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O feminismo e a volta das calcinhas extra grandes, ultra simples e mega confortáveis

Por
Fabiana Corrêa
Em
23 maio, 2018

Nada de apertos, frufrus, fio dental. Feministas, as novas marcas de lingerie feministas apostam no conforto e em modelagens grandes

Rendinhas, frufrus demais e peças rígidas não fazem parte da lingerie desenhada por Cinthia Santana, de 33 anos, para sua marca, a Gioconda Clothing. As calcinhas que ela cria parecem um pouco mais com aquelas usadas por nossas avós (talvez bisavós) do que as que a gente vê nos anúncios com modelos famosas fazendo biquinho. Conforto e feminismo traduzidos em pequenos pedaços de tecido, 100% algodão. “Eu desenho peças que tenham a ver com o desejo da mulher, não precisam ser sexy”, diz Cinthia. “É como se ela desse um presente e um tempo para si mesma.”

Foto: Divulgação

A Gioconda não está sozinha nesse caminho. Nos últimos anos, várias marcas de lingerie decidiram colocar os homens (ou melhor, a ideia que fazemos do desejo masculino), fora dessa história. Se gostar, beleza, mas o único objetivo é agradar quem veste – ninguém mais. A Marieyat, baseada em Londres, é uma das que tem peças maiores, quase unissex, sem lacinhos. A americana Me and You faz calcinhas enormes com a palavra Feminist ou Hate it here no bumbum. E incentiva suas clientes a tirarem belfies (selfies from behind, ou selfies do traseiro, digamos assim) e postar no Instagram.

A ideia da Gioconda veio quando Cinthia voltava de Londres, onde tinha ido estudar inglês, e queria encontrar algo para fazer. Lembrou de como eram gostosas de usar as calcinhas que a mãe e a tia faziam para ela e as primas, usando tecidos que sobravam dos lençóis que costuravam para a casa. “Elas duravam muito, eram soltinhas. Queria aquela sensação novamente”, diz. Com um bebê no colo, o Tomás, de 2 meses, e uma voz doce e delicada, Cinthia não parece subversiva. Mas sua rebeldia é assim, suave.

Foto: Divulgação

Para mostrar suas peças nas campanhas, a designer não escolheu mulheres com corpos dentro do padrão da publicidade, mas amigas e conhecidas. “Coloquei um anúncio no Garotas no Poder [grupo do Facebook de incentivo ao trabalho e negócios femininos] e choveram meninas para posar para a marca. Fiz alguns ensaios. Foi transformador mostrar os corpos, falar com as garotas sobre isso”, diz. A própria Cinthia também serviu como modelo para mostrar os kimonos, calções e loungewear da marca.

Foto: Divulgação

Não é fácil se mostrar assim, mas é necessário. Militar pela emancipação feminina por meio de uma da máquina de costura, afinal, foi o que determinou os caminhos do negócio que hoje sustenta a estilista. Essa postura ganhou um reforço depois que a marca recebeu uma consultoria de gestão com as garotas do Think Eva, braço da Ong feminista Think Olga. “Foi definitivo para que eu derrubasse aquela ideia que não tinha poder para fazer meu negócio acontecer e para assumir a posição que tenho hoje.”

Peças criadas em conjunto com as meninas do movimento feminista Clube do Bordado | Foto: Divulgação

Como parte de sua estratégia de subversão, Cinthia criou o Manifesto da Preguiça, uma espécie de manual de instruções para vestir suas peças, ou simplesmente para viver melhor. De novo, ela sugere que se vá contra a corrente . O manifesto está ligado ao estilo da marca pois, junto com a vontade de gerir seu próprio negócio, veio o desejo de ter mais tempo livre. “As pessoas acham que não merecem esse tempo próprio. Somos levados a acreditar que temos que batalhar por cada day off”, diz. Para dar um tempo dessa correria como estilo de vida, e não em um “escape de luxo de final de semana”, ela sugere que se repense os padrões de vida – algo que ela mesma já fez. Tanto que hoje pode se dedicar tranquilamente a Tomás e checar as mensagens no Whatsapp uma vez por dia. “Não somos feitos para o trabalho diário e massacrante, que nos tira totalmente a autenticidade e acaba por obstruir tesouros genuínos como a criatividade e a alegria de estar no mundo”.

A estilista Cinthia Santana | Foto: Divulgação
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