Poderia ser apenas uma ferramenta pra se comunicar fincada em cada esquina, mas ficou na história como uma peça de design que nos enche de nostalgia.
Em outras partes do mundo, o aparelho estava lá, colado numa parede ou dentro de uma cabine que raramente tinha graça. Mas o brasileiro precisa ser diferente, certo? Aqui, a gente conta a história do Orelhão, também conhecido como telefone público com proteção acústica — e relembra hábitos e sensações que todo mundo que sabe o que é uma ‘ficha’ viveu no milênio passado.


O Chu II (nome oficial) foi inventado em 1971 por Chu Ming Silveira, uma arquiteta e designer de Xangai, na China, radicada no Brasil a partir de 1951. Chefe do departamento de projetos da Companhia Telefônica Brasileira, ela desenvolveu o Orelhão com o intuito de oferecer proteção acústica ao usuário, de forma coerente com o clima brasileiro — ninguém merece fazer sauna numa cabine.


Ícones

Fabricado em fibra de vidro ou acrílico, podia ser laranja — o mais icônico — ou de outras cores e oferecia certa privacidade ao usuário. De fora, não dava pra ver o rosto de quem estava telefonando e não era tão fácil assim ouvir a conversa.

O primeiro Orelhão foi instalado no Rio de Janeiro, em 20 de janeiro de 1972, e chegou a São Paulo cinco dias mais tarde. Em 1975, pintaram os modelos azuis, que faziam chamadas interurbanas. Segundo a Anatel, ainda há cerca de 66 mil Orelhões funcionando no Brasil!

Ficha, prazer

Em tempos de hiperinflação, era impossível fazer o Orelhão funcionar com moedas, como acontecia em outros países. Por isso, era preciso comprar uma ‘ficha’ na padaria, na banca de jornal e afins: tipo uma moeda embalada numa cartela de papel, cujo valor ia mudando. Os primeiros cartões telefônicos chegaram só em 1992, no embalo da Eco-92.

“A verdade é que a rua ficou sendo outra coisa, com as pessoas descobrindo que não precisam mais fazer fila no boteco ou na farmácia pra dar um recado telefônico. Na própria calçada, uma vez comprada a ficha no jornaleiro, comunicam-se. Tão simples.”
Carlos Drummond de Andrade na crônica Amenidades da rua, publicada no Jornal do Brasil

Crédito da imagem de abertura: Clovis Silveira / Acervo de Chu Ming Silveira – orelhao.arq.br