Autêntica, corajosa, sábia, incansável: no aniversário de 95 anos dessa atriz que emociona e engrandece o Brasil, repassamos alguns dos motivos pelos quais a admiramos profundamente.
Arlette Pinheiro Esteves da Silva nasceu em 16 de outubro de 1929 no Rio de Janeiro e, em 2024, celebrou uma façanha da qual poucos seres humanos podem se orgulhar: 80 anos de carreira. Fernanda Montenegro tinha 15 anos de idade quando começou a atuar no rádio — durante a Segunda Guerra! Aos 22, estreou na TV e, aos 23, não só encenou sua primeira peça de teatro como faturou um prêmio de atriz-revelação.
Uma vida no palco

A história do teatro brasileiro se mistura à sua biografia. Em 1954, se mudou pra São Paulo, onde integrou a Companhia Maria Della Costa e o Teatro Brasileiro de Comédia. Já em 1959, com Fernando Torres (1927-2008), seu companheiro de vida, e outros artistas, fundou o Teatro dos Sete. Desde então, manteve seu compromisso com as artes cênicas.

“O título de grande dama do teatro brasileiro soa honroso. Mas, além de ser solene demais, o que não combina com ela, e um bocadinho cafona, o que combina menos ainda, desvia a atenção da notícia central: mais que uma dama, ela sempre foi operária, desde as origens familiares ao compromisso com o ofício.”
Pedro Bial, jornalista, em Conversa com Bial (TV Globo), em 2020
Na telona

O cinema entrou na vida de Fernanda Montenegro em 1965 com A Falecida, de Leon Hirszman. Mas ela sempre será lembrada por Central do Brasil (1998), filme de Walter Salles pelo qual foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz — a primeira latino-americana a receber essa indicação.
Na telinha

A paz de espírito do brasileiro é ligar a TV e se deparar com a solidez de Fernanda Montenegro. Além de novelas como Guerra dos Sexos (1983) e Belíssima (2005), fez minisséries como O Auto da Compadecida (1999) e Hoje é Dia de Maria (2005), além do especial Gilda, Lúcia e o bode (2020), gravado pelos próprios atores, em plena pandemia.

“Sou uma avó que trabalha demais, que ainda não teve tempo de sentar com seus netos pra contar as boas histórias da vida. Estou esperando a minha aposentadoria. O problema é que, quando isso acontecer, os netos já estarão velhos demais.”
Fernanda Montenegro, mãe de Fernanda e Cláudio Torres, avó de Joaquim, Antônio e Davi, em entrevista à ISTOÉ Gente, em 2005
Décadas de posicionamento

Atenta, atualizada e politizada, se posiciona desde sempre sobre os assuntos relevantes — feminismo, homofobia, racismo, cenário político nacional, etarismo e muitos outros — com elegância, sem perder a compostura.

“Eu acho que o público sempre aceita o jovem gay. Mas duas senhorinhas lésbicas, de oitenta e tantos anos, e ainda trocando um ligeiro beijo na boca… Isso foi um escândalo maluco, inexplicável, assustador. A gente pensa que o mundo caminha, mas não.”
Fernanda Montenegro, comentando a rejeição que sofreu do público com a sua personagem lésbica em Babilônia (2015)
Em plena forma

Imortalizada pela Academia Brasileira de Letras desde 2022, a atriz celebra, em 2024, 95 anos de idade e oito décadas de carreira. Além de encenar o espetáculo Fernanda Montenegro lê Simone de Beauvoir, viu Ainda estou aqui, filme de Walter Salles no qual atua, ser ovacionado no Festival de Veneza e está gravando Velhos Bandidos, ao lado de Ary Fontoura, Bruna Marquezine e Lázaro Ramos.
Crédito da imagem de abertura: Leila Fugii / Divulgação