Entenda as consequências da origem ilegal do ouro e por que vale a pena repensar o consumo e a romantização desse minério.
Mais de 25% das 174 toneladas de ouro produzidas no Brasil em 2019 e 2020 tiveram origem ilegal, de acordo com um estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em parceria com o Ministério Público Federal. No primeiro semestre de 2021, 26% das 46,8 toneladas produzidas foram consideradas potencialmente ilícitas pelo mesmo estudo.
Ou seja, quase um quarto do ouro extraído no país é ilegal e vem de lugares como reservas florestais, territórios indígenas, entre outros. Segundo o mesmo estudo, o grosso dessa produção é exportada a países como Canadá, Reino Unido e Suíça. Mas boa parte fica no Brasil e pode ir parar no seu porta-joias
Crise humanitária

O garimpo ilegal do ouro é a principal causa da crise humanitária que assola o povo Yanomami atualmente. De acordo com dados da Hutukara Yanomami e do Instituto Socioambiental, 5 mil hectares de florestas foram desmatados na área demarcada.
A presença do garimpo em um território indígena não só traz o desmatamento, como também doenças — a exemplo da malária — e a contaminação dos rios, o que acaba inviabilizando a pesca e prejudicando a agricultura.

Ao comprar uma joia no Brasil, é praticamente impossível ter a garantia de que foi fabricada com ouro de procedência legal ou ilegal. Em boa parte, isso se deve a uma lei sancionada em 2013: basta a palavra do vendedor do minério pra atestar que sua origem não é ilegal. O comprador se exime de qualquer responsabilidade e a fiscalização praticamente não existe.
A solução é complexa

Por um lado, o garimpo ilegal traz destruição e, muitas vezes, está relacionado a outras atividades criminosas, como o narcotráfico, a caça de animais protegidos e trabalho análogo à escravidão. Ao mesmo tempo, milhares de pessoas dependem dessa atividade pra sobreviver e precisam de alternativas econômicas.
Diante dos fatos, é preciso refletir: vale consumir um produto que é parte de uma cadeia na qual existe pouquíssima transparência e muito sofrimento envolvido? No entanto, isso não quer dizer que você deva deixar de usar as joias que já tem, de comprar de designers que reciclam ou de brechós.
Além do ouro

Muitos outros minérios presentes no nosso dia a dia estão relacionados a cadeias de produção obscuras. Vale lembrar, no entanto, que o ouro não é artigo de primeira necessidade e vem cercado de um simbolismo que, ainda por cima, reafirma e escancara a desigualdade social.
Créditos da imagem de abre: Reprodução