ilustrações: eduardo gayotto
Em um mundo dominado pelo trabalho, até o descanso virou performance. E nada comunica tanto status hoje como parecer desocupado — mesmo que só por alguns instantes.
Ser visto tomando uma taça de vinho às três da tarde de uma segunda.
Postar uma foto em um curso de tingimento de tecido no meio da semana.
Usar uma legenda tipo “dia de faxina mental” — mas em um spa.
Em reportagem recente da Fortune, a jornalista Emma Burleigh mostra como os ultrarricos passaram a valorizar mais esse comportamento “preguiçoso” do que ostentar bolsas e carrões. Silvia Bellezza, professora da Columbia Business School, em Nova York, também analisou o fenômeno e mostrou que, hoje, o auge do privilégio é parecer desocupado — e fazer disso um gesto de poder.
Em paralelo, a filosofia da produtividade a qualquer custo começa a perder o encanto. Por mais que se insista no discurso de que “se você se esforçar, tudo vai dar certo”, a gente sabe que nem sempre é assim. E essa consciência, ainda que silenciosa, está por trás dessa nova onda do soft life: a tentativa de humanizar o ritmo, mesmo que seja uma performance.
Ricardo Moreno, do The Summer Hunter, em sua coluna na Fast Company Brasil