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54 horas em Tulum: a cartilha da antítese de Cancún na Riviera Maya

Por
Adriana Setti
Em
3 janeiro, 2020
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A Trancoso mexicana se transformou na meca pé no chão (de terra e areia!) de atores e quetais americanos, que se misturam a gente badalada dos quatro cantos.

Banhado pelas águas ora esmeraldas, ora turquesas de um Caribe quase sempre transparente, Tulum é a antítese de Cancún (a meros 130 quilômetros de distância) na Península de Yucatán. Enquanto os habitués mais antigos insistem em narrar (com certo saudosismo) histórias de hippies e pescadores, nos últimos anos a Trancoso mexicana se transformou na meca pé no chão (de terra e areia!) de atores e quetais americanos, que se misturam a gente badalada dos quatro cantos. E nem o sargaço (a maré de algas que vai e vem desde 2011) foi capaz de colocar um ponto final na festa – que começa em beach clubs recheados de daybeds e pode terminar tarde da noite ao som de DJs no meio da floresta. Até o chef dinamarquês René Redzepi, do Noma, já abriu um restaurante pop-up durante uma temporada recente por lá. A seguir, um roteiro de 54 horas entre bowls regados a leite de amêndoas, brindes de smoothies e goles de Coronas sempre geladas.

DIA 1

16h
Pela estrada afora

Tulum, na verdade são duas: o pueblo, uma vilinha sem graça e feiosa no interior; e a playa, que concentra praticamente tudo que interessa. Ali, a Carretera Tulum – Boca Paila, com seus 7 quilômetros de extensão, é a única rua principal. Paralela ao mar, ela vai do entroncamento que leva ao pueblo até as franjas da Reserva Sian Ka’an, declarada patrimônio mundial pela UNESCO no final dos anos 1980. Pegue uma bike (é praxe nos hotéis oferecer uma) e faça o reconhecimento da área. Por toda a extensão da estradinha, há uma sucessão de hotéis boutique, beach clubs, restaurantes. Vez ou outra, uma nesga de mar. Entre uma pedalada e outra, você vai ver galerias, quiosques e lojas fofas.

Entrada do restaurante Kin Toh, no alto de uma árvore | Crédito: Divulgação

18h
A primeira selfie de respeito

Se você fez o dever de casa antes de embarcar, garantiu a sua reserva com antecedência no concorridíssimo Kin Toh, o restaurante do eco-friendly hotel Azulik concebido organicamente como uma casa na árvore, a 12 metros de altura. Ali, passarelas, redes e deques suspensos sobre a copa das árvores são o cenário perfeito para assistir o sol se pôr, com o Caribe logo ali na frente, depois da imensidão verde da floresta. A posição das velas, almofadas e cortinas esvoaçantes parece ter sido calculada milimetricamente para enfeitar o visual. Fique tranquilo, você não vai ser o único a fazer um book de celular. Há ótimos coquetéis pra escoltar o visual, e da cozinha saem receitas que propõem delícias da culinária nativa com twist internacional. Na prática, isso significa cordeiro assado na lenha com salada de beldroega e tapioca crocante ou tamale de abacaxi com coco, sorbet e espuma de piña colada. Atenção: se não estiver praticando a política do “eu mereço”, fique apenas para os drinques e mude de pouso para o jantar. Os preços aqui são proporcionais ao visual (a conta pode chegar fácil a mais de US$ 150 por pessoa). Quem não estiver hospedado no hotel do complexo tem uma consumação mínima que pode custar até cerca de US$ 50. 

21h
La noche es una niña

Quer você tenha jantado ou não no Kin Toh, à medida que a noite avança a Casa Jaguar é o lugar para estar. Se não jantou, aproveite para cacifar uma mesa e provar pratos como o tiradito de robalo servido com abacate e sementes de abóbora tostadas ou o polvo grelhado ao molho de matcha. Depois, dedique-se à descoberta dos famosos drinques do seu bar Todos Santos, onde a combinação de muitas velas e muitas plantas cria um astral especial. 

O balcão-floresta do bar Todos Santos: cartilha hipster seguida à risca

DIA 2

9h
Saudação ao sol

O dia começa mais zen no estúdio de frente para o mar do Ahau Tulum, com meditação ao amanhecer e, às 9h em ponto, aulas de yoga. As modalidades variam de acordo com o dia da semana – tem vinyasa, power, hatha e yin yang.

11h
Brunch natureba 

Menos de 15 minutos de caminhada separam o Ahau dos melhores (e mais fotogênicos) bowls de Tulum. No Matcha Mama, eles são servidos em cuias de coco e misturam frutas, sementes, castanhas e até açaí (o de matcha é o carro-chefe). Balanços substituem os bancos no balcão, num combo completo tropical vibes com direito a flamingos, abacaxis e plantas tropicais no décor. Tudo no menu é vegano e sem glúten. 

Praia aos pés da antiga cidade maia: histórica e concorrida | Crédito: Radek/Unsplash

13h
Mergulho arqueológico

Erguida no alto de um promontório à beira-mar, entre os séculos 12 e 16, a cidade maia de Tulum é uma das mais cênicas do México. Depois de passear por suas trilhas recheadas de iguanas e passar por El Castillo, a estrutura principal, desça até a praia a seus pés para aquele que vai ser, provavelmente, o banho de mar com maior carga arqueológica da sua vida.

15h
Sombra, lounge e água fresca

O jeito Tulum de ir à praia pressupõe day beds, sofás e até balanços estrategicamente posicionados de frente para o mar. Adote o seu beach club e perca a noção do tempo: no Zyggy, as espreguiçadeiras e camas estão escoltadas por coqueiros e o astral é mais informal e menos blasé; no La Zebra, dos mesmos donos do simpático Mi Amor, a vibe é kids friendly; no Coco Tulum, reina a lei do relax máximo – há tatames repletos de almofadas, redes, grandes pufes e, crème de la crème, um deque cheio de balanços; por fim, no La Popular, do Hotel Nômade, voltamos para o astral boho que toma conta do balneário, com direito a tapetes, almofadões e móveis de demolição na areia – o lugar ideal pra provar sucos poderosos com nomes de deusas maias, como o Ixazaluch, feito com melancia, água de coco, limão e hortelã, uma homenagem à divindade “da água e do tecido”. 

20h
Farm to table

A lista de bons restaurantes em Tulum é extensa, e boa parte deles pratica a filosofia farm to table. A fama começou com o Hartwood, que já pode ser considerado um clássico. A casa do chef Eric Werner, ex-Peasant, endereço badalado de Nova York, prepara tudo no forno a lenha e muda o menu diariamente, de acordo com os ingredientes frescos que chegam do mar ou do mercado pela manhã. Sempre lotado e com filas na porta, ele aceita reservas com um mês de antecedência. Outras ótimas opções são o Wild, com mesas sob as estrelas, famoso pelos excelentes coquetéis; o Cenzontle, onde pratos como as costelas de porco com compota de pêssego são servidos num lindo jardim à luz de velas; e o Arca, especializado nas receitas típicas da Península de Yucatán.

Pistinha concorrida do Papaya Playa Project |Crédito: Divulgação

23h
Festa na floresta 

Com a chancela da rede Design Hotels, o Papaya Playa Project é famoso por ser “o” endereço das baladas de Tulum. Elas acontecem pelo menos todos os sábados, com apresentações de DJ e músicos de projeção internacional, e costumam invadir a madrugada. As festas da lua cheia são ainda mais badaladas. Confira a programação aqui.

DIA 3

9h
Mas antes, café

Rebata a noite anterior com um programinha cultural no pueblo. O Tulum Art Club é um mix de galeria, espaço de coworking e residência artística, com um simpático café. Passeie pelas exposições e prove delícias como as panquecas de blueberry, as tostas de abacate e otras cositas más de sabores bem mexicanos.

11h
Pimenta no prato dos outros

Quesadilla de flor de abobrinha. Pimentões recheados. Ceviche de lagosta. Milhos de todas as cores, pasta de chocolate, um sem fim de chilis, quizás uma formiga aqui, um gafanhoto ali. Em um ambiente alegre e colorido, as irmãs Lina e Miriam, da Lina’s Mexican Kitchen, apresentam ingredientes inusitados e ensinam o passo a passo de pratos típicos do país em aulas de culinária interessantíssimas que duram cerca de três horas. Depois da mão na massa é hora de provar tudo!

Gran Cenote: um dos mais famosos entre os literalmente milhares | Crédito: Katie May Boyle/iStock

15h
Mergulho debaixo da terra

Bastante comuns na geografia da Península de Yucatán, os cenotes são formações que permitem o acesso a um complexo sistema de rios e lagoas subterrâneos de águas transparentes. Um dos mais famosos nos arredores de Tulum é o Gran Cenote, a cerca de 4 quilômetros de distância, onde é permitido nadar e praticar snorkel e mergulho.

19h
Tacos Raiz

Ele começou alguns anos atrás como food truck nas premissas do Papaya Playa Project, mas o sucesso estrondoso logo apontou novos caminhos. Hoje o Charly’s Vegan Tacos – você leu certo: tacos mexicanos veganos! – ocupa um simpático espaço de mesas de madeira e lustres de palha quase no fim da Carretera Tulum – Boca Paila. Espere receitas criativas, coloridíssimas e… picantes, por supuesto. Antes de mergulhar em ingredientes como cogumelos defumados, seitan com chucrute e creme de alho-poró com chipotle, prove as entradas: tem chips de banana com tofu, milho na espiga, um mix de guacamole com manga… Na volta, a única “rua” de Tulum já deve estar a mil… difícil vai ser escolher em que balcão pedir aquela saideira.

Foto de abertura:  MoonUnsplash
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