Como a primeira loja de bonecas negras do Brasil atravessou a pandemia — e saiu mais forte de um período de incertezas.
Jaciana Melquiades é uma empreendedora carioca que acredita no poder transformador das brincadeiras e da educação. Foi com essa convicção que ela criou, em 2017, a Era Uma Vez o Mundo — um pequeno negócio de brinquedos educativos e atividades em escolas que acabou dando origem à primeira loja de bonecas negras do Brasil. Passando por diversas instituições com suas oficinas nos últimos três anos, Jaciana notou que o efeito dessas atividades na autoimagem e no bem-estar dos alunos é imediato, e que a utilização de elementos lúdicos é capaz de desenvolver potência em crianças, jovens e adultos. “Optamos pela transformação social através dos brinquedos, que são instrumentos fundamentais para a formação das subjetividades, na relação dos indivíduos que brincam, com o mundo em que vivem.”
No final de 2019, a empresa, acelerada pelo Labora, laboratório de Inovação Social do Oi Futuro, se juntou como coletivo para abrir uma loja em um shopping do Rio de Janeiro, investindo quase todo o dinheiro de caixa da empresa. “No início da pandemia, a gente se viu numa situação muito difícil, sem a loja aberta para recuperar o dinheiro investido e sem as atividades em escolas, que foram todas canceladas e eram partes bem importantes da nossa receita”, conta Jaciana. “Fiquei sem entender como iria custear minha vida ou quanto tempo duraria a pandemia.”


A primeira medida de Jaciana foi pedir o auxílio emergencial ao governo — e isso lhe trouxe tranquilidade para pensar sobre como continuar a Era Uma Vez o Mundo. “Decidi pedir ajuda, da forma que sempre faço, mobilizando minhas redes sociais para salvar meu negócio. Então, fiz um apelo no Twitter para que as pessoas conhecessem a marca, entrassem na nossa loja virtual e comprassem nossos produtos”, lembra. O movimento de Jaciana acabou viralizando e ganhando uma proporção grande, o que fez com que a empresa precisasse inclusive contratar mais gente para confeccionar as bonecas e conseguisse garantir o funcionamento da loja até o final do ano, provando o poder de conexão da internet também para causas nobres.
“Seguimos nesse movimento, tentando fazer com que as pessoas que trabalham com a gente continuem com uma renda fixa pelos próximos meses”, explica. “A gente tem uma função de ter valores que impactem positivamente o mundo e temos, também, grandes coisas para aprender com esse momento [de crise, por conta da pandemia]. Uma delas é aprender a construir um futuro onde todos nós caibamos. Essa é a premissa da Era Uma Vez o Mundo, e acredito que esteja se tornando cada vez mais a premissa das pessoas”.
Jaciana lembrou em seu pedido de ajuda na internet que muitas vezes travamos, emperramos, surtamos, mas respiramos e voltamos. “Sem romantismo. Essa é a realidade de quem empreende por necessidade. Encerrar as operações não é opção quando tudo o que a gente tem é o que a gente faz”. Para os pequenos empreendedores, manter um negócio rodando e crescer de forma gradual os torna muito suscetíveis a qualquer oscilação no mercado, ainda mais quando os produtos são bonecas negras, atividades educativas e com uma proposta antirracista. Mas desistir não está entre os planos de Jaciana. “É lindo poder dizer isso: a Era Uma Vez… é uma empresa que oferece soluções para problemas sociais que afetam principalmente uma população periférica de baixa renda. Somos um negócio de impacto social.”