na escola. “As bolsas são produzidas em um ateliê familiar, por isso fazemos cerca de 30 por mês, apenas”, diz. Além de diversos pontos de venda e da loja online, é possível visitar o ateliê com hora marcada.


Paula e Renata herdaram o ateliê do pai, Luiz | Foto: Divulgação

Atelier Watson

As irmãs Paula e Renata Watson resolveram resgatar as peças criadas pelo pai, o antropólogo Luiz Watson, que nos anos 60 fundou uma oficina experimental que reunia gente interessada em aprender a trabalhar com as mãos. E acabou criando alguns modelos de bolsas e objetos em couro, que viraram sua paixão e se transformaram em um trabalho levado à sério. “Paula faz a restauração dos incontáveis itens que meu pai crioue eu eu crio novas coleções, mantendo os ícones da marca”, diz Renata, que também faz a gestão do Atelier Watson. Entre essas peças tradicionais estão baús, bolsas, frasqueiras, caixas, bandejas – tudo em couro.


Bolsas para viajantes é o mote da Beatnik | Foto: Divulgação

Beatnik & Sons

A marca faz peças para viajantes, algumas delas misturando couro e lona, seguindo a tradição da família de um dos fundadores, Elgson Eligio (já falecido) que trabalha com acessórios de couro há três geracões. A Beatnik & Sons ganhou uma cara bem atual em 2016, quando ele se juntou com Renan Molin, ainda hoje no comando da empresa, com o novo sócio Lipsio Carvalho. “A gente queria fazer bolsas para viajantes com ótimo acabamento e um estilo que não se via muito no Brasil”, diz Renan. O processo de corte e costura é quase que totalmente manual, com exceção das peças que passam pela máquina (também operada à mão) dos artesãos do ateliê, localizado em Curitiba.


As peças da Arteria, com pegada mais urbana | Foto: Divulgação

Arteria

As peças da Arteria têm uma pegada urbana e bem prática pois quase sempre se transformam: mochila vira pochete, carteira vira bolsa e assim vai. As duas fundadoras, Julia Sentelhas e Elene Veguin, cursaram juntas a faculdade de moda e criaram a marca em 2012, que produz em pequena escala, de 15 a 70 peças por modelo. “As bolsas têm mais de uma forma ou função, estimulando que as pessoas consumam menos e de um jeito consciente”, diz Julia. Todas as peças, numeradas, vêm embaladas em um furoshiki, um lenço japonês que pode ser usado como bolsa, no cabelo, no pescoço… Para continuar no quesito sustentabilidade, durante dois anos depois de comprar uma peça, a manutenção dos produtos é garantida. As peças são vendidas em lojas multimarcas ou no ateliê da Arteria (Rua Cristiano Viana, 401, São Paulo), além da loja online.


Os produtos sofisticados e feitos com processo artesanal da Matri | Foto: Divulgação

Matri

Maiá Zequi, que atuou 11 anos como designer para grandes marcas de acessórios, se uniu à publicitária Manuela Corano e, juntas, criaram a grife própria de acessórios. A Matri faz bolsas com ares e acabamento sofisticados, mas mantém processos artesanais. “Queríamos algo em que pudéssemos nos envolver na criação, desde a escolha do material até a finalização da peça”, diz Maiá. A grife das duas também vem criando sapatos, mas as bolsas com fechos em resina ou detalhes em palha são a marca da Matri, que já fez parceria com a grife de roupaas Lilly Sarti.

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