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Felipe Arias, do Lar Mar, montou sua praia no meio de São Paulo

Por
Mariana Weber
Em
26 fevereiro, 2020
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Em agosto de 2017, o ex-advogado despejou 20 toneladas de areia nos fundos de um casa em São Paulo e criou ali um misto de loja, restaurante, bar, ateliê e espaço de convivência. Agora, depois de dois sustos no coração que quase lhe tiraram a vida, Felipe precisou se reinventar mais uma vez.

Quando precisou escolher uma profissão, Felipe Arias trocou Santos por São Paulo e a brisa da beira-mar pelo ar condicionado dos escritórios de advocacia. Formou-se, especializou-se em Londres, passou a atuar na área de construção civil. “Fazia análise de risco para levantar prédio, prédio, prédio e prédio”, lembra. E, ao longo dos anos, percebia-se triste, triste, triste. “Quanto mais tinha prosperidade na profissão, mais sentia angústia.” Como terapia, começou um blog em que contava histórias de gente que teve coragem de largar o mundo corporativo. Chamou o projeto de Lar Mar, “porque queria voltar para casa e sair dali, voltar para o meu lar e estar perto do mar”. O blog virou evento, o evento virou um espaço pé na areia no meio de São Paulo. E depois de mais de dez anos como advogado Felipe aposentou o uniforme de terno, gravata e caneta MontBlanc.

“Eu era eu mesmo de novo”, conta o empresário de 36 anos sobre a sensação que teve ao reunir os personagens do blog para apresentar suas trajetórias e seus trabalhos — em fotografia, música, surfe… — em eventos no litoral de São Paulo e no Rio de Janeiro. Um sentimento bem diferente daquele que tinha no escritório na Vila Olímpia, onde guardava um frasco de protetor solar na gaveta para cheirar em momentos de estresse e era alvo de piadas quando chegava bronzeado do fim de semana. “Aconteceu de não me chamarem para uma reunião porque eu estava muito queimado de sol e o cliente podia achar que eu não era um advogado sério.”

Lar Mar, em São Paulo: 20 toneladas de areia para criar a vibe praiana

Por um tempo, entre 2013 e 2016, Felipe viveu nesses dois mundos paralelos. Até que resolveu transportar o Lar Mar para um espaço físico em São Paulo (onde estava grande parte do seu público) e transformá-lo em negócio. “Quando tomei consciência que era isso que eu queria fazer na vida, que era isso que ia salvar minha alma, tirei férias de 30 dias e bolei tudo”, diz. “No meu primeiro dia de trabalho pós-férias, fui de bermuda e camiseta, coloquei meu Blackberry e meu crachá em cima da mesa do dono da empresa e falei para ele do meu projeto.” 

Foi tachado de louco, mas saiu mesmo assim. Vendeu Land Rover, apartamento e móveis, deixou de alugar casa em Maresias (que pagava, mas quase não frequentava), foi morar com um amigo e futuro sócio. Captou 800 mil reais com investidores, reformou um imóvel em Pinheiros e despejou ali 20 toneladas de areia – literalmente. Nascia assim, em agosto de 2017, na rua João Moura, uma praia que é ao mesmo tempo bar, restaurante, fábrica de pranchas, loja, galeria e espaço para locação. “Num dia a gente tem um jantar da Vogue e no outro um evento da Billabong”, diz Felipe.

Estresse, há. É, afinal, um negócio — que recebe 3 mil pessoas por semana e vende 15 mil cervejas por mês. “Mas é um estresse com que consigo lidar de chinelo (ou descalço) e sem falar juridiquês.” Assim, sem terno ou caneta Montblanc, ele conseguiu pagar os investidores em cinco meses (a previsão era de dois anos) e faturar sete vezes mais do que estava planejado. “Tenho hoje um rendimento maior do que eu tinha como advogado. Ou seja, trabalho descalço ganhando mais.” Com um extra: “Posso fazer um bate-e-volta para surfar numa quarta-feira à tarde.”

Felipe Arias

Foi, segundo ele, um processo de desconstrução e reconstrução. E então veio a vida e o fez repensar tudo de novo: em 2018, Felipe descobriu que tinha um defeito numa válvula cardíaca. Operou com sucesso. Mas, no ano seguinte, depois de um tratamento dentário, sofreu uma contaminação bacteriana e teve uma endocardite: uma infecção no coração. Passou por uma cirurgia de 11 horas, trocou a válvula, fez ponte de safena, teve um AVC, ficou dois meses internado.

Depois dos sustos, precisou desacelerar. Delegou funções na operação e tem se dedicado mais a projetos criativos, como branding para marcas de amigos e um projeto de pizzaria que será lançada em breve— a Ovni Pizza, parceria com Alexandre Pernet, da Soul Kitchen. Sonha em retomar o projeto itinerante e quem sabe deixar de morar em cidade grande. Com Felipe, parece que o mar sempre chama.

Fotos: Barbara Magri
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