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54 horas em Tel Aviv: o guia sababa da meca hipster do Oriente Médio

Por
Adriana Setti
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Com 318 dias de sol por ano, o reduto mais progressista do Oriente Médio vive um eterno verão à beira do Mediterrâneo. Contraponto mundano ao peso espiritual de Jerusalém, Tel Aviv é uma espécie de bolha dentro de Israel, onde a religião praticada com mais devoção é o hedonismo

Não tem tempo feio em Tel Aviv. Com 318 dias de sol por ano, o reduto mais progressista do Oriente Médio vive um eterno verão à beira do Mediterrâneo, com seus 14 quilômetros de praia. Contraponto mundano ao peso espiritual de Jerusalém (*”Jerusalem prays and Tel Aviv plays”*), a metrópole de 405 mil habitantes é uma espécie de bolha dentro de Israel, onde a religião praticada com mais devoção é o hedonismo e a Parada do Orgulho Gay (em junho) tem tanta relevância quanto o Dia de Yim Kippur. O típico morador da cidade pratica yoga, circula de patinete elétrico, trabalha de chinelo em alguma startup (há uma delas para cada 240 habitantes!) e vive a noite como se não houvesse amanhã. A seguir, o guia definitivo pra curtir esse *lifestyle* sababa de Tel Aviv, em 54 horas.

Dia 1

18h
Branco é lindo 

Aproveite a luz de fim de tarde pra conhecer um dos bairros mais icônicos da cidade. A arquitetura Bauhaus nasceu na Alemanha nos anos 1920, mas foi em Tel Aviv que “viralizou”. Visto com um pé atrás na Europa, esse estilo funcional e austero deu match com uma cidade que, fundada em 1909, estava em plena expansão e não tinha apego ao passado. Pontilhado de pracinhas sombreadas, o Rothschild Boulevard tem alguns dos edifícios mais bonitos da chamada White City, um conjunto arquitetônico com cerca de 4 mil edifícios em estilo Bauhaus tombado como Patrimônio Universal pela UNESCO. Pegue uma bike pública da Tel-O-Fun e, pedalando pela ciclovia, cheque os prédios nos números 61, 82 e 84. Se quiser ir mais fundo no assunto, faça o passeio guiado do Bauhaus Center.

A cozinha movimentada – e animada – do Miznon, do chef Eyal Shani | Foto: Divulgação/Facebook

20h
O maravilhoso mundo do pita em Tel Aviv

Aos pés do arranha-céu espelhado que abriga vários unicórnios israelenses (startups avaliadas em mais de US$ 1 milhão), o Sarona Market está para Tel Aviv assim como o mercado Time Out está para Lisboa. Além de versões simplificadas de restaurantes pilotados por chefs badalados, o espaço tem várias lojinhas de comida e gadgets de cozinha. Aconteça o que acontecer, reserve apetite pra arrematar o jantar com um pedaço de halva (doce de gergelim) do Halva Kingdom. Agora, se a ideia for algo menos gourmetizado, saia do mercado e toque para o Miznon, onde o célebre chef Eyal Shani serve sua versão de street food, misturando tudo o que dá na telha dentro de um pão pita.

23h
O mundo todo em aramaico

Feche a noite nos embalos do Kuli Alma (na foto que abre este post), nas imediações do Rothschild Boulevard, uma das zonas mais boêmias da cidade. Dividido em vários ambientes, tem paredes forrada com grandes murais de *street art* e sinais de “proibido fumar” encarados pelo público como mera peça de decoração – subversão bem comum em Tel Aviv. O nome do lugar quer dizer “o mundo todo” em aramaico (!) e reflete a pegada eclética do som, que vai do afrobeat ao hip-hop, passando pelo funk.

Dia 2 

Vaivém frenético no mercado Shuk HaCarmel | Foto: Gilad Kavalerchik

9h
Ritual matinal 

Mais do que uma simples refeição, o desjejum em Israel é um ritual. Vá sem pressa (e com fome) ao Benedict e observe como sua mesa se converte num mosaico multicolorido. Pratinhos de pesto, homus, tahine, tapenade, saladinhas e outras maravilhas funcionam como abre-alas para o rei das manhãs: o shakshuka, uma espécie de ratatouille turbinado com ovos que é orgulho nacional. 

10h
É dia de feira

O mercado Shuk HaCarmel é a mais completa tradução da diversidade cultural e gastronômica de Tel Aviv. Dê um jeito de estar lá na sexta-feira de manhã, dia de fazer compras para o *shabat* (sábado é o domingo israelense, quando muitas lojas fecham). Use seu poder de barganha para comprar de luminárias a peças de cerâmica, passando pelas suculentas tâmaras madjul e outras laricas. A atmosfera vibrante se estende por todo o Karem. Nesse bairro que acolheu a comunidade iemenita, de arquitetura árabe, um boteco interessante brota de cada beco. 

Rooftop do bar Prince | Foto: Divulgação/Facebook

12h
Drinque nas alturas

Depois do rolê pelo mercadão, curta a feirinha de arte da rua Nahalat Binyamin e batalhe por um lugar ao sol no rooftop do Prince ou do Poli House, um edifício Bauhaus transformado em hotel boutique pelo designer egípcio Karim Rashid.

14h
Tel Aviv: a capital mundial do veganismo

Com seus casarões coloridos e ruas de paralelepípedos, o bairro de Nev Tedzek foi um dos primeiros assentamentos que, mais tarde, formariam a cidade de Tel Aviv. A partir do século 20, a região caiu no gosto de artistas e intelectuais (o prêmio Nobel da literatura Shmuel Yosef Agnon viveu aqui, por exemplo) e, pouco a pouco, transformou-se numa das mais elegantes da metrópole. O epicentro do bairro é a Shabazi Street, onde há cafés e lojinhas irresistíveis. Se a ideia for almoçar, vá ao Meshek Barzila, precursor da cena vegana – na capital mundial do veganismo, segundo o jornal britânico The Independent. Arremate com uma bola de manga com maracujá da Anita, provavelmente a melhor sorveteria artesanal do Oriente Médio, que tem um vasto cardápio vegano, claro. 

Churrasquinho de falafel no Meshek Barzila | Foto: Divulgação/Facebook

18h
Zona sul, zona show 

Na medida em que o Nev Tedzek foi ficando mais chique, a cena alternativa migrou em direção ao sul de Tel Aviv, tomando força no Florentin, um antigo bairro industrial cujos galpões decrépitos acolheram bares hipster, lojas vintage, estúdios de design e afins. Entre “gatos” de luz que se engalfinham nos postes e trepadeiras que parecem prestes a engolir as fachadas desgastadas, todos os caminhos levam ao Levinsky Market, outro lugar essencial para sentir a vibe e os aromas de Tel Aviv. A região concentra ótimos bares da comunidade grega, como o Ouzeria e o Pimpinella.

22h
Bar secreto de Tel Aviv

Um lugar que define o Florentin é a galeria que se abre atrás de uma grande porta de ferro no número 9 da rua Derech Jaffa. No andar de cima, o Romano é um restaurante de mão cheia, embalado por DJs que não desistem até altas horas da madrugada. E se você precisar subir alguns pontos no hipsterômetro, a parte de baixo da galeria é dominada pela Teder.FM, mix de rádio e balada itinerante que fincou raízes aqui. 

DIA 3 

9h
Mas antes, café da manhã

Abandone temporariamente a meca hipster do sul de Tel Aviv em nome do Café Xoho. Um dos melhores lugares da cidade para começar o dia, serve bagels, panquecas, bowls de granola, smoothies e clássicos israelenses – a duas quadras da praia. 

Stolero: cozinha mediterrânea e ótimos drinks de frente pro mar | Foto: Divulgação/Facebook

11h
Cada um no seu quadrado

Assim como o Rio de Janeiro, Tel Aviv tem seus 14 quilômetros de praias mapeados segundo o gosto do freguês. Já que você veio até o norte, comece pela Hilton’s Beach. Em frente ao hotel de mesmo nome (que tem um gramado ideal para ver o pôr do sol), você logo identificará a faixa de areia frequentada pelos esportistas, ao lado de um trecho reservado para cachorros, seguido do cantinho LGBT. Logo depois, quem diria, vem a praia dos religiosos, vedada dos olhares curiosos por um muro. Para almoçar por ali, vá ao novíssimo Stolero, que serve cozinha mediterrânea de frente para o mar.

14h
Um mundo à parte

Pedale pela orla de volta ao sul da cidade, onde a ciclovia vai desembocar em Yafo (ou Jaffa). Com mais de 5 mil anos, este porto ancestral palestino foi anexado – à força – à cidade, cujo nome completo é Tel Aviv-Yafo, em 1954. Questões territoriais à parte, Yafo continua sendo um universo à parte em Tel Aviv, com suas ruas de pedras e construções seculares “invadidas” por galerias de arte, cafés, hotéis boutique (como o novo e impressionante The Jaffa e uma vida noturna da pesada. Para começo de conversa, almoce no Puaa, um café com alma de antiquário (alguém disse hipster?) especialista em receitas saudáveis. 

15h
Casa de artista

Uma das maiores surpresas de Jaffa é o museu Ilana Goor, que expõe as obras da artista que lhe dá nome em seu próprio palacete do século 18, de frente para o mar. 

16h
Design local

Além de ter um mercado árabe onde é possível encontrar bugigangas interessantes, Yafo também é um dos bons lugares da cidade para descolar objetos de design e roupas de marcas e artistas locais. Entre as lojinhas mais originais estão a Saga, de decoração, e o QG da estilista Sharon Brunsher.

20h
Mil e uma noites

As noites são longas em Yafo, onde bares interessantes não param de surgir. Comece com uma cervejinha artesanal e um hambúrguer no novo Beer Bazaar, ou vá de coquetel no Beit Kandinof, onde rolam várias exposições. Depois, cheque o menu de música ao vivo do Cuckoo’s Nest, híbrido de bar, galeria de arte e antiquário. 

A fachada boho da loja de Sharon Brunsher | Foto: Divulgação
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