Com seus simbolismos, eles oferecem uma sensação de estar em casa no mundo. E, nos momentos marcantes, trazem conforto e estabilidade emocional.
ilustrações: eduardo gayotto
“Minha avó morre e ninguém sabe o que fazer.” É assim que a jornalista começa o seu relato. Todos nós passamos ou passaremos por uma situação semelhante. A morte é, talvez, um dos momentos em que a necessidade dos rituais — e a falta deles — se torna mais evidente.
Trecho do livro O desaparecimento dos rituais: Uma topologia do presente, de Byung-Chul Han
Ainda que essa não seja uma regra, rituais frequentemente são realizados em grupo, fortalecendo laços sociais e cultivando um senso de comunidade e pertencimento. Isso vale tanto em uma escala macro e institucional, quanto pra pequenos grupos — o pulo no mar que você dá com seus amigos todo domingo de manhã pode ter essa conotação, por exemplo.
Fecho a porta, convoco as pessoas a silenciarem e leio uns parágrafos que escrevi sobre minha avó. Minha irmã cata alguns dos buquês trazidos e começamos a separar as flores dos talos e colocar sobre o corpo. Lembramos umas cantigas que ela gostava, um trava-língua, uma musiquinha que ela cantava pra gente dormir. Alguém recorda um ‘causo’ engraçado recente com ela, todos riem entre lágrimas, desaguando ali aquelas memórias, forjando um ritual. Não foi o suficiente, mas foi o que deu.”
Betina Neves, jornalista, na newsletter Descomprimindo
Propósito: atribuem significados a ações do cotidiano, fortalecendo a conexão com valores e crenças. Redução de ansiedade: trazem previsibilidade e conforto em situações incertas. Autoexpressão: permitem que as pessoas expressem quem são e se conectem com sua própria identidade cultural e pessoal.
Trecho do livro O desaparecimento dos rituais: Uma topologia do presente, de Byung-Chul Han
· Sociedades atuais caracterizadas pelo consumo, o individualismo e o culto à produtividade. · Perda da noção de comunidade e consequente abandono de rituais sociais que pautavam a vida. · Em um mundo que valoriza a inovação constante, rituais são vistos como antiquados, prescindíveis e um obstáculo à produção em série. · Esvaziamento dos rituais que ainda temos (velórios, casamentos, formaturas): ao se converterem em produto, perdem sua dimensão simbólica.