A sociedade nos empurra a sermos mais ricos, mais sarados, mais bem-sucedidos… Que mal há em almejar ser mediano?
Não existe nada errado em querer brilhar e se empenhar pra isso. Mas a busca pela perfeição pode ser uma armadilha. Além de fazer com que nos sintamos eternamente insatisfeitos com o que temos e somos, em casos extremos, esse esforço constante de superação surte o efeito contrário, paralisante. Exemplo: deixar de empreender por nunca achar que sua ideia é suficientemente boa. Será, mesmo, que precisamos querer ser sempre nossa “melhor versão”?
Sede de atenção
Viagens perfeitas, casas perfeitas, posturas de yoga perfeitas, corpos perfeitos: incitando sentimentos de inveja e inadequação, é óbvio que as redes sociais são um elemento poderoso na construção desse perfeccionismo contemporâneo, alimentado pela comparação e a corrida por se destacar entre milhões de perfis.
“Décadas atrás, o perfeccionista estava sob pressão pra se parecer com todo mundo. Os perfeccionistas de hoje, ao contrário, sentem-se na obrigação de se destacar por meio de seu estilo idiossincrático e sagacidade pra ganhar uma posição segura na economia da atenção”, diz Josh Cohen, psicanalista, escritor e professor da University of London, em artigo para The Economist.

Um lugar ao sol
Fora das redes o cenário é parecido. Mercados de trabalho saturados, especialmente nas profissões criativas e mais desejáveis, bem como um custo de vida altíssimo nos centros urbanos, estão levando os jovens a esforços cada vez maiores pra garantir uma vantagem competitiva.
Em A Tirania do Mérito, o filósofo Michael J. Sandel argumenta que o capitalismo meritocrático criou um estado permanente de competição na sociedade, que corrói a solidariedade e a noção de bem comum. Esse sistema sustenta uma ordem de vencedores e perdedores, gerando arrogância e autocongratulação entre os primeiros e uma autoestima cronicamente baixa entre os demais.

Combo perigoso
Dentro dessa lógica, o perfeccionismo pode parecer uma ferramenta eficiente pra obter o sucesso. No entanto, é um impulso que pode vir atrelado à convicção de que você é um fracassado quando desiste de se tornar “a melhor versão de si mesmo”. Em muitos casos, no entanto, o caminho pra uma vida mais solar pode estar justamente aí.
“Se você está sempre tentando fazer da sua vida o que deseja, não está realmente vivendo a vida que tem.” Moya Sarner, psicoterapeuta psicodinâmica e autora de When I Grow Up.
Saiba mais:
The Perfectionism Trap (The Economist)