O trauma que passa de geração em geração

Entenda como as dores mais profundas dos seus antepassados podem repercutir na sua saúde mental — e na de seus filhos.

Foto: trabalho de colorização de marina amaral

A ideia de que o trauma — resposta emocional a um evento que deixou feridas na memória ­­— seja transmitido de geração em geração é perturbadora. Mas pesquisas recentes sugerem que as dores e cicatrizes de pessoas da sua família que você nem conheceu podem, sim, ter a ver com as suas questões de saúde mental atuais.

O trauma intergeracional não só é um dos debates da vez na psicologia, como também vem se tornando um conceito popular. O filme vencedor do Oscar Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo e séries como Transparent, por exemplo, têm a ver com isso.

NA TELA

O trauma pode vir de comportamentos aprendidos, de experiências coletivas e até da biologia. Estudos compararam amostras de sangue de pessoas que vivenciaram o Holocausto com as de judeus que estavam fora da Europa durante a guerra: as mães expostas aos horrores do nazismo mostraram mudanças em um segmento de DNA envolvido na regulação da resposta ao stress. Seus filhos, também.

Segundo explicam os especialistas, não é a experiência traumática propriamente dita que é transmitida, mas a ansiedade e a visão de mundo dos sobreviventes. Mesmo os tataranetos de pessoas escravizadas podem experimentar os sentimentos de seus ancestrais sobre os perigos e as dores da vida em sociedade.

MARCAS DA ESCRAVIDÃO

Foto: trabalho de colorização de marina amaral

O trauma intergeracional coletivo e o trauma racial fazem referência ao sofrimento psicológico transmitido por gerações como resultado de eventos históricos, incluindo escravidão, colonização, genocídio e outras formas de opressão. E se manifestam de várias maneiras, a começar pela maior propensão a ter ansiedade, depressão e insônia, entre outros problemas de saúde mental.

Os pesquisadores descobriram, ainda, que uma série de exposições ambientais e sociais tóxicas durante a gravidez podem ser transmitidas no útero, a exemplo do stress de viver na pobreza. Abusos sofridos na infância também afetam potencialmente as gerações futuras.

INFLUÊNCIAS TÓXICAS

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A boa notícia é que a resiliência também pode ser transmitida. Mas aproveitar essa “herança” geralmente requer uma compreensão mais profunda da origem do trauma. Reconhecê-lo, buscar a ajuda de um terapeuta, falar sobre o problema e abraçar estratégias positivas de parentalidade são passos importantes pra quebrar o ciclo.

RESILIÊNCIA GENÉTICA

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