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Ele desvenda as almas encantadoras das ruas do Rio

Por
Anita Pompeu
Em
22 abril, 2016

O estilo do carioca é único. A gente até tentar imitar, mas essa receita de ginga + malemolência + sexy appeal + e desprendimento só carrega no DNA que nasceu na cidade. É uma forma de se vestir, de se comportar, de levar a vida e de se relacionar com os outros, consigo mesmo e, claro, com a cidade diferente de tudo o que se vê por aí. E foi num vácuo, num raro momento de baixa autoestima carioca, que o jornalista Tiago Petrik resolveu massagear o ego da cidade ao criar em 2007, junto da ex-mulher e sócia, Renata Abranchs, o RIOetc, um site de estilo de vida que retrata e exalta o jeito de se viver na Cidade Maravilhosa. Hoje, oito anos depois, o RIOetc já rendeu 15 mil personagens, parcerias com marcas como Farm, Adidas, Burberry, Melissa e Ipanema, vários livros lançados – e mais um a caminho – e um portfólio renovado de preciosos amigos na vida de seu idealizador.

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O que torna os cariocas diferentes?
A gente tem um desejo de ficar à vontade que é mais evidente do que no resto do mundo, principalmente quando a gente está falando de uma cidade enorme, banhada por mais de 40 quilômetros de praia e com a maior floresta urbana do planeta. É também uma cidade muito quente, em que na maior parte do tempo faz muito sol. Tudo isso faz com que alguns códigos sejam mais relaxados.

Mas existem outras coisas que influenciam?
Sim, há outras características que influenciam muito. Por exemplo, o Rio foi capital do país durante muito tempo e também a única cidade do mundo a ser capital de um império ultramarino. Isso aconteceu quando a família real se instalou aqui fugindo de Napoleão Bonaparte. Com a abertura dos portos às nações amigas, começamos a ter acesso a uma série de produtos que antes a colônia não tinha direito. Começaram a vir os tecidos, os temperos, até então interditados, o que trouxe um cosmopolitismo. Fora, é claro, a enorme influência negra, africana, lamentavelmente por conta da escravidão, mas que até hoje tem uma importância fundamental na formação cultural carioca e, portanto, brasileira.

Por que o Rio virou tema do seu trabalho?
Porque em 2007, quando eu e a Renata Abranchs, minha ex-mulher e sócia, criamos o RIOetc, o Rio passava por um momento em que era considerado a Geni do mundo: todo mundo queria tacar pedra. E, como carioca, a gente tinha a sensação de estar no pior lugar do mundo, todo dia a TV só falava das tragédias. Só que, por outro lado, a gente tinha uma sensação de que não era bem assim, e que a gente tinha, sim, motivos para se orgulhar.

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E como esse sentimento se transformou no projeto RIOetc?
A partir disso a gente resolveu fazer um registro sistemático das ruas, com foco em pessoas que se identificavam com a gente seja na forma de se vestir, seja em suas atividades, ou apenas disseminando as inovações das ruas. E a gente foi vendo que esses personagens tinham de fato coisas legais a dizer, estavam fazendo projetos interessantes, ouvindo boa música, tinham dicas de lugares legais para frequentar. Enfim, fomos percebendo que realmente existia essa lacuna e que fazer isso fazia todo sentido porque existia essa demanda reprimida do falar bem, de resgatar o otimismo, o aspecto solar. Resolvemos massagear o ego do Rio mostrando o que ele tem de melhor, que é ele mesmo, o carioca.

Nesses oito anos você tem ideia de quantas pessoas já fotografaram?
Mais de 15 mil personagens. E isso fora do Rio também, porque com as viagens de pesquisa da Renata, começamos a incorporar as pesquisas para a nossa rotina, porque a gente entende que observando lá fora a gente percebe o que nos une e o que nos torna diferentes do resto. Ao todo, foram mais de quinze países que a gente viajou junto fazendo fotos pro RIOetc e, aqui no Brasil, já fizemos uma ou outra cidade, como São Paulo.

E o que os paulistanos têm que os cariocas não têm?
Morei um ano em São Paulo, em 2000, e fui muito bem tratado lá. É óbvio que o Rio não é o melhor lugar do mundo, embora tenha se tornado um dos mais caros, mas o nível dos serviços não acompanhou. É clichê falar isso, mas, de fato, a gente tem que aprender com São Paulo sobre como servir bem.

Qual o maior problema no Rio pra você hoje?
Mobilidade urbana, que tem relação com as obras que a cidade está passando por causa dos jogos olímpicos, mas também com o excesso de veículos e com a falta de transporte público eficiente. Acho que quanto mais tempo você passa se deslocando é menos tempo que você está aproveitando as coisas boas da vida. Então procuro realmente me deslocar o mínimo possível que não seja de metrô ou de bicicleta. Não tenho carro há mais de dez anos…

Qual a sua descoberta mais recente na cidade?
Olha, tenho até vergonha de falar porque tenho a sensação que todo mundo já conhecia: o bloco Cacique de Ramos. Eu nunca tinha desfilado nele, mas nesse Carnaval eu fui duas vezes, e recomendo para todo mundo. Gosto muito de Carnaval e estava a fim de conhecer alguns blocos que estavam faltando para um trabalho que pretendemos lançar ano que vem – um livro com as fotos dos Carnavais que a gente já fotografou – e aí eu tinha em vista o Cacique de Ramos que eu já sabia que era um clássico embora ainda não entendesse muito bem o porquê. Realmente foi uma experiência muito mágica, uma atmosfera meio indescritível…

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O que mais inspira você na sua cidade?
Acho que são as pessoas mesmo, além, é claro, do cenário maravilhoso. Porque é muito bom num dia como hoje começar ou terminar o dia com um mergulho no mar. Eu faço isso sempre que posso, e, em geral, eu posso. A gente tem um chuveiro aqui no escritório, para quem quiser ir à praia na hora do almoço, ou antes ou depois de trabalhar, sem o menor problema… É buscar aproveitar essa coisa positiva da natureza da cidade. Mas, como falei antes, o melhor que temos aqui, pra mim, realmente são as pessoas. O carioca é solidário, gosta de trocar, de contar o que descobriu, de dar dicas.

E o que o RIOetc lhe trouxe de melhor?
Posso dizer hoje que a maioria dos meus amigos eu conheci na rua fazendo foto, eram personagens com quem conversando rolava uma identificação um pouco maior. Enfim, uma maneira que eu considero meio inusitada de fazer amigos (risos), até porque não conheço muitas pessoas que fizeram bons amigos assim: parando pra tirar uma foto, elogiar, conversar. Foi isso o que o RIOetc me deu de melhor.

Segue ele

Instagram
@tiagopetrik

Site
rioetc.com.br

 

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