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A era da onipresença da autoimagem

Por
Adriana Setti
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Nas reuniões on-line, nas selfies, nos vídeos, no espelho… Ninguém nos preparou pra ter que ver a nossa própria imagem o tempo todo.

Antes da popularização dos smartphones, estávamos acostumados a ver nossa imagem no espelho algumas vezes por dia. Fotos e vídeos também revelavam nossa aparência, claro, mas clicar e filmar ainda era algo reservado aos momentos especiais, a exemplo de festas, viagens e encontros. Atualmente, vemos nossa autoimagem o tempo todo: em selfies, stories, reuniões on-line e afins.

Você por aqui?

Os primeiros espelhos de vidro surgiram na Veneza do século 14 e geraram uma revolução na autoimagem do ser humano. Imagine: até então, uma pessoa só conseguia ver seu reflexo em alguma poça d’água, num lago calminho ou em superfícies de metal polido.

De dentro pra fora

Até conseguir se enxergar com nitidez, o ser humano tinha a sua identidade fortemente ligada ao local onde vivia, à família e ao círculo social. À medida que a imagem no espelho se tornou mais precisa, a autoconsciência visual fez com que o foco identitário se voltasse pro indivíduo.

Eu pra todo lado

A era da onipresença da autoimagem

O que estamos experimentando nos últimos anos, ao conviver com a onipresença da nossa imagem, é mais uma mudança profunda na forma como construímos nossa identidade. E numa velocidade muito maior do que nos tempos da invenção do espelho… Ninguém se preparou pra isso.

Segundo a psicóloga Sally Baker explicou à Dazed, essa superexposição à nossa própria imagem contribui pra aumentar nosso autoconhecimento e autoconsciência. Por outro lado, também pode amplificar a autocrítica ou a fixação em nossa aparência física. Atire a primeira pedra quem nunca teve pensamentos autodepreciativos ao ver sua própria carinha em alguma reunião por Zoom.

Insatisfação coletiva

A era da onipresença da autoimagem

Essa overdose da nossa própria imagem vem sendo relacionada ao aumento dos transtornos de autoimagem e da procura por procedimentos estéticos. A pandemia teve um efeito catalisador nesse fenômeno, ao aumentar ainda mais a nossa exposição às redes sociais e às plataformas de reunião on-line.

Harmonização digital

E quanto mais alteramos nossa aparência digitalmente, mais dissonância ­enxergamos ao ver nossa imagem espelho. E dá-lhe autocrítica. Não à toa, a procura por cirurgias plásticas com o intuito de se aproximar à estética proporcionada pelos filtros das redes sociais vem chamando a atenção nos últimos tempos.

Uma vez que essas tecnologias vieram pra ficar, como lidar? Lindo mesmo seria se conseguíssemos voltar a priorizar qualidades como inteligência ou responsabilidade ao invés do aspecto físico. Mas, enquanto isso não acontece, vale a pena entender formas de dosar essa exposição (será que você precisa de tantas selfies?) e esquivar de conteúdos que sejam gatilho pra comparação, autodepreciação e outras toxinas.

Imagem em destaque: quadro Venus com Espelho, de Peter Paul Rubens

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