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Eles querem ser os revolucionários do café em Santos — começando numa garagem

Por
Mariana Weber
Em
21 outubro, 2019
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Esse grupo de amigos quer revolucionar o mercado de cafés no Brasil. A partir de uma garagem num sobrado em Santos, no litoral paulista. Conheça a história da REVO Manufactory.

Santos é o maior porto de exportação de café do Brasil, e o Brasil é o maior exportador de café do mundo. Numa cidade que conta os grãos em milhões de sacas, um grupo de amigos resolveu fazer diferente. No caso, fazer pequeno: uma microtorrefação de garagem, que falasse direto com os produtores no campo e soubesse falar deles pro consumidor. Foi assim que começou a tomar forma, em 2015, a Revo, entregando no nome a vontade de causar… ops, revolucionar. Nasceu com um crowdfunding, depois cresceu, também diferente: além de torrar café, passou a produzir comidas e outras bebidas servidas aos sábados e domingos num restaurante improvisado na casa de um dos sócios.

Durante o fim de semana, de 400 a 500 clientes comem na casa de Vitor Ladaga de Araujo, 29 anos, no bairro Ponta da Praia. Além de emprestar a garagem — e o quintal e a cozinha —, ele é o sócio que atua como chef. Vinícius Gomes Ferreira, 31, faz pães de fermentação natural de abalar as redes sociais. Bento de Paula, 29, cuida do café e de bebidas como “revrigerante” de beterraba.

Os três nasceram em Santos, se mudaram pra São Paulo, depois voltaram pro litoral. Os três parecem compartilhar o humor que se manifesta em placas irreverentes (uma delas: “Informamos que não temos: café normal, pão normal, açúcar normal. Só temos estes itens anormais mesmo”). E os três deram uma guinada na carreira pra entrar na “Revolândia”. (Há ainda outros dois sócios, mas que não participam da operação.)

Vitor é formado em administração de empresas. Já tinha trabalhado com café, mas numa exportadora. Seu último emprego antes de fundar a Revo foi de analista sênior de operação do shopping Cidade Jardim. Morava em São Paulo com Vinícius, que por sua vez atuava no mercado financeiro. A ideia inicial deles era montar um esquema de venda de café por mailing, parecido com o que viam acontecer com pães artesanais. “Fizemos um business plan pra abrir no Itaim, mas era inviável com pouca grana”, lembra Vitor. “Achamos um torrador de 15 quilos, em um site de leilão, e compramos. Resolvemos colocar na garagem da casa da minha mãe, em Santos, que tinha uma edícula vazia.”

O primeiro café a ser torrado foi comprado com financiamento coletivo. “Deu muito certo. Porém, tínhamos café especial (de alta pontuação), embalagem legal e meia dúzia de interessados em comprar”, lembra Vitor. “ Aí começamos a abrir ao público aos sábados, vendendo torta de limão, bolo, café em pacote e cafés coados (não tínhamos verba pra pagar aluguel de máquina de espresso).” O improviso funcionou: virou brunch disputado. E a Revo Coffee virou Revo Manufactory.

Vitor, que sempre gostou de cozinhar, assumiu os fogões. Vinicius já preparava pães por hobby e resolveu se aprimorar com um curso no San Francisco Baking Institute, na Califórnia — “O curso tira tudo que você acha que sabe e te ensina com mais fundamento”, diz. “Mas o melhor é poder comer os pães da cidade (como o da padaria Tartine, cultuada pelos cultuadores de pães de fermentação natural).”

Bento entrou depois. Animador e roteirista de desenhos infantis que se tornou sommelier de cerveja, trabalhava num pub de Santos quando reencontrou Vitor, seu amigo de infância. Acabou convidado a entrar no bonde da Revo. Entrar, não, mergulhar, tanto no universo do café (que até então era torrado por Vitor) como no de outras bebidas, como refrigerantes artesanais e fermentados. Entre suas atribuições estão viagens como coffee hunter. “Conheço os produtores, vejo o trabalho deles — se usam um milhão de fertilizantes, se usam veneno, qual é a relação deles com café —, então compro o grão verde (cru) e faço a torra”, diz. “Assim a gente consegue ter o controle da qualidade. Quando compra um produto processado, ele é irreversível.”

Na Revo, a ideia é colocar a mão na massa em tudo. Ou quase tudo. Outro dia, o Instagram da marca postou uma foto de Vinícius e Bento numa obra, marretas na mão: “Levamos tão a sério o conceito de fazer tudo que faremos nossa própria obra, de maneira totalmente artesanal”. Era brincadeira. Os dois só se divertiram um pouco quebrando umas pedras no predinho residencial de dois andares que está sendo reformado pra receber a Revo a partir de dezembro. Os revolucionários vão sair da garagem? Vão é ocupar a garagem do prédio — e o prédio todo.

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