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Eles escolheram o mar como casa pra uma vida sem fronteiras – e do barco fizeram também uma escola. Conheça o Pirates of Love

Por
Mariana Weber
Em parceria com
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Ela veio de São Paulo; ele, de uma micronação entre a Áustria e a Suíça. Juntos, criaram o Sea Beyond. E hoje navegam o Brasil ressignificando suas próprias vidas e a de quem mais quiser embarcar com eles.

Em meados de 2018, Raíssa Sapei Teles, 30 anos, e Christof Robert Brockhoff, 35, trocaram a terra firme paulistana pelo balanço do mar. Venderam carro e móveis pra comprar o Mintaka, um veleiro com nome de estrela que se tornou lar, meio de transporte e território livre pra explorar um jeito próprio de viver, amar e se relacionar com o mundo. “O mar é o único lugar onde não se pode construir muros. Isso traz o infinito interno também”, diz Raíssa. “É um espaço longe das influências sociais onde a utopia é possível e você pode criar a realidade que quiser.”

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O Mintaka antes da reforma que transformou seu caso em vermelho | Fotos: Bruna Arcangelo

Desde o início, o Mintaka, baseado em Ilhabela, no litoral norte de São Paulo, funciona também como sala de aula. Primeiro, pro casal, que teve que aprender a lidar com os dias ao sabor do sol, do vento, das ondas, do pouco espaço e dos materiais que pedem manutenção constante. “É trabalho 24 horas”, diz Raíssa, que nos primeiros tempos a bordo escreveu um pequeno dicionário pra dar conta de memorizar termos náuticos — como bombordo (lado esquerdo do barco, olhando da parte de trás pra parte da frente) e boreste (lado direito). “Foi como comprar um carro sem saber dirigir.” O veículo, no caso, era um veleiro de 33 pés construído em 1979.

Christof já tinha experiência de navegação, de velejar com o pai, mas Raíssa não. Ela é paulistana, formada em administração de empresas. Na faculdade, se sentia um peixe fora d’água e, ainda estudante, começou a atuar como facilitadora de grupos. Conheceu Christof, do minúsculo principado de Liechtenstein, entre a Áustria e a Suíça, em 2014, quando os dois participavam do programa Guerreiros Sem Armas, do Instituto Elos, em Santos. Formado em turismo, ele também atuava como facilitador de grupos, na área de engajamento social. 

Christof e Raíssa namoraram a distância por quatro anos, até que ele resolveu se mudar dos Alpes pro Brasil. Queriam uma vida mais nômade e primeiro pensaram em comprar um jipe. Depois substituíram o asfalto pelo mar. E resolveram chamar mais gente pra jornada. Surgiu então o Sea Beyond, uma “escola de desenvolvimento humano no mar”, recentemente rebatizada de Pirates of Love. O projeto (piratesoflove.org) promove programas de autoconhecimento com sessões online e a bordo e organiza expedições como a A.MAR, voltada pra casais — “Um mergulho nas águas profundas do amor e dos relacionamentos autênticos e livres”.

Segundo Raíssa, o que ela e Christof buscam é um amor sem fronteiras, livre — embora ela já não goste de usar o termo amor livre, por achar que é rótulo e que rótulo traz rigidez. “É preciso desconstruir a forma como a gente aprendeu a amar, que é muita baseada na forma como nossos pais nos ensinaram, em crenças sociais, políticas, religiosas e por aí vai”, diz. 

Pouco antes da pandemia, no Carnaval de 2020, fizeram uma expedição na região do saco do Mamanguá e de Paraty Mirim, em Paraty (RJ). Depois, passou por uma reforma em que o casal colocou a mão na massa pra desmontar, remontar, lixar e pintar tudo — com a ajuda de voluntários vindos pelo Instagram e de profissionais de um estaleiro no Guarujá que viraram mentores e amigos. “Foi a coisa mais difícil que eu já fiz”, diz Raíssa. “Uma segunda faculdade.” Desde então, sobem o Brasil criando programações no caminho. No finzinho de setembro navegavam pelas águas calmas da Bahia. 

09 verdades sobre morar num barco

• A vida a bordo nos tira da zona de conforto
• O banho é gelado
• A privacidade é mínima
• O movimento é constante
• O espaço é pequeno
• Energia elétrica e água doce são limitadas
• Nem sempre há sinal de celular
• Há borrachudo e vida selvagem
• E quem dita a programação é a natureza… Pode chover, ventar, fazer sol, ter tempestade ou calmaria e a gente dança conforme a música do mar!


A vida é aqui fora!

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