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O perfil ético do Brasil

Por
Adriana Setti
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O que vale na hora de julgar: a intenção ou o resultado? Uma pesquisa recente foi em busca de entender o perfil ético dos brasileiros.

Uma pesquisa executada pelo Instituto Locomotiva aponta que a maioria dos brasileiros tende a julgar um comportamento como certo ou errado pela ação em si; enquanto, pra um terço da população, o que determina seu valor moral é o desfecho dos atos. Em artigo publicado na Folha de S. Paulo, o neurocientista Álvaro Machado Dias e o jornalista Hélio Schwartsman, idealizadores do estudo, explicaram o perfil ético dos Brasil.

Prazer, Kant

O perfil ético do Brasil

Simplificando, há duas “famílias” de sistemas éticos predominantes. Segunda a primeira, baseada no pensamento de filósofos como o alemão Immanuel Kant, são os princípios que importam. Dentro dessa lógica, valem incondicionalmente regras como “não matarás” ou “não mentirás”. Segundo a pesquisa, 66% dos brasileiros são kantianos.

Ação e consequência

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Na outra ponta está o consequencialismo, linha de pensamento segundo a qual o julgamento ético de nossos atos é feito por meio das consequências que acarretam. Essa visão de mundo exige maior esforço cognitivo e tende a ser mais popular conforme se eleva o padrão educacional. 34% dos brasileiros fecham com essa corrente.

De boas intenções…

Os resultados sugerem que a maioria dos brasileiros seria tolerante a eventuais consequências negativas de intenções positivas. Isso significa que motivos supostamente nobres poderiam legitimar parte da violência interpessoal brasileira — o que não inclui aquela motivada por roubos, tráfico etc.

66% dos entrevistados dizem estar dispostos a entrar em conflito com um estranho pra defender alguém e 34% o fariam por motivos pessoais. Além disso, 81% acham que é correto tomar atitudes violentas pra defender outra pessoa e mais de 70% pensam o mesmo em relação a seus ideais. De forma geral, a legitimação do confronto é mais comum nas pessoas que se identificam com a moral kantiana.

8 de janeiro

O perfil ético do Brasil

Esses resultados indicam que motivações altruístas representam fortes gatilhos pro confronto. E que atos violentos em defesa de outra pessoa, de um ideal, do país ou de grupos de interesse são vistos como éticos por quem os perpetra e pelo seu entorno.

Oh, mundo cruel

A pesquisa investigou, ainda, o grau de otimismo dos brasileiros: apenas 26% dos participantes enxergam o mundo como aprazível. A taxa dos que o veem como totalmente hostil é de 35%. As pessoas que se identificam com princípios kantianos tendem a ver o mundo — e o Brasil — como um lugar pior que os consequencialistas.

Segundo os autores do estudo, um sistema ético não é superior ao outro. Qualquer um deles, levado ao extremo, pode gerar situações absurdas. No entanto, a inclinação dos brasileiros a valorizar mais a intenção do que o resultado está relacionada à legitimização de atitudes violentas e ao populismo na política.

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