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Welcome to Singapura: que marca é essa que consegue ser consciente e sexy ao mesmo tempo?

Por
Adriana Setti
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Diretor criativo da marca que vem conquistando adeptos com suas peças oversized e minimalista, Lucas Veríssimo busca inspiração no surf, no skate e na escalada e foca sua energia para fazer coleções que tenham o menor impacto ambiental possível.

Em 2019, o paulista Lucas Veríssimo, 28 anos, passou um mês escalando no Yosemite Valley, trabalhou em uma fazenda orgânica na Califórnia e passou por outras experiências transformadoras perto da natureza. De volta ao Brasil, resolveu viver com uma mala de roupas, um skate mais alguns livros, e tirar do papel o projeto de criar uma marca de peças básicas com valor sustentável. Assim nasceu a Singapura (@welcometosingapura), ou apenas Singa, que vem conquistando adeptos com uma moda que transcende o tempo presente com modelagens e estampas que, objetiva ou subjetivamente, transmitem a visão de mundo do seu criador. E cujas mensagens conectam diretamente ao coração da galera que consome. “Tive uma infância perto da natureza e isso tem impacto nas minhas escolhas até hoje, dos esportes que pratico até a direção criativa e a visão da Singapura”, diz Lucas, que nasceu em São Sebastião, no litoral paulista. “A escalada, o surf e o skate tiveram movimentos contraculturais importantes em seus desenvolvimentos e boa parte da minha inspiração vem da intimidade que tenho com a história dessas modalidades”. Aqui, ele fala sobre seu lifestyle minimalista e conta como suas coleções conseguem ser conscientes e sexy ao mesmo tempo.

Lucas Veríssimo, fundador e diretor criativo da Singapura | Crédito: arquivo pessoal

Por que a marca se chama Singapura?

O nome Singapura surgiu de uma música do Tom Waits, chamada Singapore. Traduzi o nome para o português e soou bem. Muitas pessoas usam o apelido carinhoso de Singa. Nós, no ateliê, usamos Singa.

Como nasceu a Singapura?

O projeto autoral Singapura nasceu no período em que trabalhei com criação para outras marcas e empresas, como o Grupo Chez, Orfeu, Epicentro Jardins e Bar Secreto. Comecei a desenhar algumas roupas e peças gráficas como um exercício de experimentação.

Você costuma dizer que encontrou inspiração para a marca em uma viagem. Como foi isso?

Depois de voltar de uma temporada longa pelo exterior, no final de 2019, comecei a trabalhar profissionalmente no projeto, carregado de inspirações que colhi na viagem, que teve várias aventuras. Em uma delas, passei um mês acampando no Yosemite Valley e escalando com ativistas. Em outra, trabalhei em uma fazenda pela WWOOF [rede que promove o trabalho voluntário em propriedades ecológicas] em Santa Clarita, na Califórnia. Foram muitas experiências transformadoras que me fizeram voltar com uma ideia muito clara de fazer da Singapura uma marca de roupas essenciais com valor sustentável.

Lucas e um amigo em 2019, durante escalada no Yosemite Valley, na Califórnia: embrião da Singapura

Como criar peças mais limpas, com menos impacto ambiental, sem comprometer o design?

Ser mais consciente no desenvolvimento de produto não é uma grandeza diretamente proporcional à caretice. Somos jovens, somos sexy, e ainda assim conscientes do nosso impacto e sérios em relação ao nosso propósito de ajudar a salvar o planeta. Usamos os recursos da empresa para iniciativas como 1% for the Planet [um por cento das vendas anuais são doadas para causas ambientais], participamos de plantios de árvores nativas da mata atlântica, entre outras ações. Estamos fortes nesse caminho. A empresa ganhou corpo entre 2020/2021 e estamos avançando em pesquisas de materiais com menor impacto para lançar em 2022.

A Singapura é para jovens?

Enxergo beleza e sensualidade no envelhecimento também. Trata-se mais de um frescor e não exatamente de ser “jovem”. 

Como foi sua trajetória até criar a marca?

Nasci em São Sebastião, no litoral de São Paulo. Tive uma infância perto da natureza e isso tem impacto nas minhas escolhas até hoje, dos esportes que pratico até a direção criativa e visão da Singapura. Meus pais não têm relação nenhuma com design, artes ou moda, mas a cidade pequena obrigou a minha geração a reproduzir o que víamos na internet, mas não conseguíamos acessar. Aos 15 anos eu já ajustava as minhas próprias roupas e fazia camisetas à mão dos filmes e bandas que amava. Costumava consertar tudo sozinho. Se quebrava o veleiro de um amigo, a gente se juntava e ia lá tentar dar um jeito para continuar navegando. A cultura DIY [faça você mesmo na sigla em inglês] era muito presente na nossa turma, mesmo sem a gente fazer ideia do que era aquilo. A gente simplesmente precisava se virar pra continuar com a diversão ou, no caso das roupas, pra poder expressar o que desejávamos no momento.

Como a escalada, o surf e o skate se encontram na marca em termos de inspiração e estilo?

Escalada, surf e skate são esportes que tiveram movimentos contraculturais importantes em seus desenvolvimentos. Esses movimentos costumam ter uma identidade visual e signos fortes, que fazem parte do meu repertório. Diria que, com certeza, boa parte da inspiração para criar vem dessa minha intimidade com a história dessas modalidades.

Que tipo de consumidor você tem em mente quando cria uma peça?

Sempre criei influenciado por uma demanda própria. Faço as roupas que tenho vontade de usar e acaba rolando uma convergência ou um inconsciente coletivo que me conecta aos consumidores da Singa como diretor criativo. É tudo muito visceral e intuitivo no processo de criação. Qualquer tipo de estratégia ou lapidação vem em um segundo momento, com o objetivo de eliminar excessos e deixar os produtos mais bem resolvidos.

O minimalismo é um dos pilares da marca. Você é minimalista no seu estilo de vida?

Risos. Desde que voltei de viagem, há dois anos, vivo com uma mala de roupas, uma bolsa com equipamento de escalada, alguns livros e um skate. Ultimamente, tenho pensado em transformar meu carro numa campervan para morar nele. Mas acho que seria muito exagerado fazer isso tendo que trabalhar a maior parte do tempo em São Paulo.

Qual a fórmula para viver do consumo sem incentivar o consumismo?

Sinceramente, acho que essa fórmula não existe. O que posso dizer é que o meu sonho é criar produtos que durem uma vida inteira, que tenham o menor impacto e que devolvam algo para o planeta e as comunidades. Paralelamente, tento consumir o mínimo e com a maior consciência possível.

A pandemia fez você repensar algum ponto do seu trabalho de criação? Qual?

Sim… Me fez, de fato, valorizar o processo e respeitar o tempo de cada projeto. Ao mesmo tempo, acho que desenvolvi um senso de urgência constante, que me diz todos os dias que o tempo de agir é o agora.

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