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Por que amamos Mateus Aleluia

Por
Adriana Setti
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Em seu aniversário de 81 anos, prestamos nossa humilde homenagem a esse compositor e pesquisador, um dos mais belos e profundos elos de conexão entre o Brasil e a África.

Nascido em Cachoeira, no Recôncavo Baiano, Mateus Aleluia trouxe novos ventos à MPB a partir dos anos 1960, ao integrar — com Dadinho, Heraldo e, depois, Badu — os Tincoãs, primeiro grupo a expressar amplamente a herança cultural dos povos africanos que constituíram a sociedade brasileira. Cordeiro de Nanã e Deixa a Gira Girá são algumas das maravilhas compostas pelo trio.

Os Tincoãs - Por que amamos Mateus Aleluia
Foto: Os Tincoãs / Divulgação

Faz música espiritual

Por que amamos Mateus Aleluia
Foto: Vinicius Xavier / Divulgação

Embalada por acordes de violão que arrepiam todos os pelos do corpo, sua voz de barítono faz algo remexer entre o estômago e o coração, invadindo a alma e nos colocando em contato com um “algo mais”.

Por que amamos Mateus Aleluia

“Os Tincoãs revolucionaram a música brasileira ao harmonizar o canto afro-religioso. Representam um Brasil insurgente que, apesar de ser vítima dos piores males coloniais, nunca deixou de produzir beleza. É uma fonte inesgotável de inspiração pra mim, ainda mais agora, quando o país está vivendo um momento de reconhecimento da cultura negra.”

Emicida, cantor, compositor e apresentador, em entrevista ao The New York Times

É ponte entre Brasil e África

Vídeo: Tenille Bezerra / Divulgação

Em 1983, Mateus Aleluia embarcou com os Tincoãs rumo a Angola pra acompanhar Martinho da Vila em um show — e só voltou 20 anos depois. Na capital angolana, encontrou “uma outra Bahia” que o fez aceitar a si mesmo. Nessas duas décadas, dedicou-se à pesquisa sobre a ancestralidade musical pan-africana do Brasil.

Por que amamos Mateus Aleluia

É nesse Shangri-La dourado
Que sonho já de outras vidas
Sereia nesse mar de sonhos
Bailando em ritos coloridos
Luanda, mistério
Resgatou-me a vida

Quando eu vim pra esse mundo
Eu mostrei minha cara
Sem marcar bobeira
Cantei o meu canto
E fiquei por cá
Coisa castiça
Coisa tão bonita
Coisa tão faceira
Cantei o meu canto
E vi Luanda

Letra de Fogueira Doce (2017)

Só melhora

Cincos Sentidos - Por que amamos Mateus Aleluia
Fogueira Doce - Por que amamos Mateus Aleluia
Olorum - Por que amamos Mateus Aleluia
Afrocanto das Nações 1 - Por que amamos Mateus Aleluia

No retorno ao Brasil, inspiradíssimo, deu continuidade à sua trajetória artística em carreira solo e lançou os álbuns Cinco Sentidos (2009), Fogueira Doce (2017), Olorum (2020) e Afrocanto das Nações 1 (2021), indicado ao Grammy Latino. Feche os olhos, aperte o play e decole.

É aula de antropologia

Por que amamos Mateus Aleluia
Foto: Paola Alfamor / Divulgação

Desde 2020, Mateus Aleluia desenvolve o projeto Nações do Candomblé, dedicado a refazer as pontes entre as matrizes musicais do culto do candomblé e os cantos sagrados africanos. Afrocanto das Nações 1 é o primeiro volume da tradução dessa pesquisa em álbum.

Por que amamos Mateus Aleluia

“Tento falar a língua do meu interior. Muita coisa que eu quero dizer, não consigo com palavras. Nosso vocabulário é pobre, não acompanha. Então, procuro a linguagem dos orixás, dos vodus, a língua dos anjos. E sai como se fossem vocalizes. O que é isso? Eu não sei, mas minha alma sabe. E quem escuta sente.”

Mateus Aleluia em entrevista a Pedro Bial (Conversa com Bial)

Crédito da imagem de abertura: Vinicius Xavier / Divulgação