Um movimento que desafia a lógica do consumismo celebrando a vida útil dos produtos e o minimalismo vem ganhando  força nas redes sociais. Conheça  o underconsumption core.

Ter só o necessário é a nova ostentação

Ilustrações: eduardo Gayotto

Nada de exibir prateleiras repletas  de itens de beleza ou um look inédito por dia em frente a um armário lotado.  Os adeptos do underconsumption core publicam vídeos pra mostrar maquiagens quase no final, uma única legging no armário e iPhone  com mais de cinco anos de uso. 

Conteúdos que promovem a sustentabilidade e o consumo consciente não são inéditos, claro. A diferença aqui é a forma: produtos antigos em bom estado ou desgastados após muito tempo de uso, bem como itens tecnologicamente defasados ou em quantidade radicalmente reduzida são apresentados de forma romantizada. Se tiver trilha sonora de Norah Jones, melhor.

e cadê a novidade?

Esse é um lembrete de que grande parte dos conteúdos que você vê on-line não reflete o modo como a maioria das pessoas vive. Acredito que muitas pessoas estão esgotadas de serem empurradas ao consumo excessivo.

Sabrina Pare, creator norte-americana que aderiu underconsumption core, em vídeo nas redes sociais

Se ainda funciona, não preciso substituir. Se ainda não acabou, não preciso de outro parecido.

O underconsumption core se guia por  duas lógicas:

Comprar menos é um grande exercício de poder. Os consumidores estão falando sobre formas de se libertarem [da função consumir]. Dessa forma, estão ganhando tempo, espaço, recursos, energia — e dinheiro.

Michelle Gabriel, diretora do programa de Moda Sustentável do Glasgow Caledonian College, em Nova York, à Teen Vogue

- Consciência ambiental. - Crise financeira. - Ressaca das compras excessivas da pandemia. - Ser feliz com o que tem.

Outras motivações por trás do “subconsumo”:

Chamar de “subconsumo” um hábito que costumava ser comum — e, pra muita gente, continua sendo — é uma forma de contrastar com a máxima que rege as redes (consumir, consumir, consumir) e de chamar a atenção das gerações que cresceram dentro dessa dinâmica.

Pode até ser que algumas pessoas acabem sendo influenciadas a comprar menos pelo underconsumption core, mas a real importância do movimento é acolher quem já vive sem exageros — seja por uma questão financeira, seja por bom senso — e cansou da pressão por acompanhar as tendências da vez, especialmente em um país com tantos contrastes sociais como o Brasil. 

Ufa, não sou só eu