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A realidade das mães arrependidas

Por
Dandara Fonseca
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É bem possível amar os filhos e, ainda sim, não curtir a maternidade da forma que ela é imposta hoje na nossa sociedade. Vem entender

Não é segredo pra ninguém que vivemos em uma sociedade marcada pela maternidade compulsória e por uma romantização que faz parecer que é uma espécie de destino natural das mulheres amar essa função — o que está longe de ser verdade. Vencendo um enorme tabu, nos últimos anos, um maior número de mulheres vêm afirmando que, por mais que amem os seus filhos, são mães arrependidas. Em grande parte das vezes, esse sentimento é atribuído à forma que a maternidade é imposta na nossa sociedade. 

A realidade das mães arrependidas

A maior parte do trabalho do cuidado é colocada em cima da mulher, que ainda tem que dar conta da área profissional, pessoal, se cuidar… A tarefa quase impossível de equilibrar tudo isso gera, além de uma enorme culpa, um esgotamento extremo.

“A gente vive um verdadeiro colapso da maternidade. Nessas condições, quem quer ser mãe?” 

Vera Iaconelli, psicanalista, mestre e doutora pela USP e diretora do Instituto Gerar, ao podcast Desenrola

Unindo forças

Mãe da Flor, de 13 anos, a atriz Karla Tenório planejou por muito tempo a gravidez, mas se arrependeu da decisão já na hora do parto. No entanto, foi só em 2020, após anos sofrendo sozinha, que ela decidiu falar sobre o assunto na internet, e criou o espetáculo de teatro e a página Mãe Arrependida.

Vamos juntas

A realidade das mães arrependidas

O movimento funciona hoje como um espaço seguro, onde mulheres podem compartilhar suas experiências sem nenhum tipo de julgamento e encontrar apoio. No entanto, os comentários de ódio também aparecem, e são voltados principalmente à relação das mães arrependidas com os seus filhos. 

“Meu relato chocou porque no imaginário coletivo está que eu maltrato minha filha. Mas é justamente o contrário. A minha escolha foi pra incluir ela nesse processo e dizer: a culpa não é sua. […] O fato de eu falar que odeio a maternidade não tira toda atenção, afeto e amor que tenho por ela, que acabou até tendo empatia por mim.”

Karla Tenório, atriz e criadora da peça e da página Mãe Arrependida, ao podcast Desenrola 

Nem 8 nem 80

Vale pontuar que o arrependimento, como todos os outros sentimentos, é complexo e pode não ser constante. Ou seja, é normal que você goste da maternidade, mas em dias de muito cansaço, se questione e até deseje voltar atrás. Fora que, mesmo se arrependendo, é possível que existam muitos momentos felizes pelo caminho. 

A realidade das mães arrependidas

Além de diminuir a solidão e culpa, falar sobre a realidade das mães arrependidas é uma forma de incentivar as mulheres a pensar e pesquisar sobre a maternidade — principalmente pra entender se esse é um desejo genuíno ou tem origem em uma pressão social. Também é uma forma de lutar por um maternar mais leve e pelos direitos reprodutivos das mulheres.

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