O slogan da doutrina que fez Tim Maia ter um surto místico — e compor os seus discos mais venerados — está de volta à cena.

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Voltou?

Talvez você também tenha visto por aí muros pintados com a capa de Universo em Desencanto – Imunização Racional. 

Quem não viveu no século 20 pode até passar batido, mas a Cultura Racional teve seu lampejo de fama nos anos 1970 e 1980, graças a seu seguidor mais famoso: Tim Maia. Depois, desapareceu do mainstream. Até agora.

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O jornalista Xico Sá cantou essa bola já em 2023, quando avistou pichações no sertão do Ceará e no litoral paulista. De lá pra cá, o Universo em Desencanto invadiu os muros da Chapada dos Veadeiros, a periferia de Brasília e até velas de jangadas de Canoa Quebrada, na costa cearense. Pelo jeito, ainda tem gente lendo o livro.

Fundada em 1935 no Rio de Janeiro pelo médium  Manoel Jacintho Coelho (1903-1991), a Cultura Racional é considerada uma “religião OVNI”, ou seja, que acredita em extraterrestres como salvação — nesse caso, o Racional Superior.

A Cultura Racional é uma entre muitas ‘religiões OVNI’ que surgiram no mundo ao longo do século 20. Em nenhuma outra parte do planeta, no entanto, nenhuma corrente mística teve o privilégio de gerar duas obras extraordinárias de Tim Maia, um dos maiores artistas brasileiros de todas as eras.

Xico Sá, em artigo no Diário do Nordeste

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O tal do Universo em Desencanto – Imunização Racional é, na verdade, uma coleção que reúne o conhecimento sobre a suposta “verdadeira origem da humanidade” e explica como o ser humano voltará “ao seu estado natural de ser racional puro, limpo e perfeito”.

As propagandas mais eficientes do livro, no entanto, foram os álbuns que Tim Maia compôs durante sua fase mística, sem álcool e drogas: Racional, Vol. I (1974) e Tim Maia Racional, Vol. II (1975) — o Vol. 3 só foi publicado em 2011. Ignorados ou até zoados na época, os discos passaram a ser cultuados por muitos como os melhores da carreira do artista.

Tim foi visitar Tibério Gaspar, violonista, compositor, e seu amigo. Durante esse encontro, utilizou o alucinógeno mescalina e folheou o livro Universo em Desencanto. [...] O artista estava rapidamente sendo convertido à Cultura Racional, uma estranha seita de conceitos ainda mais confusos.

Trecho da reportagem “Tim Maia: A seita Racional sem álcool e sexo do ícone da MPB” (Aventuras na História)

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No dia 25 de setembro de 1975, Tim acordou com uma vontade louca de comer uma carne sangrenta, tomar um goró e fumar um baseado. Teve uma desiluminação e abandonou a seita no seu velho estilo [...]. Queimou a roupa branca e, nu e furioso, foi pra janela e começou a gritar [...] que seu Manoel Jacintho era um pilantra, um ladrão e um tarado que comia todo mundo.

Trecho do livro Vale Tudo: O Som e A Fúria de Tim Maia, de Nelson Motta