Poeta subversivo, tradutor, crítico literário, músico e judoca, o autor de Catatau — livro que reinventou a prosa brasileira — continua sendo vanguarda, mais de 35 anos após a sua morte.
Curitibano de nascimento, universal por vocação, Paulo Leminski (1944-1989) provou que a erudição não precisa ser sisuda e furou a bolha da poesia, tradicionalmente vista como um gênero nichado. Com humor ácido e alma pop, viveu apenas 44 anos, mas sua obra segue influenciando poetas e escritores contemporâneos. Não à toa, é o homenageado da 23a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que rola de 30 de julho a 03 de agosto.

“Isso de querer ser exatamente aquilo que a gente é ainda vai
nos levar além.”
Paulo Leminski
Poesia fora da caixa
A escrita sem maiúsculas, a ausência de pontuações, o bigodão, as referências pop, a veia beatnik: tudo isso faz com que Leminski consiga dialogar com as gerações mais jovens até hoje. Lançada em 2013 pela Companhia das Letras, a antologia Toda Poesia chegou a liderar listas de mais vendidos e fez com que o interesse pelo autor ganhasse novo fôlego.


Não discuto
não discuto
com o destino
o que pintar
eu assino
Com estilo próprio e linguagem marcante, ele se apropriou de ditados populares e da sofisticação minimalista dos haicais japoneses, usou e abusou de gírias e palavrões, incorporou clichês publicitários à poesia e escreveu frases que poderiam muito bem estar pichadas em muros — muitas, aliás, depois o foram.
Fonte: Trecho de “Paulo Leminski, o poeta pop que o Brasil perdeu há 35 anos”, do escritor Edison Veiga (BBC News Brasil)
Faixa preta
Judoca exímio, Leminski via o combate como metáfora estética. A disciplina do tatame influenciou sua escrita: economia, precisão e impacto.
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Paulo Leminski


“A forma breve não é um valor em si; o breve pode ser apenas pouco. Ter ouvido a lição da poesia concreta também não é garantia de concretizar poesia. […] Mas Leminski não bate palmas para as performances do acaso, nem tem o vício de achar tudo ótimo. Simplesmente não deixa por mais quando pode acertar no menos, e nunca se contenta com o mais ou menos.”
Leyla Perrone-Moisés, escritora e crítica literária

Muito mais que poeta
· Traduzia do japonês Matsuô Bashô ao russo Vladimir Maiakovski.
· Escreveu biografias, jingles, manifestos e críticas com igual brilho.
· Fez parcerias com músicos como Caetano Veloso, Moraes Moreira, Jorge Mautner, Guilherme Arantes e Itamar Assumpção.
“A partir do gesto de tirar as coisas de lugar, é como se ele nos fizesse a pergunta: por que a literatura e as artes não estão mais presentes na vida das pessoas? Da mesma forma, Leminski nos ensinou que a utilidade da arte é ser arte em primeiro lugar.”
Mauro Munhoz, diretor artístico da Flip