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Um papo entre Monja Coen e Ailton Krenak

Por
Adriana Setti
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A líder espiritual budista e o primeiro indígena imortalizado pela Academia Brasileira de Letras trocam ideias sobre vida na Terra, cultura de paz, despertar da mente cósmica e visão da realidade.

Monja Coen e Ailton Krenak estão entre os destaques do Rio Innovation Week, que rola esta semana no Pier Mauá e também contará com a participação do The Summer Hunter. Amanhã, dia 15/08/24, às 18h30, os dois participarão da mesa “Realidade e Resiliência: Perspectivas Budistas e Indígenas sobre o Mundo Contemporâneo”. Aqui, eles fazem um esquenta do papo, com exclusividade.

Krenak pergunta, Monja responde

Um papo entre Monja Coen e Ailton Krenak

K — A linhagem do budismo japonês da Monja Coen tem a experiência da “realidade objetiva” mesmo quando medita?

M — Zazen significa sentar (Za) em meditação (Zen). É penetrar a realidade e não se afastar do que é, assim como é.

Um papo entre Monja Coen e Ailton Krenak

K — Como a Monja entende o fenômeno chamado de realidade?

M — Compreender a verdade, o caminho, é o propósito essencial do Zen. Será que há uma única realidade ou esta pode ser vista sob múltiplos aspectos culturais, sociais, educacionais, mentais? A proposta do Zen é penetrar a realidade, assim como é — sem floreios e sem freios. Reconhecer a si.

K — A experiência budista da realização humana se encerra no indivíduo, no sentido singular?

M — O ser humano é a vida da Terra. Está em comunhão direta a tudo que existe. Alguns percebem, outros não. Os que despertam passam a cuidar com respeito e dignidade de todas as formas de vida. Caminhamos, praticamos e nos estimulamos a esse grande despertar.

Monja pergunta, Krenak responde

Um papo entre Monja Coen e Ailton Krenak

M — Precisamos cuidar de todos os seres pelo bem da própria sobrevivência da espécie humana. Como desenvolver essa consciência?

K — Somos seres cientes do organismo que faz a teia da vida no planeta Terra. A evolução da humanidade pode exigir mais tempo que temos como espécie, integrando a essa teia, por nossa ambição e egoísmo, estamos chegando ao limite de nosso tempo. 

Um papo entre Monja Coen e Ailton Krenak

M — Você concorda que Direitos Humanos incluem Direito à Vida a todas as espécies e que só assim teremos uma cultura de paz?

K — Concordamos que esforços foram feitos no sentido da universalização dos direitos e garantia a vida da espécie humana, mas negligenciando a teia da vida, com perdas irreparáveis na diversidade necessária ao pleno despertar da cultura de paz, como almejada por tantos mestres e guias das várias tradições históricas. 

M — Você concorda que a harmonia entre os elementos internos e externos ao nosso corpo podem ser apreendidos?  Como você atua para educar e sensibilizar pessoas ao despertar da mente cósmica?

K — Deixo a cada um a bondade para consigo mesmo, na busca da felicidade. Busco exercitar o dom que recebi em vida, pra alimentar a coragem e confiança das pessoas.

Um papo entre Monja Coen e Ailton Krenak

“A palavra shuku-shukuê = vida sempre, na língua Huni Kuin ou Kaxinawa, é essa afirmação da vida no casulo da lagarta à borboleta. VIDA em tudo que faz a teia que, pra além da biosfera desse planeta azul, é cosmos! A vida é uma dança cósmica.”

Ailton Krenak, escritor, ativista e primeiro indígena a ser imortalizado pela ABL