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Como será o mundo após a pandemia?

Por
Lalai Persson
Em
24 junho, 2020

Afrouxada a quarentena, a maneira como encararemos viagens, shows, consumo ou mesmo um frugal jantar não será a mesma. Ao menos nos próximos anos. A seguir, 11 possibilidades para esse “novo mundo”.

Um das perguntas recorrentes para quem está trancado em casa há meses é: quando voltaremos a viajar? Prever esse futuro, mesmo que próximo, é complexo. Porém, previsões sobre o turismo feitas a partir de pesquisas, de opiniões de experts e dos novos comportamentos surgidos com a quarentena nos mostram algumas certezas: viajaremos mais de carro, buscaremos estar mais próximos da natureza e fugiremos de aeroportos e de aglomerações. A única certeza que tenho é que “novas regras” estarão presentes em tudo que envolve uma viagem. Viajar não será uma tarefa simples por um bom tempo, mas serão possíveis escapadas não muito longes de casa. Baseando-se nessas análises e acompanhando a volta da vida além da janela aqui em Berlim, listo algumas possibilidades sobre esse retorno.

1. Por terra, mar ou ar?

Viajar de carro será mais comum por um bom tempo. Eu mesma estou focada nisso. O Destination Analyst detectou numa pesquisa que o número de pessoas que pretendem viajar pelos Estados Unidos de carro é maior que o de avião até novembro. Voar está fora de cogitação para muita gente pelas questões que envolvem tanto o aeroporto quanto o voo em si. As road trips se mostram mais atraentes, seguras e causam um sentimento maior de liberdade e controle ao viajante. Cruzeiros estão suspensos e a indústria está revendo diversos protocolos, mas algumas companhias afirmam o retorno em agosto.

2. A volta aos restaurantes

Várias mudanças têm acontecido na reabertura de restaurantes ao redor do mundo: distanciamento entre as mesas; cardápios substituídos por QRCode; pedidos e pagamento por app; staff usando máscaras e luvas. Na Holanda, um restaurante colocou as mesas em “pods”, criando um ambiente mais aconchegante. Restaurantes estrelados, como o Noma, estão repensando temporariamente seus menus em tempo. De acordo com o chef René Redzepi, as pessoas não querem ficar horas dentro de um restaurante depois de sair de uma quarentena. Queremos é uma garrafa de champanhe e pratos para dividir com os amigos.

3. Para onde vão os festivais?

O Coachella e o Lollapalooza Chicago ainda mantém a agenda para o segundo semestre de 2020, mas analisando a possibilidade de cancelarem. A Bienal de Arte de Veneza, o Festival de Cannes, o Glastonbury e o Primavera Sound são alguns que postergaram suas edições para 2021. Já o Festival de Cinema de Veneza, por ora, ocorrerá conforme o planejado, entre os dias 2 e 12 de setembro. O futuro dos festivais é incerto, especialmente para os de grande porte. Será que a saída será usar roupas especiais para frequentá-los enquanto não temos uma vacina?

4. Mais local, menos global

Viagens internacionais serão mais difíceis, caras e burocráticas. Pensaremos duas vezes antes de planejar uma viagem para outro país, especialmente neste momento de incerteza econômica. A tendência é aumento no turismo regional, tanto pela facilidade de locomoção de carro quanto pela alta do dólar e também pela consciência social de estarmos injetando dinheiro na economia local. A pandemia diminuirá a tendência de globalização e urbanização por um bom tempo, aumentando a distância entre países e pessoas. Enquanto não houver uma vacina para o Covid-19, a liberdade de ir e vir estará limitada pelo mundo.

5. A música se juntou ao videogame?

O maior evento de música que tivemos nessa quarentena foi a turnê Astronomical, de Travis Scott, no Fornite. Em três dias com cinco shows, o game reuniu quase 28 milhões de jogadores únicos. O sucesso resultou no modo Party Royale, ou seja, você pode assistir a um show sem precisar carregar uma arma (e correr o risco de morrer antes de o show terminar). O Minecraft permite que seus jogadores construam clubs, produzam shows e festivais, o que tem atraído vários produtores a criar edições de seus eventos dentro do game. A música tem florescido nesse universo futurístico, lúdico e muitas vezes megalomaníaco, sendo possível somente nesse tipo de ambiente.

6. Hotel ou Airbnb?

Hotéis terão vantagens iniciais em relação ao Airbnb devido à sua política de higiene, à de maior flexibilidade no cancelamento e à de seus padrões de distanciamento social. Limpeza e higiene passam ser itens de luxo e ganha a disputa quem garantir excelência nesses quesitos. O Airbnb será a opção para quem viajar para lugares mais remotos e rurais que carecem de redes hoteleiras. A plataforma também está implementando novas regras, como obrigatoriedade de 24 horas de intervalo entre uma hospedagem e outra, além de privilegiar lugares em que ninguém se hospedou nas últimas 72 horas.

7. Conectando-se com a natureza

Após tanto tempo trancados em casa, destinos que permitem maior conexão com a natureza e sejam longe de aglomerações prometem estar no topo das buscas. Brian Chesky, CEO e cofundador do Airbnb, afirmou numa entrevista que as viagens pós-pandemia serão menos urbanas. Já a CNBC sugere que os parques nacionais podem ser os novos spots deste verão no Hemisfério Norte. Ou seja, tudo indica que ecoturismo e o turismo rural estarão em alta pós-pandemia. Estar junto à natureza é bom para a saúde mental, alivia o estresse e causa bem-estar.

8.Nômades digitais

Conversei com a nômade digital Angela Mansim, que está em Bali e de lá não sabe quando sai. Ela me contou que o nômade digital no geral se adequa bem se tiver que ficar parado num lugar mais tempo que o planejado. Há, porém, os nômades digitais que estão em constante movimento. Para esses, o futuro próximo é incerto. Muitos enfrentaram a difícil decisão entre ficar onde estão ou voltar ao seu país de origem. Outros perderam dinheiro por viagens já planejadas e pagas, muitas delas em low cost. Para quem andou sonhando em cair na estrada, esse não será o momento.

9. Luz no fim do túnel para o “overturismo”?

A conscientização sobre as urgências das mudanças climáticas jogou um farol alto no “overturismo”. Isso expôs problemas decorrentes desse excesso em lugares como Barcelona, Veneza, Paris, Amsterdã, Kyoto, Islândia etc., gerando protestos e governos buscando alternativas criativas de como contornar os danos causados às cidades e à natureza pelo excesso de turistas. O prefeito de Amsterdã já reportou sua preocupação. Por enquanto seguimos no “undertourism”.

10. Teremos verão 2020 no Hemisfério Norte?

É uma pergunta que ecoa bastante aqui na Europa com o verão batendo à porta. Com a maioria das fronteiras abrindo entre 15 de junho e julho, há esperança para quem quer se estender na areia. Na França tem praia criando cercadinho com reserva pela internet; o governo local da Sicília, na Itália, lançou um fundo de 75 milhões de euros para subsidiar viagens para ajudar o turismo local; a Espanha dispensará viajantes internacionais da quarentena a partir de 1º de julho; Portugal, Eslovênia, Croácia e Grécia também já anunciaram abertura de suas fronteiras para viajantes internacionais. Agora resta saber se nós, brasileiros, estaremos prontos para viajar.

11. Afinal, como fica a sustentabilidade em meio a tudo isso?

Temos discutido exaustivamente sobre o impacto da desaceleração no planeta, que reduzirá entre 4 e 7% as emissões de carbono no ano de 2020. A consultoria Box1824 publicou um artigo apontando três novos pilares que surgiram neste “novo mundo”: Consumo + Digital + Consciente + Social, tornando o consumidor mais conectado, exigente e solidário. Nessa análise a Box constata a aceleração da tendência do consumo mais consciente, que exclui os excessos e prioriza o essencial. O consumidor atual terá mais atenção à cadeia de produção e de seus impactos socioambientais. O Skift diz que se a crise atual nos ensinou algo, é que a sustentabilidade deve estar no topo da agenda para o turismo prosperar. Será que isso mudará tanto como viajaremos e como a indústria do turismo irá reagir a essa lição?

Este post foi originalmente publicado na Edição #04 da revista do The Summer Hunter. Faça o download gratuito aqui

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