ilustrações: eduardo gayotto / noum project
A estética conservadora extrapolou o look de culto e se tornou uma referência de estilo que vai além da religião.
Roupas discretas que revelam pouca pele, atendendo a regras ditadas pela religião ou à opção de manter um lifestyle alinhado com valores tradicionais. A moda modesta deixou de ser nicho pra se tornar um segmento de mercado que não para de crescer, acompanhando a crescente onda conservadora no mundo. Com a pesquisadora do comportamento de consumo feminino Thais Farage, a gente explica o que está por trás desse fenômeno.
Até pouco tempo atrás, a “roupa de igreja” era a antítese do fashion. Mas a moda modesta que se vê hoje reflete justamente o desejo de viver as tendências. É um estilo de se vestir pra mulheres que curtem montar looks e querem se expressar através das roupas, mas sem deixar de cumprir os requisitos da religião ou de crenças pessoais.
Thais Farage, na newsletter que leva seu nome, no Substack
No Brasil, a ascensão da estética “bela, recatada e do lar” tem tudo a ver com o crescimento das igrejas evangélicas, acompanhado de um movimento cultural que fez surgir uma série de influenciadores evangélicos — de cantores a pastores — que hoje contam com milhões de seguidores nas redes sociais.
Roupa oversized. Pouca pele de fora. Pérolas. Sapatos sociais. Saias midi. Unhas claras e de tamanho médio. Calças pantalonas. Estética old money. Kate Middleton e outras princesas europeias como inspiração.
Com o isolamento social, o desejo por conforto ganhou prioridade. Roupas largas, tecidos suaves e visuais menos preocupados em sensualizar passaram a ser mais valorizados. A moda modesta, que já apostava em modelagens amplas, entrou nesse radar.
O boom de conteúdos sobre ‘como se vestir de maneira elegante’ também está totalmente ligado à estética modesta. A ideia de elegância e riqueza é sempre colocada como um contraponto ao estilo mais sexy. Nada de maximalismo, nada de símbolos da periferia, nada que venha da cultura popular. Além da questão de classe, o discurso é também sobre moralidade. __
Thais Farage
Não é só a moda modesta que ficou mais cool. O conservadorismo como um todo ganha uma roupagem pop nas redes sociais. Bons exemplos são as trends Trophy Wives, Tradwife, Mormon Wives e afins, que incentivam mulheres a serem submissas por trás de um mood clean e um styling milimetricamente calculado.