Ter mais foco, melhorar a performance, ganhar massa, emagrecer: entre tantas metas, tem espaço pra comer porque é gostoso?
De um lado, a velha insatisfação com o corpo. Do outro, promessas de transformá-lo pela alimentação. Entre uma coisa e outra, um jeito de enxergar a comida que consiste em classificar tudo de acordo com os benefícios e malefícios que pode trazer à saúde.
você tem fome de quê?
Quando o pão vira “carboidrato” e a picanha é “proteína com gordura”, comer vai deixando de ser prazer pra se tornar uma tarefa.
Cunhado pelo pesquisador Gyorgy Scrinis e popularizado pelo jornalista Michael Pollan, o termo nutricionismo é a fusão de “nutrição” com “reducionismo”, e define uma abordagem reducionista que foca nos nutrientes isolados dos alimentos, ignorando a complexidade da alimentação e seu contexto.
Começa numa ciência reducionista que gera achados simplistas. Esses achados são incorporados pela indústria dos ultraprocessados, que amplifica essas simplificações pra vender mais produtos. Esses novos produtos, que alardeiam promessas falsas de uma saúde melhor influenciam a escolha do consumidor, que aos poucos foi se contaminando por essa lógica. ____
Rita Lobo, explicando a lógica do nutricionismo no Panelinha
É importante saber o que você come e por quê? Claro. Mas alimentos não são apenas nutrientes.
Comer é social, é cultural, é prazeroso — ou pelo menos deveria ser. Está tudo bem comer algo só porque é bom! Dentro de um contexto saudável (e sem ser algo frequente, claro), um hambúrguer pode trazer mais benefícios pra nossa saúde do que uma refeição conturbada contando calorias e nutrientes sem necessidade. ____
Mari Krüger (@marikrugerb), bióloga, no Instagram
“A comer, bailar y gozar que el mundo se va a acabar.” Provérbio em espanhol