Eles alegram a vida, dão  amor incondicional e são companhias incríveis, mas será que tantos cuidados, mimos e proteção fazem bem pra eles?

a era da obsessão pelos pets

ilustrações: eduardo gayotto / enjoying  coffee

Segundo dados do IBGE, o Brasil tinha 132 milhões de animais de estimação em 2013. Uma década depois, o número subiu pra 160 milhões, de acordo com a Abinpet e o Instituto Pet Brasil. A febre pelos bichinhos é global: nos EUA, a quantidade de pets aumentou 56% desde 1988 e a Europa ganhou 20 milhões na última década.

 sendo 62,2 milhões de cães, 30,8 milhões de gatos e 42,8 milhões de pássaros ornamentais. (1)

Os animais de estimação no Brasil

dos domicílios tem pelo  menos um cão ou gato. (2)

Fontes: Pesquisa da Abinpet e do Instituto Pet Brasil (1); Comissão de Animais de Companhia (2)

160,9

milhões de pets

56%

A pandemia deu força a uma tendência que já estava em ascensão. Com o isolamento, mais gente enxergou nos bichinhos uma forma de ter companhia e amor. E quem já tinha um pet passou a valorizar ainda mais a sua presença, o que serviu de estímulo pra investir em novos mimos e cuidados — e aumentar a dependência emocional.

alegria do isolamento

·  Normalização da opção de não ter filhos. ·  Número crescente de filhos únicos. ·  Envelhecimento da população. ·  Dificuldade em estabelecer relacionamentos. ·  Epidemia de solidão.

Fatores sociais por trás do fenômeno:

Segundo dados do Sebrae, só em 2023 foram registrados 38 mil novos CNPJs relativos aos cuidados de animais domésticos. O mercado pet brasileiro inclui  hoje mais de 285 mil empresas e deve alcançar um faturamento de R$ 76,3 bilhões em 2024. Mais da metade desse valor (54,7%) se refere ao segmento de pet food.

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negócios em alta, segundo o sebrae

Festinhas com bolo e petiscos caninos, bichinhos passeando em carrinhos de bebê, joias, hotéis com mimos, cachorros e gatos que mal colocam o pé pra fora de casa. Da parte dos donos, esses “cuidados” podem até ser uma demonstração de amor, mas — julgamentos morais à parte — até que ponto o animal se beneficia de ser tratado como gente?

humanização

Agora vemos os pets não apenas como membros da família, mas como equivalentes a crianças. O problema é que cães e gatos não são crianças, e os donos têm se tornado cada vez mais protetores e restritivos. Por isso, os animais não conseguem expressar suas naturezas caninas e felinas de forma tão livre quanto deveriam.

James Serpell, professor de ética e bem-estar animal da Escola de Medicina Veterinária da Universidade da Pensilvânia, nos EUA, ao The New York Times

·   Aumento da obesidade — nos EUA, 60% dos gatos e cachorros domésticos tem excesso de peso. ·   Altas taxas de abandono ao não dar conta de tantos cuidados e gastos. ·   Mais ansiedade ao se separar do dono. ·   Medo de outros animais.

consequências

Fontes: Prevalence of pet anxiety in the US (Green Element) e Association for Pet Obesity (APOP)

Não há nada de mal em querer dar do bom e do melhor pro pet que você tanto ama. No entanto, é preciso entender o animal a partir da sua própria perspectiva, dando liberdade pra que ele desenvolva sua autonomia e independência emocional. 

Adotar um animal e apoiar ONGs dedicadas ao resgate e adoção pode ser uma forma mais gratificante e efetiva de demonstrar o seu amor.

Pra refletir