Como a geração Z está usando estéticas absurdas como escapismo, em um cenário global marcado por múltiplas crises e conflitos.
Não está fácil pra ninguém: colapso ambiental, extremismo político, crises econômicas e sociais. Criados em um mundo problemático, os jovens nascidos entre a segunda metade da década de 1990 e 2010 vêm buscando alívio no humor e em estéticas propositalmente ridículas. A seguir, com base em uma análise da WGSN, a gente explica como o novo surrealismo vem influenciando a Geração Z.
Outro surrealismo

Apesar de também partir de uma necessidade de escapar da realidade, assim como o movimento original, que rompeu com os padrões estéticos vigentes no século 20 em uma Europa marcada pela Primeira Guerra Mundial, o novo surrealismo não tem nada a ver com a estética criada por Salvador Dalí, Joan Miró ou outros artistas daquela época.
A cultura do caos


Há alguns anos, estéticas como a #weirdgirlcore e a #clowcore, e trends como a #uglyselfies, vinham deixando claro essa busca por formas mais surreais. Elas rompem com o predomínio das imagens produzidas que, em fases anteriores, vendiam uma vida perfeita nas redes sociais.
Fábrica de realidades

Ao mesmo tempo em que surge essa busca pelo escapismo, o rápido crescimento das tecnologias de inteligência artificial vem possibilitando a muito mais gente a criação desses cenários e situações surrealistas. Por exemplo: a famosa imagem do Papa com um casaco da Balenciaga, entre muitos outros memes que estão rolando por aí.
Surrealismo à venda


Mais recentemente, marcas começaram a surfar nessa onda, como a norte-americana Collina Strada, que colocou modelos na passarela usando próteses de animais no rosto, e a Skims, de Kim Kardashian, que causou com um ensaio protagonizado por modelos com máscaras de alienígenas. Em muitos casos, a praticidade fica de lado em nome de uma estética que cause estranhamento. Um dos casos mais chamativos — literalmente — são as grandes botas vermelhas do coletivo MSCHF, inspiradas no mangá Astro Boy, que viralizaram, bem como a bolsa microscópica, do mesmo grupo, que foi vendida por US$ 63 mil em um leilão.
Moda como escapismo

Estampas que parecem ser o que não são, ilusões de ótica, representações do corpo humano com proporções inusitadas, uso de materiais improváveis — como grama sintética (da Dendezeiro) e até cabelo (!) — em roupas e acessórios. Vale tudo pra provocar estranhamento e uma sensação de fuga da realidade.
“As marcas estão tendo que apelar pra essas estéticas mais absurdas e, portanto, mais chamativas, pra conquistar não só a atenção dos consumidores como o engajamento.”
Sofia Martellini, estrategista sênior de conteúdo da WGSN
Crédito imagem de abre: Hunter Abrams