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O verão sexy de Slim Aarons, o fotógrafo da boa vida

Por
Adriana Setti
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Fotografando gente atraente fazendo coisas atraentes em lugares atraentes, ele passou meio século clicando celebridades em seu “habitat natural” e, até hoje, é referência para designers, diretores de arte, decoradores e editores de moda.

Seu lema era “fotografar gente atraente fazendo coisas atraentes em lugares atraentes”. E ele sabia fazer isso como ninguém. Ao contrário das típicas imagens cafonas de ricos e famosos, os retratos de Slim Aarons (1916-2006) faziam com que essas pessoas exalassem uma aura sexy e, acima de tudo, cool e despretensiosa — mesmo que se tratasse de Marilyn Monroe de penhoar em Beverly Hills ou de Mick Jagger e Marianne Faithfull em um castelo na Irlanda. Em retribuição, príncipes, magnatas, estrelas de Hollywood e outros figurões abriram espaço para o fotógrafo norte-americano na intimidade de suas mansões, iates, ilhas ou castelos. “Eles me convidavam para suas festas porque sabiam que não faria mal a ninguém. Eu era um deles”, disse Aarons em uma entrevista ao jornal britânico The Independent, em 2002. Em meio século de carreira, clicando celebridades em seu “habitat natural”, com pouca maquiagem e sem iluminação artificial, ele entrou para a história como um antropólogo visual da boa vida, servindo de referência até hoje para designers, diretores de arte, decoradores e editores de moda.

 Hotel St. Caterina, Costa Amalfitana, Itália. Setembro, 1984.
Hotel du Cap Eden-Roc, Antibes, França. Agosto, 1976

Mas nem tudo é glamour na biografia de Slim Aarons. Criado em uma fazenda no estado de New Hampshire, no nordeste dos Estados Unidos, ele seguiu o caminho que muitos meninos do campo trilhavam como única forma de viajar pelo mundo e ter um emprego seguro: alistou-se nas forças armadas. Foi lá que começou a sua carreira na fotografia, inicialmente trabalhando como assistente no laboratório e, mais tarde, clicando manobras militares, como fotógrafo oficial da Academia Militar dos Estados Unidos em West Point, no estado de Nova York.

Com o início da Segunda Guerra Mundial, Aarons foi enviado ao front como fotógrafo pela Yank, revista semanal publicada pelas forças armadas norte-americanas durante o conflito. Com uma câmera Leica em mãos, cobriu batalhas no norte da África, no Oriente Médio e na Europa, testemunhando fatos históricos como a queda de Tobruk, na Líbia, conquistada pelos nazistas em 1942, e a liberação de Roma em 1944. Durante a operação que colocaria fim ao domínio fascista na Itália, em Anzio, foi atingido em um bombardeio alemão e acabou recebendo o Coração Púrpuro, condecoração outorgada pelo presidente dos Estados Unidos aos mortos e feridos durante o serviço militar.

Sarah Marson Williams @ Hilton Hotel, Needhams Point, Barbados. April, 1976

Com o fim da guerra, Aarons decidiu que já havia registrado desgraça suficiente. “Depois que você esteve em um campo de concentração, realmente não quer mais ver coisas ruins”, disse em entrevista à Vanity Fair. Para mudar de ares, o fotógrafo resolveu aventurar-se em Hollywood como freelancer, para eternizar a intimidade das celebridades muitos anos antes que esse universo fosse escancarado nas redes sociais. Em pouco tempo, seu carisma tinha ganhado a confiança de Humphrey Bogart, Lauren Bacall, Tony Curtis e Janet Leigh, entre muitos outros.

Quando a Life (onde conheceu sua mulher, Lorita Dewart) abriu uma sucursal em Roma, Aaron atravessou o Atlântico para ser correspondente da revista na Europa, firme em seu propósito de seguir fotografando pessoas belas. Ao ser cotado pela publicação para cobrir a Guerra da Coréia, em 1951, respondeu com uma de suas frases mais emblemáticas: “só fotografarei uma praia se houver uma loira nela”. E, de fato, ele viria a registrar uma grande quantidade de praias. E de loiras.

Marbella Club, Marbella, Espanha. 1976.
White River, Ocho Rios, Jamaica. 1971.

Seguindo as celebridades em seus momentos de lazer, Aarons acabou se convertendo em um mestre na arte de captar a atmosfera sexy e relaxada do verão com suas lentes. Praias paradisíacas do Caribe, pool parties em Palm Beach, na Flórida, celebridades dourando ao sol em Acapulco, no México, a dolce vita da aristocracia na ilha italiana de Capri ou na Riviera Francesa ou mesmo uma tarde de verão em Búzios, no Rio de Janeiro (na foto que abre este post), estavam sempre na pauta do fotógrafo, que passou a integrar o ilustre time da Holiday. Especializada em viagens, a publicação tinha colaboradores como Henri Cartier-Bresson e Truman Capote. Definida como “a Vogue das revistas de viagem” pela Vanity Fair, traduzia à perfeição o momento de hedonismo e prosperidade vivido pelas classes abastadas dos Estados Unidos após a Segunda Guerra.

Las Brisas, Acapulco, Mexico. 1972.
 Esther Williams @ The Lighthouse Club, Andros Island, Bahamas. 1958

No entanto, o clima político e social já não era o mesmo quando Aarons reuniu parte da sua obra em A Wonderful Time: An Intimate Portrait of the Good Life, lançado em 1974. Em plena Guerra do Vietnã, o livro recebeu críticas ácidas e foi um fracasso de vendas. Talvez por isso, o fotógrafo tenha esperado tanto tempo para publicar a sequência, Slim Aarons: Once Upon a Time, em 2003. Sua terceira coletânea, Slim Aarons: A Place in the Sun, veio em 2005.

Ao longo de sua carreira, Aarons também teria seu trabalho disputado por revistas como Town & Country, Vogue, Harper’s Bazaar e Travel & Leisure. E, ainda que nunca tenha feito um ensaio de moda, até hoje influencia o trabalho de estilistas como Anna Sui e Michael Kors. “Só uso pessoas reais com suas próprias roupas e jóias, e elas se tornam moda. Os designers olhavam minhas fotos para descobrir o que projetar”, disse Aarons a Frank Zachary, ex-editor da revista Town & Country. Recebido com frieza na época da publicação, A Wonderful Time: An Intimate Portrait of the Good Life tornou-se uma bíblia sagrada para diversos profissionais da moda e do design. Disputadíssima no mercado de raridades, a obra chega a ser vendida por mais de US$ 4 mil. Não à toa, há rumores de que vários exemplares teriam desaparecido misteriosamente da redação da Vogue norte-americana. Por via das dúvidas, os editores agora guardam seus tesouros em casa.

Marianne Faithfull e Mick Jagger @ Leixlip Castle, Ireland, 1968
Marilyn Monroe, Beverly Hills, 1950
Autorretrato
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