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A beleza de ser uma eterna aprendiz

Por
Eloá Orazem
Em
25 março, 2016

Ela faz de conta todos os dias. E todos os dias dá conta do que faz: ainda que imersa em uma rotina atarefada, Paula Acioli encontra tempo para exercitar a imaginação ao se colocar no lugar do outro e, só assim, tomar as decisões que lhe competem. Esse talento natural, ao qual chamamos de empatia, é talvez o que leve a carioca da lousa ao caderno quase diariamente, alternando as funções de mestre e aluna – e se destacando da média em ambos os casos. Dona de um currículo que segue a linha ad infinitum, Paula é idealizadora e coordenadora acadêmica do curso de Gestão e Negócios em Moda, na Fundação Getulio Vargas (FGV). Mestre em Moda, Cultura e Artes pelo Centro Universitário Senac-SP; Bacharel em Design Industrial e Comunicação Visual pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e especialista em Moda pelo London College of Fashion, no Reino Unido. Mesmo com diplomas e honrarias a perder de vista, a carioca não sobe ao salto e mantém os dois pés bem juntos do chão, vendo a moda sob o ponto de vista artístico, histórico e empresarial – um prisma que diz muito sobre quem é e de onde veio: Paula é filha de uma educadora e um arquiteto que trabalhou, para ficarmos em apenas um exemplo, na construção de Brasília ao lado de Niemeyer e Lúcio Costa. Esse blend de talentos hereditários aflorou ainda na infância, quando Paula, nova demais para racionalizar a complexidade da moda, arbitrava sem querer as roupas da mãe, sugerindo cores, estampas e combinações. A vocação lhe sai pelos poros de tal forma que até o diabo pediria sua benção antes de vestir Prada.

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Sua entrega à moda é tanta que fica difícil entender porque optou, na primeira graduação, por desenho industrial…
Na época em que prestei vestibular pela primeira vez ainda não havia no mercado uma faculdade de moda do jeito que eu pensava em fazer. Quer dizer, existia um curso, mas não era o que eu queria, porque ali eu aprenderia a costurar, a cortar, a ser estilista mesmo – e o que eu sempre quis era mexer com a parte mais business da coisa. Assim, levando em conta os meus anseios e talentos, achei que o curso de design industrial e comunicação visual seria o que mais atenderia às minhas necessidades. E foi tão importante essa graduação que até hoje, quando me pedem sugestões, recomendo muito essa graduação mesmo para quem quer trabalhar com moda, porque é como uma engenharia, e você aprende a refinar o seu olhar.

E sua vida acadêmica, que parece não ter fim, foi sempre bem sucedida?
Fui reprovada uma única vez – mas foi por amor e carinho por parte do meu professor, e não por falta de competência ou dedicação de minha parte. Explico melhor: para chegar até a UFRJ – que fica no Fundão, região muito distante da Zona Sul, onde resido – eu tinha de tomar três ônibus e contar com a fluidez do trânsito, que costumava não colaborar muito. As aulas começavam às 7 da manhã, e o professor Gilberto Strunck batia continência para o relógio, anotando falta sem dó aos alunos atrasados. A distância até a faculdade me colocava nessa lista dos “atrasados” com tanta frequência que ele me reprovou, mas por atraso, e não por falta. Com 18 anos a gente ainda não entende muitas coisas e fiquei com muita raiva dele e da sua aparente falta de compreensão. Tive de encarar novamente um semestre sob a sua tutela, mesmo com todos os meus protestos. Mas ao cursar aquela disciplina novamente, tive a chance de ver o Strunck sob outra perspectiva e entender o porquê de suas exigências com os alunos. Dono de sua própria – e bem-sucedida – agência, o professor encarava a sala de aula não apenas por profissionalismo, mas sobretudo por amor ao que fazia, e queria passar isso aos alunos. Diferente de mim, ele não precisava estar ali. Então entendi que ele queria o melhor para os seus alunos e que a minha reprovação não era punição, era uma lição para a vida, para aprendermos que na vida precisamos estar atentos às responsabilidades. Hoje o Gilberto Strunck é um dos docentes do curso que idealizei na FGV e, mais do que isso, é o meu mentor da vida. Devo muito do que profissionalmente sou a ele.

Você teve ainda a chance de estudar em Londres. Como isso aconteceu?
No final dos anos 90, meu marido foi transferido para a Inglaterra. Uma vez lá, decidi me dedicar aos estudos e me especializar na London College of Fashion, porque não existia nada semelhante no Brasil – não existia ainda a visão profissional da moda como temos hoje, que dirá uma escola de negócio em moda. Fiquei dois anos em Londres, estudando, e o meu retorno ao Brasil coincidiu com a chegada da moda como setor de negócio ao Rio de Janeiro.

Além do diploma, você trouxe de Londres a inspiração para o seu livro 30 Estilistas – A Moda no Rio, né?
Observava que lá no hemisfério norte, sobretudo na França e Inglaterra, o pessoal valorizava muito as pratas da casa, os seus designers e criadores. E os criadores amam as suas cidades, né? O McQueen era louco por Londres, e o Jean-Paul Gaultier é louco por Paris. Aqui não existia esse orgulho: nem do criador pela cidade, nem da cidade pelo criador. Então me debrucei sobre o projeto desse livro para valorizar os nossos talentos e mostrar como a cidade é inspiradora e como os criadores se inspiram na vibe carioca para suas criações.

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És uma eterna admiradora da moda nacional, então?
Sou apaixonada pela nossa moda, pelas roupas brasileiras. Lá fora compro pouca roupa, compro mais acessórios. Acho que a gente bate muita bola, mas a moda no Brasil é adolescente, então ainda temos muito que crescer e aprender.

Essa evolução passa, sem sombra de dúvidas, pela educação, e muita gente diz que esse setor foi banalizado, capitalizado…
A gente sabe que os anos 80 e 90 foram marcados por um boom de cursos de estilismo em território nacional. O Brasil saiu abrindo cursos de moda de norte a sul. Somos um dos países com mais cursos de moda do mundo, e isso me preocupa muito, porque não adianta sair por aí “replicando” cursos. Fui aluna durante muito tempo e sei o que é um professor e uma aula bem ou mal preparada. Quando me convidaram a criar o curso na FGV, eu pensava na grade de disciplinas ideal que eu gostaria de fazer, mas que não encontrava em lugar algum. O que seria interessante, que eu adoraria assistir e que é importante para o setor? Criei esse curso e penso em toda a cadeia, desde os princípios da Bauhaus até a ética, fashion law, finanças aplicadas ao mercado de moda, neuromarketing… São mais de vinte disciplinas, todas fundamentais. A proposta não é dar essas disciplinas de forma isolada, O interessante é você sair com tudo costurado. Então criei um desafio, no qual os alunos precisam, em grupo, solucionar uma questão empresarial apresentando, ao final do curso, um projeto  contemplando todo o conhecimento adquirido em todas as disciplinas concatenadas. A medida de quanto de cada disciplina o projeto terá, quem dá são os alunos, o importante é que que tenha um pouco de cada uma. Esse ano o desafio será proposto pelo CEO criativo de uma grande empresa internacional. Os alunos têm de resolver uma questão real e pertinente, levando em conta tudo o que aprenderam. Estamos na oitava turma e já são mais de 300 alunos capacitados.

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Apesar da curadoria cirúrgica do curso, ainda acha que vale a máxima “quem faz o curso é o aluno”?
Não dá para jogar todas as expectativas apenas no aluno, ou na instituição. E é diferente o caso do curso que coordeno, porque são pessoas mais experientes, todas já graduadas. São todos profissionais – quem está ali, está por ter muito interesse. Já aconteceu, em outra instituição, de docentes comentarem comigo sobre a dificuldade de lidar com uma determinada turma. E aquela turma não agia assim comigo. Então acho que o professor tem que saber dizer ao que ele veio logo na largada. Antes o docente era o cara que sabia tudo. A dúvida vinha sempre do aluno, e isso mudou completamente. No meu curso, estou lidando com profissionais. Passou a ser um ambiente de troca, não estou ali como dona da verdade, mas como alguém que tem uma expertise. É uma vida de compartilhar conhecimento.

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De fato, muita coisa mudou na relação professor x aluno, mas mudou também na relação empregador x funcionário. Você acha que as empresas estão prontas para essa nova geração de alunos e profissionais?
Eu acho que o mercado está tendo um baque grande, porque antes o bacana era ficar dez, vinte anos numa empresa e hoje as pessoas querem mesmo é ser felizes. Essa questão jamais surgiria algumas décadas atrás. O empresariado está percebendo que a qualquer momento ele pode perder aquele profissional, que busca desafios e satisfação, e não foca tanto apenas no salário e remuneração. Claro que todo mundo quer e precisa ganhar dinheiro, mas vivemos em tempos dinâmicos, com outras prioridades. Algumas empresas de tecnologia parecem estar em mais sintonia com a nossa realidade e, quando o modelo de empresa não é esse, rola um choque. E tem também muita empresa que tenta fazer isso, “implantar” artificialmente conceitos que estão na moda só para se parecer com outras, mas não é verdade, e aí vira tudo cenário pois não faz parte dos valores dela. Estamos vivendo em tempos sem gênero, sem idade, sem estação, sem nada… sem compromisso formalizados. As pessoas e as estações estão multifacetadas, vivemos no melhor dos mundos! Só temos a angústia de ter que administrar tudo ao mesmo tempo agora. É o preço que pagamos pela nossa liberdade.

Tenho a impressão que a moda é meio que catalisadora dessas transformações: a Barbie sendo lançada com novos padrões de estética, o Lego contemplando um bonequinho cadeirante e a Zara apresentando uma coleção sem gênero. As marcas brasileiras também estão em sintonia com essa tendência mundial de desafiar os limites da sociedade?
Testar os não-limites, você quer dizer, né? Todas as questões que falamos de gênero, padrão de beleza, emancipação feminina, elas sempre existiram – o que muda é o tempo e a nossa percepção diante delas. A homossexualidade, por exemplo, era crime na era vitoriana. Neste mesmo período, as vestimentas do povo eram fortes sinalizadores de classes sociais. Essas questões eram tratadas de acordo com o seu período histórico. Mas, ao mesmo tempo, poderia surgir uma corrente contrária àquela e dar um start num movimento que revolucionaria tudo, transformando aquilo em outra coisa. A moda sempre se alimenta e digere o contexto e devolve para o seu tempo o que ela entende. Ainda na era vitoriana – período da mulher reprimida –  tivemos o espartilho. Na Belle Époque, as sufragistas, que se vestiam como homens para tentar a igualdade de direitos no voto. São as reações de cada tempo a seu tempo. Hoje temos a onda genderless, ageless, seasonless…As soluções do nosso tempo são mais ligadas a essas questões, mas eu ainda vejo muita gente fingindo. Essa coisa da sustentabilidade, por exemplo: tem gente que acha que só colocar uma etiqueta dizendo que o produto é sustentável é suficiente. Não é bem assim. É preciso bom senso e conhecimento para distinguir quem está fazendo o que foi proposto e quem está dissimulando. Vejo, na moda, uma confusão em todos os sentidos. Muita gente não entende ainda o que é fast fashion, o que é o low consumerism… Muita gente acha que fast fashion é a moda que se consome em velocidade, e que slow fashion é moda que se consome devagar. Muitas pessoas dizem que a C&A é fast fashion sem saber que é uma empresa de 1841 e que, no século 19, ninguém nem sabia o que era isso. Fast fashion é estratégia, não existe uma empresa de fast fashion – existem empresas que adotam fast fashion com uma estratégia comercial, e que acabam sendo classificadas como “marcas de fast fashion”.

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Mas você acha que essa confusão é geral, ou na Europa as coisas estão mais claras?
Costumo brincar dizendo que o fuso horário explica muita coisa. Lá na Europa, naturalmente, vão acontecer muitas coisas antes daqui, porque eles dormem e acordam antes da gente. Por questões de logística e fuso horário, eles vão criar coisas antes da gente. E o pessoal aqui ainda olha muito lá pra fora antes de criar algo. Isso ainda é um fato. Não que todas as marcas brasileiras façam isso, mas é inegável esse movimento. Mas a gente pode dar o start também, descobrir o nosso valor, ver o que é nosso. E, felizmente, muitas marcas nacionais já estão fazendo isso de forma inteligente. É moda praia? Carnaval, futebol? Se é clichê ou não, pouco importa: o importante é trabalharmos bem e de forma eficiente e inteligente. Vamos ver no que somos bons e no que podemos inspirar lá fora.

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Como acha que somos percebidos lá fora?
Nós temos muito potencial, mas não acho que, em termos de volume e marcas de valor, nossa moda seja significativa em termos de exportação. Não temos ainda um número significativo de marcas nacionais amadas no exterior, mas temos muitas marcas estrangeiras amadas aqui. Todo mundo sabe o que é Chanel, Louis Vuitton, Gucci. Mas fora a Havaianas e, em menor escala, a H.Stern, não temos ainda uma marca brasileira amada globalmente. Acho que o grande barato é o Brasil entender que ele precisa se olhar, se amar, construir e internalizar as suas marcas. Primeiro temos que aprender a amar a marca aqui para depois internacionalizá-la e buscar amor e bons negócios mundo afora.

E o que falta pra moda brasileira “chegar lá”?
Não é uma receita do bolo, mas acho que as marcas precisam construir histórias. Não estou falando de storytelling, porque aí você pode contar qualquer historia, mas em construir a sua história. Quando você fala Chanel, por exemplo, na mesma hora associamos a marca ao seu valor, que está diretamente ligado à sua trajetória, à sua história e valores. Na mesma hora fazemos essa referência. Aqui no Brasil, por razões diversas, inclusive históricas, ainda somos muito vistos sob a ótica do eixo Rio-São Paulo, ainda não exploramos na plenitude as pluralidades desse país que tem dimensões continentais. E o Brasil dá certo e dá errado, é cíclico, e, naturalmente, gira de acordo com as desgraças e maravilhas que acontecem por aqui e pelo mundo. Mas, no final da contas, sinto falta da melhor difusão e compreensão da construção da história do Brasil. Todo mundo tem muita pressa em se internacionalizar, queimando etapas. Precisamos de tempo, reputação e valor, tudo o que a gente sabe que as marcas lá fora têm como base sólida de suas histórias.

A moda é um ambiente de muita liberdade…
Não, isso é só aparência. As pessoas fantasiam o setor, mas precisamos lembrar de muitas outras coisas que constroem e mantém a moda, que hoje é um negócio importante: que o McQueen se matou, o Galliano surtou… A pressão é enorme! É inacreditável, mas ainda existe um fetiche de que a moda é apenas glamour e liberdade de expressão. Mas não é. A moda hoje é negócio também. E negócio para peixes grandes. O ser humano se torna livre ou não, mas a moda é e  sempre foi uma ferramenta de dominação muito séria. As pessoas não entendem isso. Aí falam da democratização da moda. Mas o que é isso? É usar o que quiser? É quem compra o que quer? Se você tem dinheiro pra comprar uma determinada peça, você compra; se não, vai comprar outra. Mas o desejo está sempre ali, latente. Ainda vivemos sob “regras”, ainda que não ditas: você tem ou não condições. E é nesse ponto que o fast fashion é fascinante porque, no caso das parcerias e co-brandings com marcas de luxo, ele dá a sensação de que você está alcançando o consumo de luxo, ou um designer muito incensado, ou criador muito exclusivo. Mas você não está consumindo o criador naquela marca, você está consumindo o criador “via” uma marca popular. Cria-se a ilusão de que se tem um Lagerfeld (e quando pensamos em Lagerfeld, pensamos Chanel, certo?), mas é Riachuelo. É uma estratégia fantástica que existe há mais de uma década. Quem começou foi Karl Lagerfeld em co-branding com a H&M. E esse processo detonou o Masstige. Hoje está tudo misturado: hip-hop, rap, MPB, luxo… Mas aí você vê: quando o cara do hip-hop ganha muito dinheiro, ele vai comprar o quê? Gucci, Louis Vuitton… ou vai lançar a própria marca e bombar com isso. Mas a aspiração é algo mais difícil de ter – é o que parece inalcançável.

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Mas não é do ser humano desejar o que não se pode ter?
Exatamente. O ser humano parece ter vindo com esse aplicativo. No filme Elizabeth, com Cate Blanchett, há uma cena que mostra rainha em crise. Ela descobre que há um complô para tirá-la do poder. Ela desabafa com seu conselheiro e sabe que precisa de mudanças urgentes e extremas para se manter firme no poder. No porão do palácio da torre de Londres, aonde está reunida com seu “advisor” há imagens da virgem Maria guardadas, porque o pai de Elizabeth, o rei Henrique VIII, rompeu com a igreja para se casar com Ana Bolena (mãe de Elizabeth). A certa altura da conversa, o conselheiro diz algo mais ou menos assim: “Elizabeth, o ser humano precisa de algo divino, para adorar. E que seja difícil de tocar” Ela então olha para a imagem da Virgem Maria e tem um insight: se tornaria uma “divindade”, um figura quase intocável. A partir desse episódio, ela passa a se vestir e maquiar como uma madona. Passa a se apresentar aos súditos como uma santidade. A corte e o povo passaram a vê-la como algo divino, e ela ganhou o respeito de todos. A moda foi usada como ferramenta de poder e dominação: ela, de fato, visualmente, com auxílio de roupas, acessórios e maquiagem, se transformou em um personagem divino. O que faz, por exemplo,  uma pessoa montar uma barraca ao relento, no frio  de inverno londrino, só para ter uma peça de uma coleção da Dolce & Gabbana na Topshop? É nesse ponto que entra a “poção mágica da moda”: você acha que vai – finalmente – ter um D&G, que nunca pensou em ter, porque é algo, normalmente muito caro. O ser humano tem dentro dele tanto o desejo de possuir, quanto o desejo de imitar, geralmente por admiração: a gente aprende a falar, andar, rir e se comportar imitando os nossos pais. O chip da cópia, que carregamos – e que pode ser um problema –, é difícil de combater porque faz parte do ser humano. Precisamos de inspiração, de um norte. E quando passamos essa lógica para o consumo, geralmente funciona assim: quanto mais inspirador e difícil alguma coisa é, mais vamos querer.

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E o mesmo se aplica a você, que passou a vida estudando essas coisas?
Não, não me preocupo em ter o que é mais difícil. Mas gosto muito do que me inspira. Estou mais na linha Zygmunt Bauman, do “líquido” e “fluído”, mas ainda mais misturados. Em termos de consumo sou uma espécie de consumidora “blend”: compro o que me faz bem aos olhos e à alma (e, é claro, o que tenho condições). Não me ligo em preço ou marcas. Compro e uso o que gosto, independente da marca. Mas gosto muito do que conta história. Por exemplo: tenho uma sandália plataforma multicolorida Salvatore Ferragamo que faz parte de uma edição especial. Se chama Rainbow, é numerada, possui “certidão de nascimento” e uma história fascinante: foi criada nos anos 1930 para homenagear a atriz Judy Garland por seu papel inesquecível em O Mágico de Oz, cuja música “Somewhere Over the Rainbow”, tornou-se um clássico. É disso que eu gosto. Essa sandália, talvez por sua história icônica, é capa de inúmeras publicações de moda. Não me deixo seduzir por brilhos, diamantes ou apenas luxo explícito: o luxo que me seduz, como estudiosa, é a riqueza da história nossa de cada dia que a moda é capaz de contar.


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