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Skate or die! A vida louca e iluminada da fotógrafa Tauana Sofia

Por
Fabiana Corrêa
Em
21 novembro, 2018

Vans em um dia, Paula Raia no outro. Tauana une o universo do esporte e da moda em seus cliques, presentes em todos os lugares

Tauana Sofia simplesmente não para. De trabalhar, de buscar novos projetos, de falar. Muitas e muitas palavras por minuto. “É, eu sou meio aceleradinha”, diz. Mas no dia da entrevista ela tinha mais motivos para essa ansiedade. Seu filme sobre a skatista Yndiara Asp, destaque na cena nacional, seria exibido pela primeira vez, com patrocínio da Vans, marca que admira desde a adolescência. “Estou beeem ansiosa. A Yndiara não tinha nenhum material, eu fui bater na porta da Vans para eles bancarem o filme. Quero mostrar esse universo feminino do skate, incentivar outras garotas e contar o que ela faz e pensa, porque é uma inspiração pra pessoas em qualquer profissão.”

Achei a própria Tauana também uma inspiração. Basta dar uma olhada em seus dois perfis no Instagram (@tauanasofia e @handsdirty_) para achar que a sua vida anda meio parada. É um trabalho atrás do outro, como se desse para estar em dois lugares ao mesmo tempo. Campanha da marca de roupas Bolovo na Ilha do Mel (PR) em um dia, shooting para as mídias sociais da Azaleia no outro, bastidores do desfile da estilista Paula Raia em seguida, bate-e-volta em Porto Alegre (RS) para fotografar uma campanha da Renner logo mais… Cansa só de ouvir ela falar mas, pra Tauana, é tudo de boa. “Eu não acho nada uma função. Se alguém me disser que eu tenho que atravessar a cidade pra buscar uma luz ou chegar no estúdio às 4h da manhã, eu vou feliz.”

Tauana Sofia Vans
Fotos: JP Faria

Foi nesse pique que ela deixou, no ano passado, Rio Tavares, um bairro em Florianópolis (SC) de frente pro mar e um dos lugares do Brasil com mais pistas de skate por metro quadrado onde passou boa parte da infância – e se mudou para São Paulo. Desde criança, a blumenauense adora skate e vive nesse ambiente. Pedro Barros é amigo desde muito cedo. Yndiara também a conheceu por lá. Os dois ficaram em primeiro lugar no último Oi STU, campeonato realizado no Rio nesse mês, que vai servir de classificatório para as Olimpíadas. A vida estava estava boa e tranquila, mas tranquilidade não é o lance de Tauana. “Eu curto muito a estética e a galera do skate, mas antes de vir pra São Paulo só fotografava no bowl por hobby. Desde o começo, o que eu queria era clicar roupas e modelos lindas em cenários incríveis.”

Essa história de ser fotógrafa de moda começou aos 19 anos. Durante a faculdade de cosmetologia (a segunda que cursou, depois de ter largado o curso de psicologia no início), ela já clicava com sua Sony Cybershot, uma das primeiras câmeras digitais amadoras. Um dia pegou emprestada uma Fuji semi-profissional do irmão e saiu fazendo editoriais na raça. “Chamei a amiga mais linda que eu tinha e fomos pra praia às 6h da manhã fazer as fotos. Postei no Facebook e a galera começou a curtir, até que uma marca de Florianópolis, a Mundo Lolita, me viu e me chamou pra fazer os primeiros trabalhos”, conta. O pai, que já foi ator e palhaço, incentivou a largar o emprego em uma clínica de estética, onde Tauana não estava nada feliz. Era muita energia represada. E ela passou a colocar toda essa vontade para se estabelecer como fotógrafa. “Quase tudo o que consegui foi com a ajuda das redes sociais. Eu postava tudo o que fazia”.

Tauana Sofia
Reprodução Instagram @tauanasofia

Passou a clicar campanhas para mídias sociais de marcas de moda locais aos montes. “Todo início de ano, eu fazia uma lista de gente pra quem eu queria trabalhar e mandava email pra umas 600 pessoas. Dez respondiam e alguns me chamavam. Esse foi o primeiro ano em que não precisei fazer isso”, diz. E à noite ainda achava tempo para circular entre a galera, como no bar da Void, onde foi apresentada a algumas das pessoas que acabaram mandando alguns jobs. Por meio da turma da Void conheceu também Deco Neves e Lucas Stegmann, fundadores da Bolovo. E, por conta deles, veio o job para os chinelos Rider.

A virada para esses trabalhos com marcas mais expressivas começou em 2017. “Eu fui passar férias na Indonésia de um mês, pela primeira vez, o que mexeu com a minha cabeça”, lembra. Na volta, ficou sabendo da morte do amigo Lucas Zuch (surfista e criador do site Surfari), que era um incentivador do seu trabalho, aos 27 anos, enquanto surfava no Rio de Janeiro. “Eu tatuei a frase que ele sempre dizia, Life is good”, diz, mostrando a nuca. “Fiquei um mês sem trabalhar. Não entendia o porquê dele ter morrido, porque as coisas são assim.”

Tauana Sofia
Campanha para Renner

Depois do mini-sabático e de pensar muito na vida, Tauana mudou o estilo. Baixou a bola, aprendeu a controlar um pouco a ansiedade. Mudou para São Paulo e foi morar em uma casa cheia de gente ligada às artes, entre eles Fernando Schlaepfer, do coletivo I Hate Flash. Essa galera a incentivou a ler mais, buscar referências, criar um trabalho autoral. “Eu vivia com uma mentalidade negativa, achava que as coisas não iam rolar, e o Lucas me dizia para pensar só coisa boa. Pensa que vem. E veio”.

Foi cheia de pensamentos do bem que ela bateu na porta da Vans para pedir trabalho. Lucas estava certo e, dessa vez, Tauana passou a ser paga para fotografar os eventos e atletas da marca, incluindo aí o campeonato Vans Park Series, que aconteceu na Califórnia esse ano. “O que era hobby virou meu sustento, eles passaram a me dar tarefas, inventar coisas pra que eu pudesse trabalhar pra eles”, diz. Foi assim também com o mais recente trabalho internacional. “Eu disse pra galera da Vans que estava indo pra Califórnia e tinha comprado minha passagem. Cheguei lá, pedi uma credencial para a responsável pelo RH da Vans global e consegui! Era quase impossível, mas tive acesso a todas as áreas, cliquei tudo e os caras ficaram amarradões. A Vans mundial usou minhas fotos, todos os atletas usaram, foi tudo.”

E tudo isso deu tranquilidade para que a fotógrafa continuasse correndo atrás do plano A, os tais editoriais de moda, como alguns que fez recentemente para as revistas Glamour e Vogue, cujas editoras ela conheceu enviando mensagens via Instagram. “Eu quero fazer fotos no estilo das páginas de moda da [revista] Dazed [and Confused]. É disso que estou indo atrás.”

Tauana Sofia
Trabalho autoral

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O que fez Tauana se destacar no meio de tantos cliques é que ela retrata não só as manobras mas, principalmente, as emoções que giram em torno dos campeonatos de skate. “Se o Pedro Barros se classifica, o (Felipe) Foguinho larga o skate e vai lá torcer por ele. O skate une. É isso o que eu registro. O skatista comemorando com o filho, a emoção”, explica. E a moda, tem isso? “A moda é diferente, é outro universo e sei que ainda não pertenço a ele, estou batalhando para entrar”, diz. Tudo em um estilo bem Tauana, zero glamour, 100% guerreira. “Eu quero fazer moda pra fotografar coisas lindas. Mas não vou mudar meu jeito nem fazer carão pra conseguir trabalhos, vai ter que ser como eu sou”.

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