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Onde é verão agora: na Jamaica, o sol brilha o ano todo

Por
Daniela Pizetta
Em
14 janeiro, 2019

Esqueça tudo o que você já leu sobre o país, pois para amar a Jamaica é preciso se interessar pela sua beleza tanto quanto pela sua verdade, afinal, a beleza é um alento, mas a verdade é sempre mais interessante. A ilha caribenha, terra natal de Grace Jones e de Bob Marley, abriga um dos segredos mais bem guardados entre as pessoas mais bacanas do planeta: o hotel GoldenEye, localizado na propriedade onde um dia foi a casa de Ian Fleming, o celebrado autor de James Bond.

Era janeiro de 2017 quando a Jamaica surgiu no contexto de uma conversa entre amigos e logo falei: “eu preciso ir pra lá”. Não conhecia o país, mas me senti atraída pela ilha por poder imaginar o que teria além daquele marzão transparente. Amigos não se animaram. Senti que um enorme ponto de interrogação pairava sobre o lugar: “Jamaica? Mas como anda a Jamaica? Por que a Jamaica? Com quem você vai pra lá?” Eu não tinha planos concretos, nem sabia explicar porque queria ir, mas logo me senti responsável pela minha escolha, afinal, precisava descobrir “a quantas anda a Jamaica”.

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Física quântica é real e oficial
Meses depois surgiu um convite inesperado: escrever sobre o GoldenEye, este hotel imaginativo onde um dia Fleming escreveu os primeiros 14 livros da série 007. E assim, certa de que o universo conspirou a meu favor, em maio de 2018 desembarquei na ilha pela primeira vez, mais precisamente na cidade de Oracabessa, onde ficam os 52 hectares da propriedade do GoldenEye.

Chris Blackwell no set do filme “Dr. No”, em 1962,, com Ursula Andress e Sean Connery

Chris Blackwell, o britânico mais jamaicano que já conheci
Seria impossível descrever o hotel e minha experiência por lá, sem antes contar quem o idealizou: Chris Blackwell, magnata da música e fundador da Island Records, gravadora independente que lançou Bob Marley, Grace Jones, U2 e tantos outros para o mundo. Apesar da sua influência no meio, é um cara extremamente low-profile e por isso mesmo, tão instigante.

Chris é britânico, cresceu na Jamaica e é lá que chama de casa. Abriu a gravadora aos 22 anos e após 30 anos (1989) a vendeu pra Universal. Foi só em 2011 que abriu as portas do GoldenEye. Hoje, aos 81 anos, toca não só o GoldenEye, mas outros hotéis super autorais na Jamaica, dedica-se a ajudar a economia do país e colabora para preservar a cultura e os recursos naturais do lugar que tanto ama.

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James Bond e a primeira Bond Girl do Cinema
Outro fato curioso é a relação de Chris com a propriedade onde fica seu hotel. Ele mudou-se para a Jamaica com sua mãe Blanche Blackwell, amiga e musa do autor Ian Fleming. A Jamaica fervia na década de 50 e a casa de Fleming, localizada em uma praia particular, era frequentada por amigos íntimos do autor e celebridades de diferentes áreas criativas. Gente como a atriz Katharine Hepburn, o também escritor Truman Capote e o pintor Lucian Freud. Chris, então com 9 anos, foi naturalmente inserido neste convívio pela mãe que, supostamente, viveu uma longa paixão com Fleming.

Aos 24 anos — quando já estava à frente da Island Records — Blackwell viveu um momento profissional decisivo. Ele foi contratado como consultor musical para a trilha do longa-metragem 007 Contra o Satânico Dr. No (1962), a primeira adaptação do personagem para o cinema, e foi Chris quem encontrou a locação para a famosa cena de Ursula Andress saindo do mar naquele icônico biquíni branco. Depois disso, a Jamaica nunca mais foi a mesma.

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O que é que a Jamaica tem
A verdade é que a ilha, assim como qualquer pedaço de terra colonizado, é feita de gente forte e desbravadora. Mas na Jamaica existe uma leveza e musicalidade que se sente até sem ouvir sua música. A elegância de suas pessoas é fruto de um toque inglês deixado por pessoas vibrantes que um dia passaram por lá. Mas não se engane: o país tem seu próprio swing e é cheio de trejeitos.

Perguntei a Chris Blackwell por que ele escolheu a Jamaica depois de uma vida tão pulsante pelo mundo, e sua resposta veio forte e desconcertante: “Porque a Jamaica não é importante”. Intrigada por alguns instantes, logo pude entender o que estava por trás de suas palavras, ou seja, nem sempre você precisa ir para o lugar do momento e nem sempre é bom ser ou ter importância no mundo. No final, é aquela tal “paz de espírito” e um certo senso de aventura pessoal que te farão, de fato, vibrar. E foi assim, como quem não quer nada, que fui parar na Jamaica.

Antes, só uma paradinha
Saindo de São Paulo, precisei de uma escala pois não existem voos diretos daqui. Como fazia 10 anos desde minha última estada em Miami e os voos pra lá são mais frequentes do que as demais rotas sugeridas, reservei dois dias para visitar a cidade que, diferente de minha última experiência, hoje exala arte e design.

Bienvenidos a (nova) Miami
Seja você millennial ou não, é impossível pensar na cidade mais bombada da Flórida e não lembrar do som meio pop, meio rap, meio latino cantado pelo ator Will Smith nos anos 1990. Sim, esta vibe ainda existe por lá, porém esqueça a década de 90! Depois de um sufoco financeiro que tomou os EUA no final dos anos 2000, a cidade ressurgiu moderna e inundada de cultura. Planejei a viagem com o apoio da Selections Viagens, que além sugerir o roteiro e os hotéis, o fez de forma super personalizada.

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Onde ficar para otimizar o tempo na cidade

Escolhemos o East Miami que é grande, mas tem uma pegada de hotel boutique. Fica dentro de um complexo e ocupa uma parte do Brickell District. O East Miami foi idealizado para facilitar a vida de quem passa pela cidade. Projetado por um estúdio de Nova York chamado Clodagh Design, as paredes do hotel emanam energias positivas por meio de cristais que foram inseridos entre o cimento e a estrutura. Técnicas de feng shui, biogeometria e radiestesia foram utilizadas para equilibrar e harmonizar o fluxo de energia do local. Por fim, antes de ser inaugurado, o prédio recebeu uma benção de monges budistas.

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A caminho do GoldenEye

Meu avião saiu de Miami direto para Montego Bay, onde está o maior aeroporto da Jamaica. Noventa minutos de voo mais noventa minutos de carro e chegamos ao GoldenEye. No caminho do aeroporto até o hotel, minha maior surpresa foi viajar ao lado de Mike, o motorista do hotel que fez questão de ligar o som tão logo entramos no carro – a trilha, bem, não preciso falar muito, mas a voz de Bob Marley fazia as honras. Mike é o motorista preferido de muitas celebridades que visitam o hotel, ele é doce tem uma voz arrastada e um sorriso acolhedor. Mas para otimizar ainda mais seu tempo, caso viaje com mais privacidade, o Mike pode lhe buscar no Ian Fleming Private Airport, e você terá sua companhia por apenas 8 minutos de carro até o hotel!

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The secret is out! Entenda o hotel.

“Quando pensei em transformar a propriedade em um hotel, queria que fosse sobre Ian e sua sofisticação como pessoa, e não sobre James Bond. Meu objetivo era dividir seu lifestyle com pessoas que apreciam o que posso oferecer. Ninguém precisa de mais um grande resort na Jamaica. “ – CHRIS BLACKWELL

A casa onde Ian Fleming morava está preservada, tem praia particular e é uma das vilas do hotel – são três, no total. A The Fleming Villa, que é de fato a casa do autor, só pode ser bookada na sua totalidade e hospeda um grupo de até 10 pessoas em seus 5 quartos. É de fato muito especial por oferecer o quarto 007, que um dia foi do autor de James Bond. Tive a sorte (ou a honra) de dormir no quarto do escritor, e caso você tenha alguma dúvida, a cama é novinha, mas todo o entorno foi preservado e é lá que fica a escrivaninha na qual ele escreveu os primeiros 14 livros da série. A vista para o mar é possível por meio de uma imensa janela composta apenas por venezianas de madeira, que deixam a brisa entrar livremente durante a noite e só dá para abri-la ou fechá-la com a ajuda do fiel e incrível mordomo da Villa. Se assim como eu você também escolher a The Fleming Villa, ainda poderá usar todas as amenidades do hotel, porém, as refeições podem ser feitas na casa com a ajuda de um staff exclusivo.

As demais vilas são compostas por Beach Huts – cabanas à beira-mar, ou Huts na lagoa de água doce e tão transparente quanto o mar. Estas apresentam um ou dois quartos, terraço privativo, área para piscina e snorkeling e foram projetadas para quem quer imergir na natureza sem abrir mão de conforto, totalizando 49 opções de acomodação.

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O que fazer no GoldenEye

Na chegada, os hóspedes são levados por uma calçada de cascalho rodeada de bosques com árvores indígenas doadas por convidados habitués como Kate Moss, Naomi Campbell, Jude Law, etc. É divertido passear entre elas e descobrir quem doou qual. Aqueles que ficam na The Fleming Villa continuam ao longo do jardim à direita até chegarem à borda do penhasco que abriga a praia particular.

O hotel oferece uma experiência autêntica na Jamaica, desde sua decoração até os tours exclusivos criados para promover a cultura local, incluindo visita ou hospedagem no Pantrepant, uma fazenda no meio do país onde mora Chris Blackwell. Porém se o objetivo for conhecê-lo é possível encontrá-lo no GoldenEye andando rapidamente de um lugar para o outro, sentando em uma das mesas dos diferentes restaurantes em reuniões de negócios ou em jantares com amigos íntimos (e célebres)!

Dentre as atividades é possível praticar snorkeling, mergulho, caiaque, stand-up paddle, pescaria, trekking, mountain bike, yoga, passear de barco ou jet-ski, jogar tênis ou golfe, visitar cachoeiras, andar a cavalo, observar tartarugas e nadar com golfinhos.

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As 10 atividades mais deliciosas do hotel

1. Aproveite a atmosfera e não faça nada por um tempo, apenas sinta o lugar, observe e imagine como seria a vida por lá nos anos 1950.

2. Aprenda algumas palavras locais e use-as de vez em quando. Falar o termo “respect” ao conhecer alguém é lindo demais.

3. Pratique yoga ao ar livre e siga para o café da manhã. Não deixe de experimentar o ackee, que é considerado a fruta nacional da Jamaica e também uma das mais exóticas do mundo. É misturada com peixe e sim, o prato é servido no café da manhã dos jamaicanos.

4. Tome um banho na exuberante piscina gráfica em forma de olho e com água fresca e salgadinha que adentra o mar através de uma cama de pedras rústicas. A sensação é de um momento contemplativo sem precedentes. Existem outras piscinas no hotel, mas esta é diferente.

5. Caminhe pela praia durante o pôr do sol e tome um drink ou uma Red Stripe (cerveja local) no Shabeen. Confesso que este se tornou o meu lugar favorito entre os bares do hotel.

6. Acabe a noite com um jantar no Bizot Bar, que serve especialidades locais e preparadas na tradição “soulful”. Às sextas, uma fogueira é acesa na praia e DJs te chamam para dançar a noite toda.

7. Veja a lua nascer no mar ao visitar a icônica casa de Sir Noël Pierce Coward, que fica em uma montanha a poucos quilômetros do GoldenEye. O próprio hotel nos ofereceu um piquenique nos jardins verdes da casa e assim pude conhecer a história de Coward. Amigo de Fleming, ele foi um dramaturgo, ator e compositor britânico. Vencedor de um Oscar, foi condecorado cavaleiro do reino Inglês pela rainha Elizabeth II (1970). Gay assumido em tempos difíceis, era influente e foi perseguido pelos nazistas. Mudou-se para Jamaica, projetou e construiu sua casa com delicadeza e simplicidade. Recebeu seus amigos e viveu livre e inspirado até seus últimos dias. A vista ao anoitecer é deslumbrante.

8. Mergulhe no Fish Sanctuary, um espaço demarcado e protegido, que fica mar adentro a poucos metros do hotel. É possível ver o trabalho incrível que Blackwell está fazendo por meio de sua Oracabessa Foundation, para educar pescadores, preservar os corais e por consequência, toda a vida marinha.

9. Tome um banho demorado nos chuveiros ou banheiras privados e ao ar livre do seu quarto. Me perdoem os exigentes, mas eu realmente adoro essas coisas simples da vida. 🙂

10. Finalize sua estada no hotel com uma massagem no FieldSpa que está localizado em uma das cabanas, próximo da lagoa. Depois disso, você já pode voltar para casa certo de que a Jamaica é muito mais sexy e instigante do que um dia você poderia imaginar.

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