Em meio a plumas, brilhos, alegorias e corpos sambantes, o comentarista apoteótico roubou a cena nos desfiles das escolas de samba no Carnaval 2025.
Com sua voz inconfundível, jeitão performático e paixão pelo Carnaval exalando por todos os poros, o comentarista, carnavalesco, psicólogo e cenógrafo paraense Milton Cunha se tornou uma das figuras mais carismáticas da televisão brasileira. Em 2025, entre momentos hilários e discursos cirúrgicos, brilhou tanto quanto os desfiles das escolas.

Olha esse currículo!

– Comentarista da TV Globo desde 2013.
– Veste ternos com dignidade a 45oC.
– Máquina de memes.
– Formado em psicologia.
– Mestre e doutor em Ciências da Literatura pela UFRJ.
– Pós-doutorando na UFRJ.
– Militante da causa LGBTQIAPN+.
– Trilíngue.

“Num final de tarde de 1982, ele juntou as roupas numa mochila, se despediu dos três irmãos e embarcou numa viagem em um caminhão pau de arara com destino ao Rio de Janeiro. […] Dividiu um quarto com seis homens. […] ‘Eu não tinha opção, amado. Ou saía de casa, ou morria.’”
Trecho da reportagem “O apoteótico”, de Thallys Braga (Piauí)
Doutorado em Carnaval

O Carnaval entrou na vida de Milton Cunha nos anos 1990. Como carnavalesco da Beija-Flor e de outras seis escolas, reuniu material pro livro Carnaval é cultura, poética e técnica no fazer escola de samba (Ed. Senac).
Espanta o tédio
Foi na TV que passou a atrair os holofotes. Com metáforas extravagantes, conhecimento de causa e rompantes cômicos que beiram o surrealismo — “Me chupa, Mart’náliaaaaaa!” — Milton Cunha fez da transmissão dos desfiles um espetáculo à parte.
“Tiro o chapéu para as escolas de samba […] por terem coragem de trazer nós, LGBTQIAPN+, excluídos, apontados, assassinados, pra esse lugar de visibilidade que é a Marquês de Sapucaí. Obrigado, TV Globo, por me contratar — eu, uma maricona velha, assumida, pintosa, estou aqui, viva!”
Milton Cunha, durante a transmissão do desfile da Paraíso do Tuiuti, que homenageou Xica Manicongo, a primeira mulher trans documentada no Brasil

“Ah, é sempre a África. Meu amor, é desfile da inteligência negra, periférica. Tu quer que fale de quê? Da Branca de Neve? Do Donald Trump? Não. Vai falar de Clementina de Jesus, de Exu, de Laíla. Os negros produziram a maior vitrine cultural do Brasil pro mundo.”
Milton Cunha, sobre comentários racistas relacionados à temática dos desfile

Crédito da imagem de abertura: Globo/Maurício Fidalgo