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A nova era do surrealismo

Por
Adriana Setti
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Como a geração Z está usando estéticas absurdas como escapismo, em um cenário global marcado por múltiplas crises e conflitos.

Não está fácil pra ninguém: colapso ambiental, extremismo político, crises econômicas e sociais. Criados em um mundo problemático, os jovens nascidos entre a segunda metade da década de 1990 e 2010 vêm buscando alívio no humor e em estéticas propositalmente ridículas. A seguir, com base em uma análise da WGSN, a gente explica como o novo surrealismo vem influenciando a Geração Z.

Outro surrealismo

A nova era do surrealismo
Obra A persistência da Memória, de Salvador Dali 

Apesar de também partir de uma necessidade de escapar da realidade, assim como o movimento original, que rompeu com os padrões estéticos vigentes no século 20 em uma Europa marcada pela Primeira Guerra Mundial, o novo surrealismo não tem nada a ver com a estética criada por Salvador Dalí, Joan Miró ou outros artistas daquela época.

A cultura do caos

A nova era do surrealismo
Foto: Swamp Asbel
Foto: Roy Rochlin

Há alguns anos, estéticas como a #weirdgirlcore e a #clowcore, e trends como a #uglyselfies, vinham deixando claro essa busca por formas mais surreais. Elas rompem com o predomínio das imagens produzidas que, em fases anteriores, vendiam uma vida perfeita nas redes sociais.

Fábrica de realidades

Foto do Papa usando um casaco da Balenciaga gerada por inteligência artificial

Ao mesmo tempo em que surge essa busca pelo escapismo, o rápido crescimento das tecnologias de inteligência artificial vem possibilitando a muito mais gente a criação desses cenários e situações surrealistas. Por exemplo: a famosa imagem do Papa com um casaco da Balenciaga, entre muitos outros memes que estão rolando por aí.

Surrealismo à venda

Modelos usando máscaras de alienígenas em desfile da marca Skims, de Kim Kardashian | Foto: Skims
Botas da MSCHF | Foto: Garrett Bruce / MSCHF

Mais recentemente, marcas começaram a surfar nessa onda, como a norte-americana Collina Strada, que colocou modelos na passarela usando próteses de animais no rosto, e a Skims, de Kim Kardashian, que causou com um ensaio protagonizado por modelos com máscaras de alienígenas. Em muitos casos, a praticidade fica de lado em nome de uma estética que cause estranhamento. Um dos casos mais chamativos — literalmente — são as grandes botas vermelhas do coletivo MSCHF, inspiradas no mangá Astro Boy, que viralizaram, bem como a bolsa microscópica, do mesmo grupo, que foi vendida por US$ 63 mil em um leilão.

Moda como escapismo

Bolsa da marca brasileira Dendezeiro, feita de grama sintética | Foto: Dendezeiro

Estampas que parecem ser o que não são, ilusões de ótica, representações do corpo humano com proporções inusitadas, uso de materiais improváveis — como grama sintética (da Dendezeiro) e até cabelo (!) — em roupas e acessórios. Vale tudo pra provocar estranhamento e uma sensação de fuga da realidade.

“As marcas estão tendo que apelar pra essas estéticas mais absurdas e, portanto, mais chamativas, pra conquistar não só a atenção dos consumidores como o engajamento.”

Sofia Martellini, estrategista sênior de conteúdo da WGSN

Crédito imagem de abre: Hunter Abrams

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