Olhando pra trás, você sente que ainda é aquela criança que adorava jogar bola e comer pipoca? Ou seu passado parece parte de uma outra vida?

você é o mesmo de sempre?

você é o mesmo de sempre?

Você enxerga a sua criança no seu eu de hoje? Consegue “conversar” com ela? Será que somos os “mesmos” aos 4, aos 14 e aos 40? Desde sempre, os seres humanos — e a psicanálise — piram tentando entender essa ideia da continuidade.

Algumas pessoas acreditam que mudaram profundamente ao longo dos anos — pra elas, o passado parece um lugar distante, marcado por costumes, valores, gostos peculiares e outras esquisitices. Outras têm um forte senso de conexão com seus “eus” mais jovens e se sentem em casa dentro da sua própria linha do tempo.

EM OUTRA VIDA

foto: edward cisneros / unsplash

Já reparou que algumas pessoas curtem mais reviver o passado? É a galera que adora um reencontro da turma da escola, que faz questão de manter velhas amizades, fica de olho nas paixões antigas... Por outro lado, há quem faça de tudo pra desconectar desse eu vintage com o qual já não se identifica.

séries x filmes

Pro filósofo britânico Galen Strawson, autor do ensaio The Sense of Self, algumas pessoas são mais “episódicas” do que outras. Ou seja, estão bem vivendo o dia a dia, episódio por episódio, sem se importar muito em enxergar a vida como uma narrativa mais ampla e linear.

Pra entender a fundo a nossa noção de continuidade, um estudo acompanhou mais de 1000 pessoas desde a infância até os 45 anos de idade. Os resultados dessa pesquisa foram resumidos no livro The Origins of You: How Childhood Shapes Later Life.

a origem do você

é complexo

Os primeiros anos de uma criança predizem quem ela se tornará mais tarde na vida? Em parte, sim. Mas as evidências levantadas com o estudo atestam que o desenvolvimento humano está sujeito a uma série de possibilidades e probabilidades – múltiplas forças que juntas determinam a direção que uma vida tomará.

foto: kiana bosman / unsplash

Para os autores do livro, as pessoas são como sistemas de tempestade. Cada uma tem seu próprio conjunto particular de características e dinâmicas, mas o seu futuro depende de numerosos elementos da atmosfera e da paisagem. Ou seja, não existe uma individualidade absoluta e imutável.

“Algumas pessoas são criativas, embora não tenham ambição ou objetivos de longo prazo, e vão de uma coisa pequena a outra, ou produzem grandes obras sem planejar. Algumas são muito consistentes em caráter, quer saibam ou não, uma forma de firmeza que pode garantir a experiência da continuidade do eu. Outros são consistentes em sua inconsistência e sentem-se continuamente confusos e fragmentados”.

Galen Strawson