Prestes a lançar Viva Tu, o músico franco-espanhol que poderia ter inventado a expressão world music reaparece na garupa dos motoboys de SP após quase 17 anos sem gravar um disco.
Filho de intelectuais espanhóis, José Manuel Tomás Arturo Chao Ortega nasceu e cresceu nos subúrbios de Paris, onde fundou várias bandas até bombar com a Mano Negra. O sucesso acabou em treta, ele vagou pelo mundo por uns anos e voltou com a pedrada Clandestino. Anos depois, cansou da fama e sumiu. A gente ama e conta por quê.
É um ícone global antiglobalização

Ele dá voz ao orgulho das periferias do mundo. Tem o dom de fazer uma música que soa bem, enquanto coloca o seu ativismo na mídia. Dos imigrantes “ilegais” em Clandestino aos motoboys de SP em Viva Tu, com previsão de lançamento em 20 de setembro, aproveita sua popularidade pra falar das causas que apoia.

“Manu doou muito dinheiro de uma forma discreta, porque não queria ser visto como legalzão por fazer isso, como Bono ou Sting. Tem uma fundação e faz isso de forma privada. E nunca deu sermão a ninguém sobre como ele é bom com pessoas desfavorecidas.”
Peter Culshaw, autor da biografia Clandestino: In Search of Manu Chao
Marca registrada

Aquela vozinha flamenca, a batida marcada, tudo muito verdadeiro, muito singelo, muito… parecido. E tudo bem. É da sua marca registrada que o mundo gosta.
É uma não celebridade.

Muita gente que mora em Barcelona, onde vive, já fumou um, tomou uma, bateu bola ou fez um som — e um rolê aleatório — com o Manu Chao. Ele anda na rua, rejeita a fama, declina convites de grandes festivais, é avesso a entrevistas, tem vergonha de viajar de executiva e, segundo reportagem do El País, não usa celular.

“Esqueça todas as biografias de estrelas da música. Elas são tão parecidas, tão apegadas ao clichê de sexo, drogas e rock & roll, que escrutinar a vida do fugitivo e austero Manu Chao é uma divertida luta de contradições vitais.”
Ulises Fuente, jornalista musical, em reportagem do La Razón
Miña moto ê um avión

Ainda que o espanhol predomine, sua obra é uma salada linguística, o que o aproxima de vários públicos e fura bolhas. Tem coisa mais irresistível do que Manu Chao cantando em portunhol com sotaque francês em seu novo single São Paulo Motoboy?
É arroz de festa
De Skank a BaianaSystem, de Toots and the Maytals a Amadou & Mariam, a lista de collabs com gente grande é enorme. Mas também dá palco pra músicos que estão começando e até canja no boteco. Numa dessas, gravou a lindeza El Silencio com três moleques que, confinados na pandemia, tiravam som de um balde com colher de pau.
Crédito da imagem de abertura: Dani Daperna / Wiki Commons