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Gabrilândia: arte na pele

Por
Mariana Caldas
Em
6 maio, 2015

O desenho sempre fez parte de Gabriel. E é mesmo muito impressionante ver a sua arte se manifestar. Como se nada fosse, de um piscar de olhos para o outro, Gabrilândia cria um universo inteiro. A cada traço, linha, ponto, movimento. Há dois anos, certas conjunções cósmicas abriram os caminhos e de repente ele estava ali, terminando a sua primeira tatuagem. Um polvo. Era março de 2013.

“Eu tenho lembranças muito vívidas da minha infância através do desenho”, conta Gabriel Almeida da Silva, tatuador e artista plástico , durante uma divertida entrevista para gente, num fim de tarde gostoso em São Paulo, um dia antes de voltar para o seu ateliê na Chapada dos Veadeiros. “Sempre tive um impulso de desenhar no meu corpo e no corpo das pessoas. Acho que isso é uma coisa muito natural para quem desenha. Mas a tatuagem sempre me pareceu uma possibilidade muito distante, apesar de gostar muito”.

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O lance não era medo da maquininha. “Eu nunca tinha visto uma tatuagem dentro dos estilos clássicos que eu sentisse identificação como traço, ou possibilidade. E achava que não era possível fazer de outro jeito”, explica, entre um rabisco e outro no seu Moleskine. “Mas aí em algum momento, eu conheci o Rui e ele pilhou nessa ideia, disse que eu ia me dar bem tatuando”. Depois de uma ida frustrada Galeria do Rock, no centro de São Paulo, a poeira baixou um pouco. “O cara da loja me disse que desenhar era diferente de tatuar e me deu um folheto com um curso de pintura. Foi bizarro, ele nem me conhecia”.

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Até que um dia, o mesmo amigo Rui apareceu com uma maquininha e tudo mais que ele precisava, inclusive um convite para estrear a sua arte na sua própria barriga. “Eu levei umas três horas e meia para fazer a tatuagem e senti muitas coisas ao mesmo tempo”, relembra. “Foi muito estranho sentir o cheiro do sangue, a pessoa sentindo dor e também a resposta da pele, que é tão imediata. Fiquei aflito em alguns momentos, mas percebi que era só uma questão de entender o tempo daquilo. Recentemente eu descobri que o lugar que ele escolheu é um dos mais difíceis”.

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No fim, a sensação de que dava certo foi o mais importante. Um mês depois, seu aniversário chegou, e ele comprou a sua primeira máquina e todos os instrumentos necessários. No dia seguinte fez mais uma, depois outra, e mais três e, desde então, vem aperfeiçoando os próprios métodos e técnicas desenvolvidos empiricamente.

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Em dezembro de 2013, foi passar o ano novo na Chapada dos Veadeiros, no coração do Goiás, e nunca mais voltou. “Eu não esperava que fosse, de fato, morar lá. Fui ficando, ficando… e fiquei por um ano. Agora eu tenho um ateliê aberto, onde eu faço minhas tatuagens, meus desenhos e pinturas, tenho muitos projetos, amigos e laços afetivos”, conta. Foi uma amiga que o convenceu a levar o seu equipamento para a viagem e quando ele percebeu já tinha feito tatuagem e dinheiro suficientes para ficar mais um mês.

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Ele ainda voltou para São Paulo para pegar sua mudança, e de volta Chapada, logo depois do Carnaval, conseguiu um emprego de professor de pintura em um projeto para crianças. Tudo foi se encaixando, ele estava trabalhando cada vez mais, deixando e levando a sua arte mundo afora, direto da pequena vila de São Jorge, em Alto Paraíso de Goiás. “Eu tenho muito carinho por esse lugar. Além da experiência com a natureza que é muito intensa e renovadora todos os dias, a experiência da tatuagem lá é muito instigante. Trabalhar com pessoas de todos os lugares, que estão viajando, com as sensações afloradas, e outros repertórios imaginativos, é superinteressante”.

Na hora de dar forma às energias escolhidas pelos seus clientes, Gabrilândia conta que sua proposta é fazer um trabalho que seja único e exclusivo. Para ele, o mais importante na hora de criar o desenho é conversar muito e perceber os movimentos sutis de cada um. “É a energia da pessoa que vai aflorar uma imagem, que vai ser produzida por mim”.

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Aos 27 anos, Gabrilândia já têm muitos fãs e profundos admiradores espalhados pelo Brasil. Não é à toa. Seu traço é de fazer até quem nunca pensou em ter uma tatuagem querer uma. “O que eu mais gosto, e sempre fiz no desenho e na pintura, é trazer unidades básicas. O ponto e a linha. O ponto é a unidade e a linha é a unidade em movimento. Assim você constrói tudo. É uma analogia direta com o funcionamento da natureza”, explica.

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Também descobrimos quais são os seus cantinhos, rios e cachoeiras preferidos na Chapada. “Eu amo o Preguiça, sou muito apaixonado por esse lugar, é um rio mais perto da vila. Também amo o Lajeadinho, o Canyon I e o Raizama. É muito difícil escolher um preferido. O Rio São Miguel é um rio pequeno mas com muitas caras diferentes, é muito incrível. Aquela água azul transparente entre os canyons, é onde fica o Vale da Lua”, suspira.

Agora que você já sabe os lugares para viver o melhor da Chapada dos Veadeiros só falta você marcar a sua próxima tatuagem com o Gabrilândia, aqui.

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