Primeira mulher a passar o inverno isolada no Ártico, aos 27 anos de idade, a velejadora já enfrentou perrengues épicos, escreveu quatro livros e atravessou o Atlântico sozinha. Tá bom pra você?
No fim de junho, Tamara Klink zarpou com o seu veleiro — o Sardinha 2, de 10,5 metros — do lugar onde viveu rodeada pelo mar congelado, sozinha, por oito meses, em um fiorde na Groenlândia. Concluía, assim, a façanha de ser a primeira mulher a completar o período de invernagem no Ártico, onde não amanhece por mais de três meses e as temperaturas chegam a -40oC. A gente tira o nosso chapéu.

“No Ártico entendi o que é ser humano antes de ser mulher, independentemente dos rótulos e dos nomes que a gente recebe ou não quando nasce. E descobri que ainda existem lugares onde o que a gente parece importa menos do que a gente é. Foi isso que permitiu que eu me sentisse tão livre.”
Tamara Klink em entrevista ao Fantástico, da Rede Globo
Tem medo. E vai com medo mesmo.

Pra chegar à Groenlândia, outro feito: Tamara foi a brasileira mais jovem a atravessar o Círculo Polar Ártico sozinha, desviando de icebergs e do seu próprio medo. Em 2021, foi a pessoa mais jovem do Brasil a atravessar o Oceano Atlântico sozinha — o relato está em Nós: o Atlântico em solitário.

“Quando passamos dias sem olhar nós mesmas no espelho, ver outros rostos ou encontrar outras vidas, vamos descobrindo nosso lado mais selvagem. E que o corpo é um instrumento muito mais complexo e capaz, com várias outras maneiras de ser além daquelas que a gente usa todos os dias.”
Tamara Klink, velejadora e escritora, no TEDx “Cruzei o Atlântico sozinha, e não tive coragem”
É inspiração pra outras mulheres

Segundo Tamara, a pessoa que navega solitária não tem gênero, nem nome, nem idade. É só um ser humano que morreria em menos de um dia se não fossem os (poucos) objetos de que dispõe. E isso é assustador e libertador em idênticas proporções.
Sobrenome não cruza oceano

Sim, Tamara é filha de Amyr Klink, um dos maiores navegadores da atualidade. Mas ele deixou claro, desde cedo, que não a ajudaria, nem financeiramente, nem com conselhos. E assim foi.
Ri das próprias desgraças

Pra velejadora, o escuro do Ártico não foi tão escuro, graças à luz das auroras e das estrelas; o frio não foi tão frio, porque havia casacos; a solidão não foi tão solitária, graças à sua imaginação. Cair no mar congelado, se salvar graças a um pedaço de gelo e passar dias sem entender se estava viva ou morta? Faz parte.
É sábia

Suas vivências lhe trouxeram insights incríveis sobre liberdade, silêncio, tédio, medo, relação do ser humano com a natureza, finitude, sentido da vida, desapego, consumismo e os efeitos “mágicos” que a música e os sonhos exercem sobre nós quando estamos longe de tudo.
Crédito da imagem de abertura: Tamara Klink