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54 horas em Salvador: matando a larica de praia, música e rango na capital do verão do Brasil

Por
Fernanda Nascimento
Em
1 agosto, 2020
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Seja na efervescência do verão, quando tudo transborda sob o sol quente da Bahia, seja no resto do ano, quando a cidade se renova e se inspira, há uma energia em Salvador que não existe em nenhum outro lugar do mundo.

O calor de Salvador não é só uma questão de temperatura. Ele vem das ruas, das pessoas, da música, da dança e abraça toda a cidade, que segue num ritmo só dela. Seja na efervescência do verão, quando tudo transborda sob o sol quente da Bahia, seja no resto do ano, quando a cidade se renova e se inspira, há uma energia aqui que não existe em nenhum outro lugar do mundo. E ela não está só no Pelourinho ou nos pontos turísticos cheios de estrangeiros enrolando no pulso uma fitinha do Bonfim. Está nos bares do Rio Vermelho, nos palcos dos espaços culturais da cidade ou numa panela de moqueca borbulhando no fogão de uma baiana no meio de uma comunidade à beira-mar. É esta Salvador que desbravamos neste roteiro de 54 horas pela capital baiana.

DIA 1

20h
Desbravando o Red River

Toda noite em Salvador começa ou termina no Rio Vermelho. Não por acaso, o bairro sustenta há anos o título de mais boêmio da cidade. São muitos “picos pra se curtir o reggae”, espalhados por três regiões principais: Paciência, Largo da Mariquita e Largo Sant’Anna. Na Paciência, a rua vira extensão da calçada que vira extensão do Chupito, bar do chef espanhol José Morchon que prepara drinks servidos como shots, em pequenas porções. Antes de encarar o agito, que começa tarde da noite, experimente as tapas de Morchon servidas no restaurante La Taperia, a poucos passos de distância.

Chupito: drinks divididos por fracos, médios e fortes | Foto: Rafael Zu/Vida Bohemia

21h
Música à beira-mar

O casarão onde nos anos 1990 funcionou um dos principais redutos de música nordestina, o bar Idearium, foi repaginado e se transformou no Mercadão Criativo e Colaborativo, ou Mercadão.CC. Durante o dia, a casa no Rio Vermelho abre as portas como coworking e espaço pra encontros e reuniões. À noite rolam festas de discotecagem em vinil, pistas de música eletrônica, jam sessions e, todo domingo, cumbia até de madrugada com a orquestra Sonora Amaralina. 

23h
Larica obrigatória

De um enorme tacho saem bolinhos de feijão-fradinho coloridos pelo azeite de dendê. Cortados ao meio, eles ganham uma pincelada de pimenta, uma boa porção de vatapá, caruru, camarão e uma saladinha de tomates. O acarajé é a larica oficial dos boêmios do Rio Vermelho. No Largo da Mariquita fica a baiana Cira, que montou seu primeiro tabuleiro em Itapuã e hoje tem outras duas unidades na cidade. Já no Largo Sant’Anna está o Acarajé da Dinha, outro tabuleiro famoso hoje comandado pela família da baiana.

DIA 2

Gamboa: o segredo hipster, agora revelado | Foto: Ricardo Moreno

10h
Mergulho cristalino

No último verão, a Gamboa se tornou o segredo mais comentado de Salvador. Pra além do hype, a pequena praia de pedras banhada pela Baía de Todos-os-Santos é de fato especial. Menos conhecida pelos turistas, tem um mar cristalino e vista para o sol se pondo na Ilha de Itaparica. O acesso se dá pelo Museu de Arte Moderna (MAM), que tem um simpático café com mesinhas do lado de fora junto ao mar. 

13h
Quintal baiano

Escondido nas vielas da comunidade Solar do Unhão, o RéRestaurante é também o quintal de Dona Suzana. Há seis anos, a baiana colocou meia dúzia de mesinhas de plástico na frente de sua casa para servir as moquecas que começa a preparar às 6h da manhã. É ela quem atende os clientes que fazem fila nos finais de semana pra experimentar os pratos preparados com frutos do mar pescados por seu marido logo ali, na Baía de Todos-os-Santos, que faz a vista de seu restaurante. O nome do restaurante, com o “Re” repetido, é uma referência divertida à maneira arrastada como Dona Suzana pronuncia a palavra.

Dona Suzana, do RéRestaurante: o nome faz referência à maneira arrastada
como ela pronuncia a palavra | Foto: Wendy Andrade/Vida Bohemia

15h
Comprinhas nada clichês

Numa ruela em Santo Antônio Além do Carmo fica a Casa Boqueirão, uma loja colaborativa de arte, design e moda. Inaugurada no ano passado pela arquiteta Tânia Póvoa e pelo artista Alfredo Gama, vende gravuras, pinturas, peças de decoração, roupas, acessórios e livros, privilegiando produtores locais e com a curadoria caprichosa da dupla. Aproveite a visita pra tomar um café ou uma cerveja nas mesinhas com vista para o mar.

17h
Refresco do calor

Um passeio pelas ladeiras de Salvador debaixo do sol quente do verão pede uma pausa para um sorvete. A mais antiga da cidade, a Sorveteria da Ribeira serve mais de 60 sabores de sorvete. Lá tem receitas com frutas exóticas e também o famoso coco espumante, espécie de milk-shake feito com a nata do coco.

O restaurante Lina, no Fera Hotel: buffet no almoço e a la carte no jantar | Foto: Divulgação

20h
Antes do pé na jaca…

A mineira Manuelle Ferraz, chef do premiado A Baianeira, em São Paulo, recentemente passou a assinar o cardápio do Lina, o restaurante do Fera Palace Hotel. O cardápio contempla reinterpretações de clássicos da cozinha brasileira. Comece com o inesquecível pastel de abóbora com quiabo. De prato principal, o polvo com pirão de parida e beiju não tem erro. Pronto, já podemos começar a beber.

22h 
O novo clássico

Fundado em 1920, o bar Espanha, nos Barris, era um dos mais tradicionais da cidade. Frequentado por intelectuais e personalidades como Glauber Rocha, funcionou no mesmo endereço até 2012, quando foi vendido pela família de espanhóis que tocava o bar. Em 2017, na iminência do casarão virar um restaurante de comida japonesa, dois moradores do bairro transformaram o espaço no Velho Espanha. Eles deixaram algumas marcas do tradicional Espanha e trouxeram festivais, shows e debates para a programação cultural da casa.

DIA 3

9h
Glicose logo cedo

A doceira Catarina Ribeiro vendia seus brownies em feiras da cidade antes de abrir as portas da Casa Castanho ao lado da sócia Cris Une. No café da manhã servido na varanda a partir das 8h da manhã doces como o bolo de rapadura chegam acompanhados da tostada de abobrinha ou cogumelos e do creme gelado de banana e frutas vermelhas salpicado com a granola da casa. 

Porto do Moreira: quase um século de história | Foto: Fabio Marconi/Secretaria de Cultura de Salvador

13h
Raízes portuguesas na mesa

Quando José Moreira inaugurou seu restaurante na entrada do Largo Dois de Julho, Salvador pouco se parecia com o que é hoje. O ano era 1938 e o português, apesar de ter a carpintaria como ofício, apostou no talento culinário da sogra para abrir as portas do Porto do Moreira. Ele virou até personagem do escritor Jorge Amado, um dos tantos frequentadores ilustres da casa. Hoje comandado pelo filho de José, Chico, o restaurante é daquelas tradições deliciosas (e nada empoeiradas).

15h 
Café sem pressa

É preciso tempo pra fazer um pão, diz a filosofia da Ahorita. A calma parece funcionar na micropadaria artesanal, que serve receitas de fermentação natural preparadas pela cozinheira Maria Eme Bê. Durante a semana, o cheiro de pão invade a casa às 15h, quando as portas se abrem pra quem quer tomar um café, levar uma fornada para casa ou experimentar os cookies e panetones preparados ali. 

Pôr do sol no Porto da Barra | Foto: iStock

17h 
Pra aplaudir o sol sem vergonha

Na praia do Porto da Barra, nem todos chegam pra aproveitar o dia. No final da tarde, quando o sol está prestes a ser engolido pelas águas da Baía de Todos-os-Santos, os visitantes começam a se acomodar na areia ou na muretinha para assistir ao entardecer. É daqueles clichês que valem a pena – com direito a um mergulho no mar que mais parece uma piscina. 

19h
Casa dos sonhos

Há cinco anos o empresário Ricardo Dantas movimenta a cena cultural da cidade com o Lálá. Antes batizado de multiespaço, o casarão de quatro andares à beira-mar no Rio Vermelho se transformou em Casa de Arte, um espaço pra receber os amigos e os amigos dos amigos com uma programação inspiradora. São shows, debates, cafés da manhã, oficinas e exposições, sempre abrindo espaço para experimentações artísticas e novos nomes da cena musical de Salvador. O Lálá funciona só durante os eventos, então fique de olho na programação nas redes sociais. 

Foto de abertura: Praia do Buracão, no Rio Vermelho | Crédito: Rafael Martins/Vida Bohemia
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