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A volta do rapé

Por
Dandara Fonseca
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Após séculos sendo usado em aldeias indígenas e no interior, o rapé está em alta também nas grandes cidades, pra fins espirituais.

Até pouco tempo, o uso do rapé era praticamente restrito a povos indígenas da América do Sul — que há séculos usam o pó pra causas medicinais e espirituais — e algumas pessoas do interior, com o objetivo de descongestionar as vias respiratórias e tratar enxaquecas. Mas, nos últimos anos, as crenças xamânicas e terapias alternativas retomaram a prática, e o rapé conquistou mais adeptos. 

Medicina da floresta

Crédito: Carlo Brecia / Wiki Commons

Considerado enteógeno — ou seja, capaz de produzir um estado ampliado de consciência pra fins religiosos ou espirituais — o rapé é o tabaco em pó. Inalado pelo nariz, pode ter a adição de cascas de árvores, ervas e outras plantas moídas. Quem faz seu uso aconselha comprar de quem conhece sua importância, e não de tabacarias.

Modos de usar

Segundo Felipe Rocha, terapeuta e fundador do grupo Xamanismo Sete Raios, não é preciso participar de um ritual xamânico pra utilizar o rapé. No entanto, é importante criar um espaço ritualístico — seja em frente a um altar na sua casa ou assistindo ao pôr do sol —  pra “abrir o portal espiritual e respeitar toda a história e sabedoria originária da prática.”

Foto: Cleiton Lopes / Wiki Commons

Durante o processo, o rapé é inalado e, a partir desse momento, se respira apenas pela boca. Suor excessivo, vômito e fraqueza são sintomas que podem aparecer. Já os efeitos sentidos durante o estado meditativo variam, mas os mais relatados são “limpeza espiritual”, relaxamento, concentração e conexão consigo mesmo.

“Além de limpar  energética e espiritualmente algo que precisa ir pra fora, o rapé me leva a um estado de expansão da consciência, traz um aterramento, um centramento que me ajuda inclusive a meditar.”

Ju Menz, professora de Kundalini Yoga que há mais de um ano faz o uso de rapé.

Outros usos

Alguns lugares também têm utilizado o ritual do rapé como estratégia de redução de danos pra dependentes químicos, assim como já é feito com a ayahuasca. Um deles é o Instituto Nhanderu, casa xamânica fundada em 2018 próxima da cracolândia em SP. No entanto, ainda não há estudos que comprovem sua eficácia. 

A volta do rapé
Crédito: Reprodução / JB o rei do tabaco

A retomada do rapé não parou nos rituais. O pó também vem sendo utilizado de forma recreativa, principalmente os aromatizados. “Mesmo o rapé não sendo um psicotrópico, é preciso saber como manejá-lo, e ter a dimensão do arcabouço ancestral que vem junto com ele, sobretudo no que diz respeito à conexão e preservação dos povos originários”, afirma Felipe. 

Pera lá

Não se pode esquecer que o rapé é tabaco e, portanto, contém nicotina, substância que se inalada frequentemente pode causar vício. Além disso, nenhuma pesquisa científica comprova seus benefícios para a enxaqueca ou qualquer outra doença respiratória crônica. 

Crédito imagem de abre: Carlo Brecia / Wiki Commons

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