People

Esse casal planeja dominar o mundo com o reggae. Spoiler: eles vão conseguir

Por
Laura Cesar
Em
15 agosto, 2019

O terraço do 13° andar da gravadora BGM, no centro de São Paulo, a expectativa era encontrar Zak Starkey, o filho do ex-Beatle Ringo Starr, vestindo jaqueta de couro, camiseta jeans ou qualquer outra peça no estilo rocker que ele geralmente utiliza em aparições públicas e nos momentos em que segura as baquetas nos shows-revival do The Who, banda que integra como baterista. Ao contrário do esperado, lá estava ele no mood jamaicano, com moletom florido e calça xadrez, ao lado da cantora australiana e namorada Sharna Liguz – mais conhecida como Sshh – , que esbanjava personalidade com seu terno listrado e jeito cativante de falar. Com vestimentas coloridas, eles comemoravam o lançamento do selo Trojan Jamaica, projeto conceitual da dupla que irá levar os ritmos quentes da Jamaica para o mundo.

O primeiro álbum, “Red, Gold, Green & Blue”, é uma coleção histórica de grandes artistas jamaicanos performando – à sua maneira – clássicos do blues, do R&B e das primeiras canções do rock’n’roll que inspiraram a revolução do reggae no final dos anos 1960. Fazem parte das 13 faixas a lendária banda Toots and the Maytals, Mykal Rose e Sly & Robbie assumindo eternas canções de nomes como Fleetwood Mac e Willie Dixon. Em passagem pelo Brasil, o casal falou das expectativas por trás da nova empreitada, da música como ferramenta pro diálogo e, claro, sobre a Jamaica, berço de Bob Marley e Peter Tosh. Os detalhes você confere abaixo.

Estúdio da Trojan Jamaica, localizado na cidade de Ocho Rios

08 meses em Ocho Rios

Sob o calor da paradisíaca Ocho Rios, cidade jamaicana escolhida como sede do estúdio, Zak e Sharna produziram cinco álbuns em apenas oito meses. Mas lançar um selo inspirado no reggae e em outros ritmos da ilha era de longe uma ambição do casal. A história do Trojan Jamaica começou a ser traçada em 2016, quando Starkey, na guitarra, e “Sshh”, no vocal, reinventaram o hit de Bob Marley e Peter Tosh “Get Up Stand Up” com o cantor do Pearl Jam Eddie Vedder e outros músicos de peso. O videoclipe dessa performance chegou ao empresário jamaicano Kingsley Cooper, que convidou o grupo para se apresentar na inauguração do Museu Peter Tosh, em Kingston. Vislumbrados com a complexidade musical da Jamaica e em contato com bandas locais que inspiraram suas trajetórias, a dupla começou a estruturar um projeto maior.

Zak Starkey e Sharna Liguz

Vocês gravaram “Get up Stand Up” do The Wailers com batidas do rock. E agora no álbum “Red, Gold, Green & Blue” fizeram o oposto, convidando grandes músicos jamaicanos pra apresentarem novas versões de clássicos do rock e do blues com toda vibração do reggae. Como foi a experiência?

Sharna: Nossa, eu nunca pensei dessa forma. Obrigada. Ter a oportunidade de tocar com grandes lendas como Big Youth e Tooth and The Maytals foi incrível. Não era o nosso plano gravar cinco álbuns, mas tudo aconteceu tão naturalmente que, uma vez que começamos, não conseguimos mais parar. Eu aprendi muito com eles e estávamos na mesma vibração. Todos eles toparam participar por amor pela música. Voltei pra Londres com tranças no cabelo e tudo. Foi loucura.

Zak: A experiência foi wow, sem palavras. Antes de iniciarmos o projeto fiquei um pouco nervoso, confesso, porque estava prestes a conhecer músicos que sempre foram referência pra mim. Mas depois que começamos a tocar, entramos no mesmo espírito. Eles entenderem o conceito logo de cara e respeitaram as músicas que escolhemos. Gravamos esse álbum em apenas duas semanas e quando terminamos decidimos abrir o selo pra guardar esse material num lugar seguro.

Red, Gold, Green & Blue

Foi ao som de Fleetwood Mac à caminho do segundo show em homenagem à Peter Tosh que a dupla tirou as primeiras inspirações pro álbum “Red, Gold, Green and Blue. O título faz referência à cor verde, amarela e vermelha do símbolo do reggae e é um trocadilho com o gênero musical blues, que tanto inspirou a musicalidade jamaicana. Trojan Jamaica, por sua vez, é um nome licenciado do famoso selo Trojan Records, que nos anos 90 foi um dos grandes responsáveis por difundir o reggae em diversas rádios mundialmente. Produzido por Big Youth, a coletânea está disponível nas plataformas de streaming desde julho.

Estamos vivendo tempos estranhos aqui no Brasil, especialmente quando o assunto é política. Mas o reggae fala justamente sobre ultrapassar as barreiras da polarização e viver a vida com mais amor e união. O que esse gênero musical representa pra vocês? E mais importante, o que as pessoas podem aprender com esses grandes nomes da música jamaicana?

Sharna: Pra mim é tudo isso que você falou e também sobre simplicidade, compaixão e igualdade. Estamos vivendo tempos estranhos numa escala mundial. E o pior é que parece que não há diálogo. Se quisermos evoluir como raça humana temos que ter alguma união. Nesse sentido, acredito que a música tem o poder de juntar as pessoas, já que não é um assunto político, mas sim humano. As pessoas sempre terão opiniões diferentes e tudo bem. O importante é respeitar uns aos outros e tentar superar essas divergências. Espero que com a música possamos ajudar a unir.

O futuro solar da Trojan

A intenção agora é fazer os cinco discos da Trojan Jamaica brilhar em escala mundial. Mas o trabalho do selo não para por aí. Além de divulgar o novo projeto, Zak e Sharna vieram ao Brasil também a procura de novos artistas para os próximos lançamentos. Com indicação do rapper inglês Same Old Sean, que vive na Rocinha, o casal aproveitou a viagem ao Rio para conhecer o coletivo de rap Covil do Flow, que em breve será um dos novos parceiros. Eles também revelam um volume 2 do “Red, Gold, Green and Blue” só com mulheres e possível show de estreia em breve, em Kingston. Até lá, eles seguem aproveitando o restinho do verão Londrino e, de tempos em tempos, voltam à Jamaica para fazer o que mais amam: música.

Vocês acreditam que o reggae e outros estilos jamaicanos se relacionam de alguma maneira com o verão?

Sharna: Sim, mas acredito que eles não tem que necessariamente se relacionar, porque a música é ótima o ano todo. Pode ser sempre verão em seu coração, desde que se sinta positivo e compassivo.

Zak: Estamos tentando mudar esse conceito sobre o reggae. Queremos curtir a música em todas as estações do ano e gostaríamos de pensar num festival de reggae em ambiente fechado.

abandono-pagina
No Thanks