PLANTAS PARA OSTENTAÇÃO

O obscuro (e milionário) mercado de plantas brasileiras em perigo de extinção que viraram objeto de desejo nas redes sociais.

Nos últimos tempos, muita gente se empenhou em transformar a própria sala em uma selva urbana. Que isso contribui para o alto-astral do ambiente, ninguém discute. 

Mas essa corrida por deixar a casa mais verde que a do vizinho vem gerando uma situação bizarra. Em reportagem recente, a BBC revelou que, devido à extração predatória e ao contrabando, já é mais fácil encontrar algumas espécies brasileiras nas redes sociais do que na natureza.

LISTA VERMELHA

O caso mais emblemático é o da Espírito Santo (Philodendron spiritus sancti), nativa da região serrana do estado homônimo, que está na Lista Vermelha do Centro Nacional de Conservação da Flora, com “risco muito elevado de extinção na natureza”. Mas há várias outras ameaçadas que são cobiçadas, como o cacto Melocactus glaucescens, da região semiárida da Bahia, e a Laelia jongheana, orquídea natural de regiões serranas de Minas Gerais, entre outras. 

O QUE DIZ A LEI

É proibido coletar ou comercializar plantas que estejam na lista das espécies ameaçadas. Mas, paradoxalmente, tê-las em coleções privadas ou ganhá-las de presente não é ilegal.

O PODER DAS REDES

Os colecionadores argumentam que fazem o papel de um pequeno jardim botânico, ajudando a conservar espécies em risco de extinção. Mas os especialistas rebatem que ostentar essas plantas nas redes sociais só estimula a comercialização ilegal.

Os pesquisadores também contestam o argumento de que permitir o cultivo comercial de espécies raras solucionaria o problema. Isso porque, a partir do momento que uma Espírito Santo for tão fácil de encontrar como uma Costela-de Adão, os colecionadores da ostentação iriam atrás de outros “unicórnios”.

“Estamos fazendo com as plantas o que já fazemos com as pedras preciosas e com os carros. Entramos numa lógica de antropocentrismo e consumismo que é o contrário do bem-estar que esperamos ter ao estar perto da natureza”.

Suzana Ursi, professora de Botânica da USP e vice-diretora do Parque Cientec, em entrevista à BBC.