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Orelhão: o telefone público mais cool da história

Por
Adriana Setti
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Poderia ser apenas uma ferramenta pra se comunicar fincada em cada esquina, mas ficou na história como uma peça de design que nos enche de nostalgia.

Em outras partes do mundo, o aparelho estava lá, colado numa parede ou dentro de uma cabine que raramente tinha graça. Mas o brasileiro precisa ser diferente, certo? Aqui, a gente conta a história do Orelhão, também conhecido como telefone público com proteção acústica — e relembra hábitos e sensações que todo mundo que sabe o que é uma ‘ficha’ viveu no milênio passado.

Quem se lembra? Era a ferramenta ideal pra passar trote: à prova de identificadores de chamadas (uma lenda urbana na qual acreditávamos) e longe dos olhos dos pais.
Orelhão: o telefone público mais cool da história
O orelhão em sua versão dupla nas ruas de São Paulo, 1973 | Foto: Acervo de Chu Ming Silveira – orelhao.arq.br

O Chu II (nome oficial) foi inventado em 1971 por Chu Ming Silveira, uma arquiteta e designer de Xangai, na China, radicada no Brasil a partir de 1951. Chefe do departamento de projetos da Companhia Telefônica Brasileira, ela desenvolveu o Orelhão com o intuito de oferecer proteção acústica ao usuário, de forma coerente com o clima brasileiro — ninguém merece fazer sauna numa cabine.

Orelhão: o telefone público mais cool da história
Chu Ming Silveira | Foto: Acervo de Chu Ming Silveira – orelhao.arq.br

Quem se lembra? Quando o único orelhão da praia onde você passava férias tinha uma fila quilométrica que acabava virando o point da paquera?

Ícones

Orelhão: o telefone público mais cool da história
Projeto original do Orelhão | Foto: Acervo de Chu Ming Silveira – orelhao.arq.br

Fabricado em fibra de vidro ou acrílico, podia ser laranja — o mais icônico — ou de outras cores e oferecia certa privacidade ao usuário. De fora, não dava pra ver o rosto de quem estava telefonando e não era tão fácil assim ouvir a conversa.

Orelhão: o telefone público mais cool da história
Matéria na revista ARQUITETO sobre a criação dos Orelhões, 1973 | Foto: Acervo de Chu Ming Silveira – orelhao.arq.br

O primeiro Orelhão foi instalado no Rio de Janeiro, em 20 de janeiro de 1972, e chegou a São Paulo cinco dias mais tarde. Em 1975, pintaram os modelos azuis, que faziam chamadas interurbanas. Segundo a Anatel, ainda há cerca de 66 mil Orelhões funcionando no Brasil!

Orelhão: o telefone público mais cool da história

Ficha, prazer

Orelhão: o telefone público mais cool da história

Em tempos de hiperinflação, era impossível fazer o Orelhão funcionar com moedas, como acontecia em outros países. Por isso, era preciso comprar uma ‘ficha’ na padaria, na banca de jornal e afins: tipo uma moeda embalada numa cartela de papel, cujo valor ia mudando. Os primeiros cartões telefônicos chegaram só em 1992, no embalo da Eco-92. 

Orelhão: o telefone público mais cool da história
Chu Ming Silveira com o orelhão instalado na FAU USP, anos 70 | Foto: Acervo de Chu Ming Silveira – orelhao.arq.br

“A verdade é que a rua ficou sendo outra coisa, com as pessoas descobrindo que não precisam mais fazer fila no boteco ou na farmácia pra dar um recado telefônico. Na própria calçada, uma vez comprada a ficha no jornaleiro, comunicam-se. Tão simples.”

Carlos Drummond de Andrade na crônica Amenidades da rua, publicada no Jornal do Brasil

Quem se lembra? Da raiva: de encontrar um chiclete grudado no lugar de colocar a ficha ou o fone arrancado do fio. Da alegria: de achar uma ficha esquecida naquela “gavetinha” metálica. Da aflição: do pai do seu crush que atendia o telefone, ficava puxando papo com você e gastando tempo da sua ficha. Do anticlímax: quando a ficha acabava e a ligação caía no momento crucial do papo.

Crédito da imagem de abertura: Clovis Silveira / Acervo de Chu Ming Silveira – orelhao.arq.br