Por que o cachorro que foi a sensação dos anos 1980 desapareceu da pracinha?

A ascensão e a queda do poodle.

Era uma vez um cachorro que todo mundo tinha. Sua tia. Sua avó. Sua vizinha. Não era o caramelo. Nem o golden retriever. Acredite: era o poodle. Standard, miniatura ou toy, preto, branco ou marrom, esse algodão-doce em forma de cão era o verdadeiro aristocrata do canil. Mas, nos últimos anos, está cada vez mais down in the high society.

A teoria mais aceita é de que a raça teria origem na Alemanha, onde, já na Idade Média, era criado pra ser um caçador aquático — especialmente de patos e gansos. Na época de Luís XVI, no século 18, hypou na corte francesa. A partir daí, ganhou o coração dos aristocratas mundo afora. Até Beethoven tinha um, e compôs uma sinfonia em sua homenagem.

COM PEDIGREE

Me dê motivos ·   Pequeno, fácil de manter em apartamento. ·   Solta pouco pelo, apesar de parecer uma ovelha. ·   É hipoalergênico. ·   Com o corte “certo”, vira uma escultura. ·   Inteligente e amigável.

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Esse pequeno cão virou febre no Brasil a partir dos anos 1980, quando — coincidência ou não — até mesmo os seres humanos usavam cortes inspirados no poodle. Todo prédio tinha pelo menos três. Todo salão de tosa tinha um catálogo de cortes excêntricos. Belinha, Lou Lou, Donatella e Pipoca eram os tais.

 A POODLIZAÇÃO DO BRASIL

O declínio do poodle no Brasil O auge dos poodles foi em 1997, quando 3.193 pedigrees foram registrados.(1) Em 2022, houve o registro de 501 pedigrees da raça.(1) Em 2021, 62% dos poodles brasileiros tinham mais de 15 anos.(2) Fontes: Confederação Brasileira de Cinofilia (1); DogHero, Petlove e BBC News Brasil (2).

Fontes: Confederação Brasileira de Cinofilia (1); DogHero, Petlove e BBC News Brasil (2).

Na época em que os poodles se tornaram uma raça muito popular, nos anos 1980, passaram a ser vistos como cães ‘frescos’ ou ‘de madame’, quando, na verdade, são uma raça muito inteligente, fácil de treinar e que, geralmente, se dá muito bem com outros pets. ___

Vicki Lednik Sabo, tosadora profissional e expositora/criadora de cães, no Quora

A partir dos anos 2000, adotar virou um ato político. Com isso, comprar um cachorro de raça deixou de ser uma opção pra muita gente. Além disso, devido à sua popularidade, criadores pouco éticos acabaram gerando animais com deficiências (a exemplo de fragilidade óssea, problemas na arcada dental e “lágrimas ácidas”), o que alimentou a fama do poodle como problemático.

O brasileiro vai muito no modismo. O poodle foi ficando barato, todo mundo tinha, não era mais novidade. Aí, o vizinho aparece com uma raça nova e isso, inconscientemente, enche os olhos ___

Giovana Bião, criadora, em entrevista à BBC News Brasil